Rejeição da providência cautelar no TAD confirma trambolhão para o Campeonato de Portugal
Em quase 110 anos de história, ontem foi seguramente o dia mais triste do Vitória Futebol Clube. Mais doloroso que qualquer descida de divisão após uma derrota dentro das quatro linhas, a confirmação de que o clube setubalense, “feito de vontade e glória”, não vai participar nas provas profissionais causou uma dor transversal a todos os que amam Setúbal e o seu Vitória.
Incredulidade e revolta são sentimentos que ao mesmo tempo se misturam com esperança e confiança de que a tormenta irá passar e que o clube, que tem um dos mais ricos palmarés no futebol português, não irá soçobrar. Todos os adeptos que amam o seu Vitória prometem ampará-lo e devolvê-lo ao lugar a que pertence, contrariando a notícia que chegou ontem e deixou a família sadina em estado de choque.
Na manhã do dia 27 de Agosto de 2020, o Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) rejeitou a providência cautelar dos sadinos, como avançaram logo pela manhã os vários diários desportivos nacionais, sendo pouco depois confirmado pelo clube. “O Vitória vem por este meio informar que foi notificado sobre a decisão do Tribunal Arbitral do Desporto (TAD) de rejeitar a providência cautelar”, resultando daí a queda do clube para o Campeonato de Portugal.
Recorde-se que a Liga (LPFP) tinha chumbado o licenciamento dos sadinos para as competições profissionais, decisão que o Vitória continua a contestar.
O Vitória lamenta que “a providência cautelar não haja sido decretada” e entende que a decisão do TAD “não somente é injusta com não se pronuncia sobre matéria fundamental referente à própria validade do Manual de Procedimento, bastando-se por uma análise superficial das razões invocadas pelo Vitória”.
A tomada de posição foi reforçada ao início da tarde pelo presidente Paulo Gomes que, em conferência de imprensa, anunciou medidas excepcionais. “Vou neste momento abrir o estado de emergência dentro do clube e percebermos como é que vamos trabalhar para que o clube fique solvente e possa funcionar. São decisões difíceis. hoje [ontem] falei com o plantel e amanhã [esta sexta-feira] falarei com os jogadores [individualmente]. A seu tempo as decisões irão sair e o Vitória, por muito que muita gente queira, não vai acabar, de certeza”.
O presidente do Vitória realçou que a rejeição da providência cautelar não significa que a razão não esteja do lado dos sadinos. “Em primeiro lugar, este processo não está decidido. Foi decidido que não poderíamos suspender o campeonato, porque a providência cautelar não foi aprovada. O processo vai continuar. O campeonato vai arrancar e nós vamos no TAD defender as nossas posições. É aqui que está a nossa base”.
Questionado sobre a forma como vai preparar a equipa para o Campeonato de Portugal, Paulo Gomes, que mantém a esperança num desfecho célere e favorável, reconhece que a tarefa não será fácil. “Esperamos que a decisão final do TAD seja conhecida antes de o campeonato se iniciar. Vamos fazer tudo por tudo para criar uma janela, mesmo com as dificuldades que possamos ter até lá chegar. Temos a noção que a preparação da equipa alterou-se consideravelmente depois de uma decisão destas. Por isso, hoje [ontem], mandei reunir toda a estrutura para percebermos que caminhos vamos tomar”.
Apesar dos efeitos nefastos que a decisão tem na vida do Vitória, o dirigente promete não desistir de lutar em prol do emblema, cuja direcção assumiu em Janeiro de 2020. “Os sócios vão unir-se e vamos, com certeza, dobrar o número de sócios e mostrar a força deste clube e desta cidade. O presidente que aqui está apanhou a pior situação que poderia da sua vida. Nunca imaginei estar aqui neste dia. Não estou agarrado a este lugar, vou estar sempre na linha da frente para ajudar no que for preciso para que o Vitória continue a ser aquilo que é. Contem comigo para estar na primeira linha a trabalhar nesse sentido”.
Ex-director financeiro processa Paulo Gomes
Carlos Sousa, ex-director financeiro do Vitória, anunciou em comunicado que vai iniciar um procedimento criminal contra o presidente Paulo Gomes. Em causa está o facto de o líder dos sadinos ter mencionado o nome de Carlos Sousa como sendo o funcionário, cujo alegado incumprimento é um dos pontos apontados para impedir o licenciamento do clube. “Por na conferência de imprensa o Sr. Paulo Gomes se ter referido ao meu nome e ter-me imputado a prática de factos falsos e difamatórios do meu bom nome e honra pessoal, comunico que irei iniciar o respectivo Carlos Sousa Ex-director financeiro processa Paulo Gomes procedimento criminal contra o referido senhor. E acrescenta: “Mais informo que, em relação ao incumprimento do critério de inexistência de dívidas a jogadores, treinadores e funcionários, só por incompetência ou negligência grosseira é que a VFC-SAD não cumpriu o respectivo critério. (Sendo facto público que, além da dívida que têm para comigo, existiram outras dívidas recentes que também impediram o cumprimento desse critério), refere o comunicado assinado por Carlos Sousa a que O SETUBALENSE teve acesso.