19 Abril 2024, Sexta-feira
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Talentos da região libertam-se e dão asas a Portugal entre os melhores da Europa

Foram dos principais rostos da Selecção Portuguesa no 15.° Campeonato Europeu Taekwondo. São do Seixal e de Setúbal

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Diversão, disciplina e muito foco são intercalados com gritos em coreano. É mais um treino feito no Portugal, Cultura e Recreio, clube seixalense onde se sente o “cheiro” a ouro, prata e bronze recentemente conquistados para Portugal no 15.° Campeonato Europeu de Taekwondo.

Aqui “moram” três campeões europeus daquela arte marcial. Terminado o aquecimento, os atletas afastam-se e dão espaço para que Inês Martins e Marco Palma façam uma demonstração da prova que lhes valeu a medalha dourada em poomsaes (sequência de golpes), enquanto par na categoria de Cadetes. O ar tímido e agarotado desvanece-se assim que exibem uma postura séria e determinada.

“Já tinha experimentado capoeira e karaté, mas nada me cativou como o taekwondo. Aqui sinto que me liberto”, revela Inês Martins. Tem apenas 13 anos e o taekwondo já acompanha a sua vida há mais de sete. Começou a treinar num clube em Sesimbra, mas sentiu que, ali, “era tudo muito repetitivo” e que aquele não era o desafio que gostaria.

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Para Marco Palma, de 14 anos, a paixão começou um pouco mais cedo. “Estava na pré-escola e o Mestre Vítor foi fazer uma demonstração à minha sala. Era pequeno, mas senti-me logo atraído pelos movimentos e por todo o respeito que envolve”, confessa.

Hoje, Marco e Inês, treinam juntos e afirmam que formar um par exige “muita sincronização” e “trabalho em equipa”. Com a aproximação do Campeonato Europeu, os treinos dobraram para seis vezes por semana, o que implicou uma maior gestão de tempo para os atletas que são também estudantes.

“Para mim foi complicado. Saio da escola às 18h30 e venho logo para aqui. Muitas vezes o treino acaba às 21h00 e ainda vou para casa fazer trabalhos”, diz Inês Martins. Apesar das dificuldades e da pressão acrescida, desistir nunca fez parte dos planos dos dois campeões.

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Ao reviver a prova desempenhada, Marco Palma não tem dúvidas: “Foi excelente! Correu muito melhor do que estávamos à espera”. “Intenso” é a palavra que utilizam para descrever o momento em que aguardavam os resultados finais, no qual a conversa entre os dois foi mínima. “Eu só perguntei à Inês se queria ouvir o hino e ela disse-me que sim. Então prometi-lhe que íamos ouvir”, conta Marco. Uma promessa cumprida que deu a força necessária para sonharem com o próximo passo: a selecção para o Mundial de Taekwondo de 2023.

Quem também sonha com o Mundial é João Santos, atleta de 24 anos que se orgulha de dizer que arrecadou a medalha de bronze em Freestyle na categoria maiores de 17 no campeonato ocorrido no Seixal. Estreou-se em competição há dez anos a tornar-se Campeão Nacional de Cadetes e, desde então, tem marcado presença em várias competições em Portugal e no estrangeiro. Ambiciona ser fisioterapeuta, mas garante que o taekwondo o vai acompanhar “durante longos anos”, pois para o jovem trata-se de “muito mais do que apenas desporto”.  “Tento viver a minha vida segundo os cinco princípios do Taekwondo. Cortesia, Integridade, Perseverança, Autocontrolo e Espírito Indomável transmitem uma mensagem excelente para qualquer pessoa, não só para quem pratica desporto”, garante.

Ao contrário dos colegas que preferem executar “os movimentos tradicionais e já definidos das poomsae”, João Santos sente-se confortável em Freestyle, onde tem “aquela liberdade” para construir a sua sequência de poomsae. Esboça um sorriso alargado quando revela: “Dá-me liberdade para fazer o que quero com o que mais gosto. Sou livre durante 90 segundos”.

 

Contribuir para engradecer o taekwondo

Sentada no banco, a repousar de uma lesão no joelho, está Constança Mendes. Com um olhar atento, acompanha todo o treino e, entre palavras de motivação para com os colegas, explica ter um “objectivo muito complicado” de realizar. “Quero que o taekwondo seja mais reconhecido em Portugal e no mundo. Nós temos modalidades muito reconhecidas e acho que o taekwondo merece esse reconhecimento. É complicado, mas com a ajuda dos meu colegas podemos lá chegar”, admite.

Com um olhar atento, Constança vai corrigindo os colegas: “Levanta a perna. Não, estica o braço”. Lamenta-se por não poder estar junto deles, mas acredita ser por uma “boa causa”. Afinal, trouxe para casa a medalha de bronze que alcançou em trio na categoria de Juniores.

Rapidamente se lembra de “uma história engraçada” e não hesita em partilhá-la. “A primeira vez que treinei com o meu mestre não estava em muito boa forma”, começa por lembrar. “Pediu-nos que fizéssemos poomsaes e eu estava a fazer o movimento errado com as pernas. Até que o mestre foi ter comigo e traz! Deu-me uma valente palmada em cada perna e eu fiquei logo na posição correta”, recorda ao mesmo tempo que solta um sorriso. “Aquilo doeu-me tanto que comecei a chorar. Toda a gente esperava que eu abandonasse o treino, mas não desisti. Fiz as poomsaes todas a chorar, mas não fui embora”, revela.

Quem não estava no treino era Sérgio Ramos, que conquistou o ouro em trio para +30 anos e ainda o bronze individual (-50 anos). Também Eduarda Ferraz, representante do Clube Desportivo e Cultural Casal do Marco, sagrou-se Campeã Europeia, em individuais (+65 anos).

 

A atleta Constança Mendes subiu ao pódio juntamente com Sara Sampaio e Carolina Costa_ Pedro Custódio

“Ganhar em casa era sonho antigo”

Foi no Pavilhão Municipal da Torre da Marinha, no Seixal, que o presidente da Federação Portuguesa de Taekwondo, Abílio Costa, viu concretizado o desejo de realizar um campeonato na sua cidade natal. “Ganhar em casa era um sonho antigo. Há 20 anos, num Campeonato da Europa, o meu mestre lançou-me o desafio de fazer uma competição no Seixal. Passado este tempo todo posso dizer que superámos o desafio”, conta, orgulhoso. É de olhos postos nos atletas que confessa estar “de coração cheio” com a prestação de cada um. “Eles merecem. Dão o litro e são muito boas pessoas. E isso para mim é o mais importante. Ter a medalha é um acréscimo”, afirma.

 

“A minha única expectativa era não desiludir”

Sara Sampaio, atleta do GD Independente, de Setúbal, não podia ter pedido melhor estreia nos Campeonatos da Europa de Taekwondo. Também está entre o grupo de atletas medalhados ao serviço da Selecção Portuguesa. Conquistou o bronze por equipas.

“Fui muito bem recebida pela equipa”, afirma a atleta, destacando que esse foi um dos aspectos fundamentais para que se mantivesse focada e confortável para a competição. “Não tinha bem a noção ao que ia”, confessa.

“A minha única expectativa era não desiludir as pessoas à minha volta”, explica a atleta, que, não obstante de saber o seu valor, queria apenas cumprir com a responsabilidade que lhe foi confiada na equipa nacional de taekwondo.

Sobre o momento da competição, revela que o objectivo fundamental que a equipa colocou era chegar o mais longe possível. “Procurámos chegar à final. Aí sim, íamos começar a olhar para a concorrência e, mais ou menos, imaginar em que lugar podíamos terminar”, afirma Sara Sampaio.

“Ainda não me caiu a ficha”, revela a jovem, que ainda está a dar os primeiros passos num mundo da competição de poomsae. Neste seu percurso destacam-se um 3.° lugar no Campeonato Nacional e um 2.° num Open internacional.

Sara Sampaio chegou ao taekwondo aos seis anos pela mão do pai. “O meu pai já praticava e eu, por curiosidade, comecei a ir atrás dele”. Esse apoio familiar, para além dos treinadores e dos colegas, tem sido importante nesta caminhada “eles têm sido fundamentais durante estes anos. Têm-me apoiado muito”, assume.

“A Sara é uma atleta que quer sempre ir mais além”, reconhece Armando Silva, treinador da atleta e responsável pelo taekwondo do GD Independente. “A minha expectativa é, naturalmente, que ela continue a ser a brilhante atleta que é, e que continue a evoluir. Espero um dia vê-la num Campeonato do Mundo”, confessa Armando Silva.

Para o futuro, Sara Sampaio é bastante terrena em lançar expectativas. “Vou continuar a trabalhar, passo a passo. Ainda tenho muitos aspectos a aperfeiçoar”, afirma a atleta. “Quero continuar a não desiludir as pessoas à minha volta”, conclui a jovem do GD Independente.

Além deste conjunto de atletas, a região contribuiu ainda com mais uma medalha de ouro para os “cofres” da Selecção Nacional Portuguesa.

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