25 Abril 2024, Quinta-feira
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“Estou no Vitória sem ganhar um cêntimo e não tenho nenhum salário da SAD”

Carlos Silva, presidente do Vitória, que se recandidata-se nas eleições marcadas para domingo, lamenta os ataques pessoais que lhe têm sido dirigidos e não esconde o orgulho de poder “olhar nos olhos das pessoas e poder entrar no Bonfim de cabeça erguida” por liderar um clube cumpridor

 

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Carlos Silva é presidente da direcção do emblema sadino desde Dezembro de 2020.  Desde aí, referiu na entrevista de sexta-feira à Popular FM/O SETUBALENSE, muitas têm sido as mentiras que têm sido ditas sobre si, entre elas a de que é remunerado no Vitória. O jurista está convicto de que o clube conseguirá a permanência na Liga 3: “Nem me passa pela cabeça outra coisa. Para mim, o Vitória é a equipa mais forte do nosso grupo mesmo partindo com atraso na pontuação”.

Que balanço faz do mandato que iniciou em Dezembro de 2020?

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Foi difícil. Não é fácil assumir um clube com esta dimensão, com um passado como o Vitória tem, porque não se conseguem resolver os problemas em dois anos. Em 2020, quando fui candidato, tomei uma decisão muito difícil. Para toda a gente, o Vitória estava morto, não tinha salvação. Naquele momento apenas me vinha à ideia, nos meus 54 anos de sócio, de toda a história que se iria perder. Não podia permitir que isso acontecesse sem lutar. A grande maioria das pessoas na cidade de Setúbal dizia que o Vitória já tinha morrido. Nessa altura respondi com o coração e não com a razão, por isso, pensei que tinha de lutar pelo meu clube, pelo clube da cidade, pelo Vitória Futebol Clube. Foi isso que me fez avançar e fi-lo contra tudo e contra todos. Este ano o Vitória vai fazer 113 anos de história, manteve-se e continua vivo. Estamos cá! O balanço é muito positivo porque o Vitória continua vivo, está a pagar e é um clube credível em que as empresas acreditam. Não foi fácil encarar uma dívida de tantos milhões como tive de fazer, pondo em causa, inclusivamente, a minha vida pessoal. Foi o Vitória que me fez avançar. Às vezes penso que não mereço muitas das coisas que se dizem. É inaceitável que se façam ataques a nível pessoal e familiar. Fui para o Vitória sem querer nada em troca.

Que ataques são esses?

Este período eleitoral tem servido para um ataque pessoal a mim e à minha família. É lastimável que isso aconteça. Vou deixar aqui bem claro que sou licenciado em Direito e tenho uma pós-graduação em Direito do Desporto. O facto de ter uma licenciatura não faz de mim mais nem menos vitoriano do que ninguém. O Vitória não tem necessidade de ter uma pessoa licenciada à frente do clube, mas o que está em causa é a minha honra e dignidade. A segunda situação que gostaria de esclarecer é que estou no Vitória sem ganhar um cêntimo e não tenho nenhum salário da SAD, como algumas pessoas dizem.

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Qual a maior dificuldade com que se deparou?

As dificuldades financeiras. Quando entrámos, a maior dificuldade foi conseguir as certidões de não dívida para inscrever a equipa. Isto para não falar nos salários em atraso, tanto dos funcionários como dos jogadores, e das dívidas a muitos credores. Era uma situação muito difícil de contornar. Não foi fácil chegar junto das pessoas e dizer-lhes que naquele momento não tínhamos nada para lhes dar, mas trabalho para oferecer. Comprometemo-nos a regularizar a situação num curto espaço de tempo e fizemo-lo. Demos a cara, estivemos ao lado deles para conseguir salvar o Vitória. Hoje, os funcionários e os jogadores do Vitória têm os salários em dia. Temos momentos difíceis porque a quotização do clube não é suficiente para fazer face às despesas do dia-a-dia. Todos os dias temos que lutar e procurar soluções, que vamos encontrando.

Consegue eleger o melhor momento que viveu neste período?

A alegria de saber que estamos a representar um clube em que podemos olhar nos olhos das pessoas e podemos entrar no Bonfim de cabeça erguida. A relação humana é muito importante e esses momentos são vividos de forma única. Claro que podíamos estar todos mais alegres se estivéssemos melhor no futebol. Estamos a lutar afincadamente para dar um outro caminho ao Vitória.

A nível desportivo, o clube não conseguiu terminar a 1.ª fase nos primeiros quatro lugares da Liga 3. Que explicações encontra para o fracasso desta época da equipa de futebol?

No futebol, que não é uma ciência exacta, é sempre difícil encontrar explicações. Depois da pré-época e do jogo de apresentação, toda a gente dizia que tínhamos uma equipa extraordinária. Infelizmente, o primeiro jogo oficial foi terrível [derrota 4-0 com U. Leiria] e a equipa nunca mais se encontrou. Teve momentos bons e maus em que faltou, algumas vezes, a pontinha de sorte que pode fazer a diferença em tudo na vida. Nos últimos jogos, à excepção do último [derrota 2-0 com Amora], o Vitória já esteve muito melhor. O futebol é isto: um dia somos muito bons e no outro somos muito maus. Na minha opinião, o Vitória tem uma boa equipa e os resultados não traduzem o seu valor.

Pelo que foi feito desde 2020 considera que já se garantiu o futuro do Vitória?

Na altura disse que precisava de seis meses, que era o tempo que tínhamos para poder inscrever a equipa. Se isso não acontecesse o Vitória não teria futuro. Sem a mais-valia, que tem o nome de Hugo Pinto, o Vitória não estaria hoje na posição de tranquilidade em que está. Não é total porque ainda há uma caminhada muito longa pela frente e muitos anos para regularizar o PER. As pessoas precisam de saber que, apesar de estar vivo, o Vitória tem ainda um longo caminho pela frente. Falamos de praticamente 10 anos porque enquanto não estiverem regularizados terá sempre esta dificuldade. O pagamento das mensalidades vai encurtando o tempo para o Vitória poder respirar totalmente. Se não tivéssemos arranjado esta pessoa, que foi o salvador do Vitória e que nos permitiu estar aqui hoje, não teria sido possível.

Quando foi eleito pediu “tempo” aos sócios do Vitória. Sente que já teve o suficiente para equilibrar o clube de modo a no próximo mandato, caso seja eleito, conseguir liderá-lo de forma mais estável?

O clube neste momento está estável. O Vitória precisa de estabilidade interna e o problema é que há pessoas que não a procuram. Sempre apelei à união. Se isso não acontecer existirão sempre entraves, que não devem existir. Se somos todos vitorianos, devemos procurar lutar para o mesmo lado. Infelizmente, há pessoas que todos os dias desestabilizam e isso não é bom para o Vitória. Não me prejudicam a mim, mas o nosso clube.

Sente que conseguiu unir os adeptos?

Na generalidade, penso que consegui essa união. O Vitória não procura o confronto nas redes sociais porque não é benéfica, desestabiliza. As redes sociais alimentam-se da mentira e não da verdade. Vou continuar a manter um discurso de calma e sem confronto na busca de paz para o Vitória, sem alimentar polémicas.

O que o levou a avançar com a recandidatura?

É desgastante e em determinado momento pensei não fazê-lo porque seria altura de dar a oportunidade a outras pessoas, que já antes tinham tido a hipótese de o fazer, mas não apareceram para salvar o clube. Fui eu que apareci porque tenho dois compromissos enormes: o primeiro é o Vitória e o segundo é para com o Hugo Pinto, que salvou o clube. Foi comigo que veio para o Vitória. Houve entre mim e o Hugo Pinto uma empatia e ainda não é o momento de me afastar dele. Pelo que fez pelo Vitória, o investido merece que eu faça mais este sacrifício por ele e pelo Vitória.

A lista que encabeça tem algumas alterações. Como a caracteriza?

A lista anterior foi criada num contexto diferente, de consenso, durante a pandemia. Em um mês conseguimos formá-la. Conhecia algumas das pessoas apenas de vista e isso não é o suficiente para termos a noção de que a mesma vai corresponder. Chegámos agora ao fim e pensámos que havia mais qualquer coisa que tinha de ser feita. Fizemos os possíveis a acabámos por fazer um bom trabalho, apesar das várias contingências. A lista agora formada é pensada e dá-me a garantia de um trabalho mais válido e mais forte do que a lista anterior.

Na lista anterior prometeu trabalho e dar sempre o melhor para ajudar o Vitória. O que pode prometer com a nova equipa?

Vou prometer a mesma coisa: trabalho porque sem ele não se conseguem objectivos. No Vitória nunca irá faltar trabalho e vou procurar que seja mais profundo com esta lista. Vou procurar que traga mais-valias.

Sente que a sua candidatura sai reforçada por contar com o investidor da SAD, Hugo Pinto, na lista?

Sim. Não há dúvida que a lista é reforçada por ter o investidor. O nosso lema de campanha é “um só Vitória” e faz todo o sentido que o Hugo Pinto esteja connosco. Já estava num lado (SAD) e agora passa a estar nos dois (clube), se formos eleitos, obviamente. Passará a ter conhecimento da realidade do clube, que agora já lhe transmitimos no dia-a-dia e sempre mostrou disponibilidade para ajudar a ultrapassar dificuldades. Faz todo o sentido que esteja no Vitória.

O investidor já disse que foram cometidos erros que não se podem repetir. Consegue identificá-los?

A afirmação é de Hugo Pinto e deve ser eles a explicá-los. Todos nós erramos e vamos continuar a fazê-lo, apesar de não o querermos. Como na vida, procuramos corrigir os erros, que são uma aprendizagem para que não voltemos a cometê-los. Concordo com o investidor quando diz que errámos todos. Quando os objectivos não são concretizados é porque alguma coisa correu mal. Quando fala nisso refere-se à estrutura do futebol e, garantidamente, errámos todos. Temos de impedir que isso se repita para estarmos melhor no futuro.

O Amora não se assumiu como candidato no início, é um projecto que foi ganhando forma com o decorrer do tempo. Não seria melhor para o Vitória assumir que está na Liga 3 e encontrar um ponto de equilíbrio antes de pensar na subida a outro escalão?

Peço desculpa ao Amora, mas, se olharmos à história, não há hipótese de comparação entre o Vitória e o Amora. O Vitória preparou-se. Tanto que esteve a disputar a subida na época passada, enquanto isso não aconteceu com o Amora. Preparámo-nos esta época para dar essa continuidade. O Vitória fez um investimento para poder estar a lutar pela fase de subida. Acontece que o clube perdeu com três equipas que nessas alturas eram as últimas classificadas. Se isso não tivesse acontecido o Vitória teria lutado pela subida de divisão. Este facto demonstra o que é o futebol. Quando não se ganha a essas equipas acontece o que vimos. O futebol é assim e não há nada que o possa mudar.

Preferia ser candidato único ou ter oposição nas urnas?

Por uma questão de estabilidade, penso que deveria ir só uma lista a eleições. Não foi por acaso que em 2020 se procurou essa lista de consenso para dar alguma estabilidade ao clube, permitindo maiores possibilidades de se estruturar o clube. Temos 6600 sócios e todos eles têm o direito de participar no acto eleitoral.

Enquanto presidente do clube, o que acha que a SAD precisa de fazer para a equipa ter sucesso e subir à II Liga?

Como presidente do clube não posso falar pela SAD. As eleições são para o clube e não para a SAD, que tem o poder do futebol da equipa principal. O clube nomeará um representante para a SAD que ficará com o poder de emitir a sua opinião. O poder de decisão está sempre na maioria da SAD. O Vitória é minoritário na SAD, mas fará tudo para que a equipa de futebol profissional honre o clube e que chegue ao lugar que é seu por direito.

Qual o papel que a Câmara Municipal de Setúbal desempenha no futuro do Vitória?

Desde que estou no Vitória, a Câmara Municipal de Setúbal tem sido um parceiro do clube e assim vai continuar. É um parceiro muito significativo e que estará sempre disponível para colaborar com o Vitória dentro daquilo que são as suas competências.

Gostaria que houvesse um apoio maior da autarquia ou está satisfeito com o que existe?

Em termos de apoios nunca posso estar satisfeito, tanto da Câmara Municipal como das outras instituições e empresas que possam dar esse contributo. O Vitória tem tantas necessidades que é sempre necessário mais qualquer coisa. Compreendo que muitas vezes isso não é possível, mas sei que a Câmara esteve e vai estar sempre ao lado Vitória.

Recentemente saiu a notícia de que o Pavilhão Antoine Velge foi vendido à Parvalorem e já não é do clube. Confirma?

Contrariamente ao que dizem, o Pavilhão do Vitória não foi vendido agora. Em Junho de 2022, a Paravalorem, que detém os direitos do lote 8 que engloba o pavilhão e os dois campos sintéticos que o Vitória tem ao lado – o Maracanãzinho e o campo n.º2 –, obteve esses lotes por serem activos da SadiSetúbal que tinha falido. Por norma, a Parvalorem não faz registo de todos os bens que absorve das falências de empresas. Em 2022, o que a Parvalorem fez foi fazer esse registo para que eventualmente o Vitória fizesse um contrato de arrendamento do pavilhão. A Paravalorem manifestou a disponibilidade de fazer esse arrendamento e é por esse motivo que em Junho aparece esse registo, necessário para haver um contrato de arrendamento. Não é uma compra. O Vitória tem lutado e até hoje não fez esse contrato de arrendamento, que continua a estar em cima da mesa. O Vitória não podia exercer um direito de preferência porque não foi vendido. A absorção do lote tinha sido muito anterior. Se amanhã a Parvalorem decidisse vender, o Vitória ou a Câmara iriam aparecer com o direito de preferência. Repito: o pavilhão não foi vendido foi feito, isso sim, um registo predial daquela área para se poder fazer um contrato de arrendamento com o Vitória.

Quer dizer que não há o risco de o clube se ver privado do recinto que serve modalidades como o andebol e o futsal?

Sendo o bem da Parvalorem pode sempre haver risco, mas não acredito. A Parvalorem sabe que se trata de um bem que é utilizado pelo Vitória desde sempre, por isso não acreditamos que a Parvalorem vá criar um problema. Trata-se de um terreno que está destinado a área desportiva, conforme a Câmara já disse. A própria Parvalorem já afirmou que as empresas que poderiam estar interessadas naquele espaço desinteressaram-se quando souberam que não podem lá construir.

Está confiante de que o Vitória vai continuar na Liga 3?

Nem me passa pela cabeça outra coisa. Para mim, o Vitória é a equipa mais forte do nosso grupo mesmo partindo com atraso na pontuação. Acredito que o vamos ficar na Liga 3.

Se o Vitória não alcançar esse objectivo mantém-se na presidência do clube?

Se for eleito é para o cargo de presidente do Vitória FC e não para o Vitória FC SAD. Por esse motivo, as coisas têm de ser diferenciadas. Sou vitoriano, quero que clube fique na Liga 3, depois na Liga 2 e depois na 1.ª Liga. Infelizmente pelo passado, o Vitória teve de alienar parte das suas acções a um investidor, algo que acontece em todo o mundo. Claramente é esse o futuro, caso contrário não há viabilidade financeira que suporte o futebol profissional. Ainda bem que o Vitória o fez porque está connosco uma pessoa extremamente correcta e útil ao Vitória.

Que mensagem deixa aos sócios do Vitória que estão preocupados com as dificuldades que o clube atravessa?

Temos de lembrar que uma coisa é o Vitória (clube) e outra é a SAD. As eleições são para o clube e é aos sócios do Vitória FC que quero dizer que vim para o Vitória com uma única finalidade: trabalhar, ajudar e estar disponível. Vou sempre acerrimamente pelo Vitória, pela sua história e pelo seu futuro.

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