Paulo Catarino, ex-técnico do Comércio Indústria considera que o seu contributo estava esgotado e que a sua vida é mais importante que ser treinador de futebol.
A saída de Paulo Catarino do comando técnico da equipa alvinegra, que está a realizar um excelente campeonato, causou alguma surpresa na opinião pública.
Com o objectivo de esclarecer o que de facto se passou, O SETUBALENSE convidou o ex-treinador da equipa sadina a falar sobre o assunto.
Quer explicar porque deixou o comando técnico do Comércio Indústria?
A minha saída não tem nada de misterioso porque nunca fui o treinador principal, apenas fazia parte de uma equipa técnica de 5 ou 6 elementos. Como tal, e para que fique esclarecido na opinião pública, nada do grande trabalho que o Comércio tem feito é da minha responsabilidade. A metodologia de treino e a ideia de jogo é tudo fruto da grande competência da pessoa que é o responsável máximo da equipa técnica, mesmo que o seu nome não conste na ficha de jogo. A minha saída acontece porque senti que o pouco contributo que dei estava esgotado e na minha vida tudo é mais importante que ser treinador de futebol. Algumas preocupações a nível de saúde também contribuíram para a minha decisão, assim como o facto de ser treinador amador e ter que pensar em outros caminhos que não o futebol.
Considera positiva a sua passagem pelo clube?
Sim, considero. O Comércio Indústria é um clube de que gosto muito e tem pessoas fantásticas. Por isso, aproveito para agradecer a todos com quem convivi diariamente pela forma como sempre me trataram, desde os elementos da equipa técnica que estiveram e saíram; Jorge Arruda e Bruno, e até os que estão, Laurentino, Daniel, Caneco e Rijo, passando pelos directores António, Valdo e Cancela, o João do corpo clínico, o grande Zé sempre disponível para tudo, a Susana da rouparia, até ao presidente Vítor Augusto e ao grande Tavira por tudo o que tem feito no clube. Um agradecimento especial à pessoa que me convidou para o acompanhar, ele sabe quem é. E também aos jogadores que são miúdos extraordinários carregados de qualidade humana e futebolística.
O campeonato está a entrar na fase derradeira. É da opinião que tudo se vai decidir entre Comércio e Barreirense porque o Olímpico já está longe?
À partida já se antevia uma luta entre os três da frente. O Barreirense tem uma excelente equipa técnica, um orçamento para ter os excelentes jogadores que tem. O Montijo igual, e o Comércio já com dois ou três anos a ficar no top 3 que precisou de alguns retoques no início da época para poder estar onde está hoje. Mas existem muitas outras equipas no campeonato com excelentes jogadores e equipas técnicas que trabalham bem e por isso cada jogo é muito difícil de ganhar. Penso que será uma luta a três, há duas semanas atrás o Comércio estava a oito pontos e hoje está a depender apenas de si próprio. Este pode ser o ano do Comércio e seria muito justo porque sei o que esta equipa trabalha todos os dias, sei o carácter que todos eles têm, sei o sonho que todos carregam e como tal eles e a equipa técnica actual merecem sem dúvida tudo o que de bom acontecer.
Depois de ter sido adjunto no Torreense, Oriental Dragon e Amora, teve agora no Comércio Indústria a sua primeira experiência como treinador principal. É nesta situação que pretende continuar no futebol?
Foram experiências fantásticas em todos eles. No Torreense, três anos com o mister Rui Narciso, trabalhei com atletas como o Eustáquio e o Esgaio entre outros que hoje estão em patamares mais elevados. No Oriental Dragon, sob a liderança do mister Edmundo construímos um excelente grupo que não deu a mínima chance aos adversários de discutir a subida connosco. E no Amora com o mister Sandro Mendes foi feito um trabalho enorme em que falhámos a fase de subida no pormenor mas onde os adversários muitas vezes reconheceram que o Amora era a equipa que melhor jogava. Como já referi não era o treinador principal do Comércio Indústria e, muito sinceramente, não tenho essa ambição, porque sei bem que a minha forma de estar no futebol tem pouco ou nada a ver com a generalidade das pessoas que hoje andam por lá. Eu já referi muitas vezes que não mudo a minha forma de estar no futebol por nada, nem ninguém. Se não couber no futebol da forma que sou, prefiro nem fazer parte dele. O futebol não é vida ou morte é apenas um jogo que tem três resultados possíveis pelos quais podes lutar em todos eles. Não procuro ser o melhor treinador do mundo, mas sim a melhor pessoa do mundo, isso sim vale a pena e faz-me feliz.
Há algo mais que queira acrescentar?
Deixar apenas mais uma palavra aos atletas, a todos eles. Acreditem em vocês como acreditaram sempre, nunca ponham em causa o vosso valor enquanto atletas e homens e continuem a treinar da forma fantástica como o fazem todos os dias, vão falhar muitas vezes mas vão acertar muitas mais e no final fazem-se as contas. Obrigado pelo respeito e pelo carinho que sempre tiverem comigo. Serei o primeiro a ficar felicíssimo se atingirem o vosso objectivo e serei o primeiro a dar-vos um abraço se por acaso o objectivo não for conseguido.