Numa das Assembleias Gerais mais concorridas de sempre, quase 700 associados do Vitória marcaram na noite de sexta-feira presença na sessão extraordinária em que se debateu o delicado momento vivido pelo emblema setubalense. A não aprovação do Plano Especial de Revitalização (PER) e o facto da inscrição da equipa de futebol da VFC SAD, na Liga 3, estar em risco, foram os temas abordados, bem como os cenários que estão em cima da mesa. A prioridade é salvar o clube, quanto à SAD a missão avizinha-se mais complicada.
No final da sessão, que teve cerca de três horas de duração no Pavilhão Antoine Velge, coube a David Leonardo, presidente da Mesa da Assembleia Geral (MAG), partilhar as informações que foram transmitidas aos sócios. “Temos o plano A, que é o que sempre defendemos: a salvação do clube e da SAD no âmbito dos PER (Plano Especial de Revitalização) e também com a inscrição da equipa na Liga 3, campeonato a que ascendeu por direito”, começou por dizer.
No entanto, o dirigente não escondeu que se tal não for possível, os vitorianos não irão nunca preterir do clube. “Se não conseguirmos concretizar essa pretensão de salvar clube e SAD, vamos ter de adoptar estratégias. Desde logo passará sempre, de forma inquestionável, pela salvação do clube. Temos a segurança de que essa será conseguida”, disse, mostrando-se optimista na assembleia de credores do clube que se realiza no próximo dia 25.
“Costuma-se dizer que até ao lavar dos cestos é vindima, mas estamos mesmo convencidos de que a aprovação por parte dos credores do clube será uma realidade. É o ‘feedback’ que temos”, disse, referindo que a assembleia de credores da SAD (dia 24) é mais complexa. “Em relação à SAD está ainda a ser negociado. Os contornos são um bocadinho mais exigentes não só no que concerne à aprovação do plano, mas também em relação à sua execução”.
E acrescenta: “Portanto, a própria viabilidade do plano da SAD é extraordinariamente mais difícil do que do clube. O valor (cerca de 53 milhões de euros entre clube e SAD) é diferente e a SAD (quase 30 milhões) está totalmente dependente do nosso investidor, enquanto no clube (24 milhões de euros) temos alguma receita, designadamente a quotização (400 a 500 mil euros por ano). A SAD não tem qualquer receita porque não há transmissões televisivas e as que tem não são pagas. Comparativamente com os custos que a SAD representa, as receitas são insignificantes”.
Confrontado com um cenário em que a FPF ‘chumba’ o licenciamento do Vitória na Liga 3 e os credores da SAD não aprovam o PER na assembleia de credores de 25 de Junho (mesmo sendo aprovado o PER do clube), David Leonardo é peremptório quando questionado pelas consequências que haverá na equipa principal de futebol. “Se isso acontecer a equipa principal de futebol terá de começar na 2.ª Divisão Distrital”.
Sobre a reacção dos associados a essa informação, o líder da MAG refere que o sentimento é transversal a todos os associados. “Como é natural, tal como os elementos dos órgãos sociais, todos irão sentir alguma frustração se isso vier a acontecer. Não conseguimos dar a volta porque a equipa que está inscrita é da SAD, tal como a equipa B. Num cenário de queda da SAD automaticamente essas duas deixam de poder competir”.
O dirigente explicou quais as equipas de futebol que serão afectadas em caso de insolvência da SAD. “O futebol feminino não está em risco. Por uma questão de pagamentos tem a gestão da SAD, mas a inscrição é do clube. Todas as que estão abaixo dos sub-16 também não estão em risco. O que está sob alçada da SAD são os sub-16, 17, 18 e 19, equipa B e seniores (principal). Ou seja, se a SAD cair, teremos obrigatoriamente de ter uma equipa do clube que só poderá se inscrita na última divisão possível: a 2.ª do distrital da AFS”.
David Leonardo fez questão de agradecer e sublinhar a adesão dos sócios à sessão. “Foi uma AG em que se discutiu de uma forma extraordinária. Tenho ideia de este ter sido uma das assembleias mais concorridas de sempre com 633 sócios. O número que é sintomático do amor e carinho que os sócios têm pelo clube e, ao mesmo tempo, pela preocupação pelo momento actual. Essa preocupação é partilhada pela direcção que tem sentido algumas dificuldades que decorrem de factores externos”, admitiu.
O presidente da MAG frisou que “mais do que uma assembleia deliberativa, foi uma sessão em que se apresentou aos sócios os cenários possíveis tendo em conta os últimos desenvolvimentos” na vida do clube. “Em primeiro lugar com a não aprovação dos PER (Plano Especial de Revitalização) da SAD e do clube e, depois, com a recusa que houve da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) na inscrição na Liga 3, processo em que ainda está a decorrer um recurso”.
Sobre o resultado do recurso apresentado ao Conselho de Justiça da FPF, o líder da MAG refere que só depois de ser conhecido o resultado do mesmo os sócios serão chamados a opinar sobre as medidas a adoptar. “Estamos a aguardar uma decisão. Tendo em conta que essas situações ainda não estão definidas: vamos ainda ter a votação dos credores nos planos de recuperação e a decisão do recurso que apresentámos em relação à decisão da FPF, hoje (sexta-feira) não podíamos tomar decisões nenhumas”.