Capitão Vasco Fernandes, que já atingiu a marca dos 100 jogos pelo Vitória, revela ambição de evitar sofrimento na próxima época
O capitão Vasco Fernandes, que foi na quarta-feira distinguido com o prémio Fair-play do jornal O Setubalense- Diário da Região, avança em 2019/20 para a sua quarta temporada ao serviço do Vitória FC. Na hora de perspetivar o futuro, o defesa, de 32 anos, tem como objectivo alcançar a permanência mais cedo, impedindo que os adeptos sofram tanto como aconteceu dos dois anos anteriores. O jogador, que já leva 100 partidas oficiais ao serviço dos sadinos, revela ainda o sonho de ser treinador de futebol.
Soma 100 jogos pelo Vitória FC em três épocas. Esta foi mais difícil que as anteriores?
Sim. As dificuldades este ano foram diferentes. Tivemos problemas humanos como foi o caso do Nuno Pinto e isso dificultou mais o nosso trabalho porque temos de ultrapassar muitos obstáculos, tanto psicológicos como físicos. Tivemos também uma mudança de treinador a meio da época e esse aspectos tornaram as coisas mais difíceis do que nos dois anos anteriores. Esse facto dá mais mérito ao que foi feito e à permanência na I Liga.
Nos dois anos anteriores, a permanência só foi atingida na última e penúltima jornada do campeonato. Espera menos sofrimento no próximo ano?
É sempre esse o objectivo. Quando se começa uma época pensa-se sempre em sofrer pouco e que as coisas saiam bem, mas não é fácil. Competimos contra adversários fortes, com orçamentos superiores e outras condições. Temos de lutar com as nossas armas para tentar vencer. Realço o apoio das nossas famílias, mulheres e filhos que estiveram sempre ao nosso lado nos momentos mais complicados. Deram-nos alento e força nas dificuldades. Espero que na próxima época sejamos mais regulares e não tão inconstantes como nesta. Começámos muito bem, mas tivemos 17 jogos sem vencer, conseguindo a manutenção quase no final. Queremos ser mais regulares e dar alegrias aos vitorianos.
Alinhou os 90 minutos em 33 das 34 jornadas do campeonato. Fica alguma frustração por não ter sido totalista?
Não. Penso sempre mais no aspeto colectivo. Tive a felicidade de este ano ter a época mais regular da minha carreira. Fui mais constante, tive melhores exibições e consegui completar um ciclo de jogos muito longo. No fim de contas, o importante foi que esta instituição centenária e histórica consiga estar entre os grandes do futebol português, que é o seu lugar e onde merece estar.
Qual foi o melhor e pior momento da época?
Sem dúvida que o pior foi a notícia que recebemos do Nuno Pinto [jogador foi diagnosticado com linfoma em Dezembro de 2018]. Foi muito complicado a nível de grupo e pessoal. Jogávamos quase de olhos fechados há três anos. O positivo foi termos conseguido, com o esforço e crença de todos, darmos-lhe o prémio que ele merecia. Com a manutenção conseguida em Chaves, conseguimos que ele estivesse presente no último jogo. Era nosso objetivo dar essa oportunidade a este lutador e guerreiro.
«Tenho a ambição de ser treinador»
É reconhecido pelos seus pares como um líder dentro e fora do campo. Os seus planos passam no futuro por liderar como treinador?
Quando se aproxima o final da carreira temos de reflectir e pensar no que é melhor para nós e para a nossa família. O bichinho de treinar despertou demasiado cedo em mim. Aos 25 anos quis ter um maior conhecimento do jogo, ajudar o meu companheiro e perceber que somos 25 jogadores de nacionalidades e educações diferentes. Chegou o momento em que percebi que tinha isso dentro de mim. A missão do treinador é muito difícil porque tem de liderar não apenas pelas palavras mas também pelos actos e com isso gerir egos e personalidades totalmente diferentes. Ainda me faltam alguns anos para terminar a carreira, mas quando surgir o momento oportuno pensarei mais concretamente nisso. Está no meu horizonte treinar e expor as minhas ideias acerca do futebol. Espero ter a capacidade para expressar tudo o que levo dentro. É muito difícil e um papel complicado.
Qual o ponto da situação em relação ao curso de treinador?
Estou a terminar o estágio do nível 1 e vou começar para o ano o segundo nível. Não vou esconder: tenho a ambição de ser treinador. Sei que é uma missão complicada.
Identifica-se com algum treinador?
Tive a felicidade de jogar em cinco países diferentes em que a forma de ver o futebol e as culturas são completamente diferentes. Tive a sorte de encontrar grandes treinadores ao longo do meu percurso. Aprendi um pouco com todos, tanto de bom como de mau. Crescemos muito com os aspectos negativos. Tenho treinadores com quem aprendi muito, outros nem tanto. Muitas vezes, com as experiências negativas aprende-se mais do que com as positivas.
Aos 32 anos, já pensa no final da sua carreira?
Depende muito das sensações que tenha em cada momento. Nesta altura sinto-me bem e não me passa pela cabeça. Em 16 anos como profissional tive a agora, aos 32 anos, a época mais regular da minha carreira. Não imagino o final já.