O Auditório Municipal Charlot, em Setúbal, é hoje, pelas 9 horas, palco da assembleia de credores da SAD do Vitória. Amanhã, no mesmo local e à mesma hora, será a vez de os credores do clube se pronunciarem. Ambas as reuniões serão públicas e revestem-se de enorme importância, uma vez que vão ser decisivas para o futuro e sobrevivência do clube e da SAD.
Recorde-se que a insolvência do clube e da SAD foi declarada a 2 de Maio, pelo Juízo de Comércio do Tribunal de Setúbal e a decisão foi publicada no portal CITIUS no dia seguinte. A decisão judicial decorre de terem sido recusados, pelos credores, os Planos Especiais de Revitalização (PER) que tanto o clube como a SAD tinham apresentado, no final do ano, para substituir os que estavam em vigor.
Apesar da esperança em reverter a situação por parte da direcção presidida por Carlos Silva desde 2020, ano em que o clube foi administrativamente relegado da I Liga ao terceiro escalão por incumprimento dos pressupostos financeiros exigidos, a declaração de insolvência tornou- -se inevitável depois do mais recente PER (Plano Especial de Revitalização) ter sido votado desfavoravelmente pela Autoridade Tributária (AT) e Parvalorem, dois dos maiores credores dos vitorianos.
Tal como O SETUBALENSE escreveu na ocasião em que deu a notícia em primeira-mão, a insolvência tornou-se inevitável depois de a AT e a sociedade criada pelo Estado para recuperação de créditos e alienação/liquidação de activos do antigo Banco Português de Negócios (BPN) chumbarem a proposta apresentada e deitararem por terra o PER apresentado no final do ano passado.
Esperança na viabilização
As assembleias de credores da SAD e do clube, que se realizam hoje e amanhã, respectivamente, vão ser decisivas, uma vez que, no pior dos cenários, os mais de 200 credores podem declinar o acordo de pagamento e avançar para a liquidação dos montantes em dívida, que representariam a falência do Vitória.
Do lado do Vitória, que tem a licença de participação nas competições da Federação Portuguesa de Futebol (FPF) “pendente da decisão da Comissão de Recurso”, há a esperança de que os planos de recuperação vão ser viabilizados, evitando, mais uma vez, a morte do emblema fundado a 20 de Novembro de 1910.
Na Assembleia Geral de 14 de Junho, em que estiveram presentes quase 700 sócios, o líder da MAG, David Leonardo, falou sem rodeios do momento actual e das assembleias de credores. “Temos o plano A, que é o que sempre defendemos: a salvação do clube e da SAD no âmbito dos PER e também com a inscrição da equipa na Liga 3, campeonato a que ascendeu por direito”.
No entanto, o dirigente não escondeu nas declarações prestadas no final da AG extraordinária que se tal não for possível, os vitorianos não irão nunca preterir do clube. “Se não conseguirmos concretizar essa pretensão de salvar clube e SAD, vamos ter de adoptar estratégias. Desde logo passará sempre, de forma inquestionável, pela salvação do clube. Temos a segurança de que essa será conseguida”, disse, mostrando-se optimista na assembleia de credores do clube que se realiza terça-feira.
“Costuma-se dizer que até ao lavar dos cestos é vindima, mas estamos mesmo convencidos de que a aprovação por parte dos credores do clube será uma realidade. É o ‘feedback’ que temos”, disse David Leonardo, referindo que a assembleia de credores da SAD, que se realiza hoje, é mais complexa. “Em relação à SAD está ainda a ser negociado os contornos são um bocadinho mais exigentes não só no que concerne à aprovação do plano, mas também em relação à sua execução”.
E acrescentou: “Portanto, a própria viabilidade do plano da SAD é extraordinariamente mais difícil do que o do clube. O valor (cerca de 53 milhões de euros entre clube e SAD) é diferente e a SAD (quase 30 milhões) está totalmente dependente do nosso investidor, enquanto no clube (24 milhões de euros) temos alguma receita, designadamente a quotização (400 a 500 mil euros por ano). A SAD não tem qualquer receita porque não há transmissões televisivas e as que tem não são pagas. Comparativamente com os custos que a SAD representa, as receitas são insignificantes”.
Também Carlos Silva, presidente do Vitória desde Dezembro de 2020, já se tinha há um par de semanas pronunciado sobre as assembleias desta semana e sobre os possíveis desfechos das mesmas. “Já encetámos contactos e foram bastante positivos. Não há 100% de garantia porque no passado já tivemos exemplos de decisões que mudam em 10 minutos. Os indicadores que temos tido levam-nos a acreditar que o plano de recuperação possa ser aprovado”.