João Teles, avançado, de 25 anos, do Grupo Desportivo dos Pescadores da Costa de Caparica, foi recentemente protagonista de um feito deveras notável, marcou quatro golos na vitória da sua equipa sobre o Seixal em jogo a contar para a última jornada da fase de grupos da Taça AF Setúbal.
Alguns dias depois do acontecimento “O SETUBALENSE” falou com o jogador para ficar a saber o que isso representou para si e aproveitou para falar também de outros assuntos, nomeadamente a razão porque nunca envergou outra camisola, os fracos resultados obtidos na taça e as perspetivas para o campeonato que começou no passado domingo.
Com que sentimento fica um jogador quando marca quatro golos num só jogo?
Apesar do póquer ser algo notório a nível pessoal, não deixa de ficar um certo sentimento amargo. É difícil sentir somente satisfação quando, no final, fomos eliminados da taça. É um misto de realização pessoal por ter vivido um jogo para mais tarde relembrar, com alguma desilusão dado que o objetivo maior, que era continuar na competição, não foi alcançado.
Já alguma vez tinhas feito um póquer na tua carreira de jogador?
Em futebol 11 foi a primeira vez, a única outra vez tinha sido há muitos anos atrás, quando ainda jogava futebol 7 nas camadas jovens.
Tu, és um homem da casa porque jogas nos Pescadores desde a época de 2007/2008 e nunca envergaste outra camisola. Pelos vistos sentes-te bem na Costa de Caparica…
É verdade! É o clube da minha terra, pelo qual tenho o máximo de carinho. O Costa significa muito para mim e para a minha família, a história começou muito antes de mim quando o meu tio Tucas, o meu ídolo a nível futebolístico, foi também jogador e capitão dos seniores. Pessoalmente, foi há cerca de 17 ou 18 anos que entrei no campo dos Pescadores pela primeira vez, de mão dada com o meu avô, que me entregou ao então treinador das escolinhas. Tão pequeninos éramos que fazíamos jogos com duas balizas nas pontas da grande área, e mesmo assim o campo parecia interminável. Podia estar aqui horas a escrever como tanto mudou, mas pelo contrário. Passados tantos anos e todos os escalões de formação, a forma como fui tratado e acarinhado por tantas pessoas com quem convivi não mudou. Tantos colegas, tantos treinadores, tantos dirigentes pelo caminho e todos tiveram um apreço especial por mim. Posto isto, fica fácil sentir-me bem num clube com uma filosofia com a qual me identifico, com uma equipa sénior composta primeiramente por bons homens, e somente depois por excelentes jogadores e treinadores. É um orgulho enorme poder dizer que sou Costa, desde pequenino, e nunca ter sentido a necessidade de mudança, desde as escolinhas, até envergar a braçadeira de capitão nos seniores.
Esta época não começou muito bem para os Pescadores porque os resultados na taça não foram os melhores. Houve alguma razão especial para que isso tenha acontecido?
O insucesso pode estar associado a dois ou três fatores mais específicos. O facto do sorteio nos ter inserido num grupo com um nível bastante elevado, aliado a uma pré-época mais tardia, e ainda a algumas limitações pessoais no plantel em certos jogos, podem explicar de certa forma a nossa campanha mais curta na taça. É algo que reconhecemos como uma desilusão internamente, e que usaremos como motivação para chegarmos mais fortes ao campeonato.
E as perspetivas para o campeonato, quais são?
Diria que, tal como tem sido habitual desde que o Costa tomou um novo rumo há cerca de 8 anos atrás, a perspetiva é, mais uma vez, de crescimento e superação. Neste sentido, vemos pela frente um grande desafio em tentar superar a prestação do ano passado, em que claramente demos um passo em frente a todos os níveis. Adicionalmente, estamos cientes de que o nível das restantes equipas será bastante elevado, com várias clubes a voltarem a patamares mais competitivos. No entanto, não posso deixar de estar seguro da nossa competência. Temos dentro do clube tudo o que é necessário para sermos tão ou mais felizes que no ano passado.
Há algo mais que queiras dizer?
Diria que, na nossa realidade, onde tantas vezes o futebol é algo secundário face a uma vida profissional e familiar mais exigente, nunca se sabe bem quando será o último ano, o último treino, o último jogo. No entanto, tenho a certeza de que seja qual for o desfecho, o meu caminho foi sempre traçado por momentos felizes e pessoas que guardarei para sempre comigo. Por tudo isto, serei eternamente grato. Para quem me conhece, o que se segue não será surpresa, mas gostava de, antes de finalizar, deixar um agradecimento especial a uma pessoa que ainda mais especial é para mim: o meu querido avô. Se dissesse que falhou 10 dos 1000 jogos da minha carreira, estaria a exagerar. Por tudo, um enorme obrigado de coração. Por fim, agradecer o convite para esta entrevista.