Depois de erguer a Taça de Portugal (2005) e a Taça da Liga (2008) enquanto capitão do Vitória FC, Sandro Mendes voltou a celebrar um título — desta vez fora de portas. Aos 48 anos, o ex-médio, que fez carreira no Bonfim e passou também pelo comando dos sadinos, sagrou-se esta época campeão da Liga feminina da Arábia Saudita como treinador-adjunto do Al Nassr, integrando como adjunto a equipa técnica ao lado de Abdulaziz Al-Aouni.
Num ano marcado pelo sucesso desportivo no Médio Oriente, o sadino Sandro Mendes não esquece as suas raízes e deixa em aberto um possível regresso a Portugal. “O regresso a Portugal faz sempre parte dos meus planos, sobretudo pela ligação ao Vitória e à minha terra. Daqui a cinco anos, espero estar envolvido em projectos que me desafiem, seja em Portugal ou no estrangeiro, mas com a porta sempre aberta para voltar ao Vitória, seja em que contexto for”.
Mesmo quando estava a milhares de quilómetros de Setúbal, o técnico continuou a acompanhar atentamente o clube onde se destacou dentro e fora das quatro linhas. “Continuo a acompanhar o Vitória com atenção e preocupação. O clube atravessa um momento muito difícil, com desafios estruturais e financeiros profundos”, disse em declarações a O SETUBALENSE.
O médio, de 48 anos, que há duas décadas ergueu a terceira Taça de Portugal da história dos sadinos no Jamor, depois do êxito (2-1) sobre o Benfica a 29 de Maio de 2005, sublinha a importância de manter o ADN Vitória. “Acredito que, com competência e união, é possível reerguer o clube, mas será um processo longo e exigente. O mais importante é preservar a identidade e a história do Vitória, apostando numa reconstrução sólida e sustentável”.
O Vitória FC sagrou-se campeão da 2.ª divisão distrital da AF Setúbal, garantindo a subida à 1.ª distrital — um feito que Sandro Mendes valoriza, mas encara com realismo. “A subida à 1.ª divisão distrital é um sinal de esperança e um primeiro passo importante. No entanto, é preciso realismo: a recuperação do Vitória será longa”, adverte o atleta formado na ‘cantera’ verde e branca.
Para as coisas correrem da forma que todos os setubalenses desejam, o antigo capitão vinca a necessidade de todos remarem para o mesmo lado. “O sucesso do clube dependerá da capacidade de o estruturar, de atrair pessoas competentes e de manter a identidade. Tenho esperança, mas também consciência de que só com trabalho sério e continuado o Vitória poderá regressar ao lugar que merece”.
Mesmo estando radicado por motivos profissionais na Arábia Saudita durante a temporada que entretanto terminou, o ex-timoneiro dos vitorianos mantém uma ligação emocional forte a Portugal e a Setúbal. “Procuro vir a Portugal sempre que o calendário permite, normalmente nas pausas competitivas. O que mais sinto saudades é da família, dos amigos e do ambiente de Setúbal, da comida portuguesa”, confessa.
Quanto ao futuro imediato, o técnico luso-cabo-verdiano, que admite estar receptivo a abraçar novos desafios como treinador principal, mostra-se disponível para dar seguimento ao seu percurso fora das funções de adjunto. “As expectativas para a próxima época passam por encontrar um projecto sólido e desafiante onde possa dar continuidade ao meu percurso como treinador principal.”
Depois de ter passado pelos vários escalões de formação do clube e vestido a camisola da equipa principal em mais de 300 jogos, Sandro Mendes não esquece o clube do coração. Entre conquistas internacionais e o desejo de voltar a ver o Vitória no lugar que merece, o agora campeão na Arábia Saudita continua a ser um nome incontornável da história recente dos sadinos — e um dos que ainda sonha com o renascimento do emblema do Bonfim.