“Cumpram com os pagamentos prometidos ou avancem com a suspensão dos nossos contratos”, lê-se na carta assinada pelos trabalhadores.
A situação no Vitória Futebol Clube deteriora-se de dia para dia e os funcionários que trabalham no Bonfim consideram ter ultrapassado todos os limites, razão pela qual dizem basta. Numa carta assinada por 12 trabalhadores do clube e dirigida aos presidentes do Vitória FC (Paulo Rodrigues) e da Mesa da Assembleia-Geral (Nuno Soares), afirmam estar “cansados de promessas, de falsas esperanças e de inverdades a cada dia que passa ao longo destes quatro meses”.
A situação é de tal forma calamitosa que os funcionários, “cada um nas suas funções passando da relva à lavandaria, da limpeza aos serviços administrativos”, afirmar que as suas famílias vivem uma situação dramática. “Estamos a destruir as nossas famílias. Como explicamos ao Luís, que tem 10 anos, ao Diogo e ao Santiago, e a todos os outros nossos filhos, que não há televisão porque ‘o pai não conseguiu pagar’.
E continua: “Que hoje temos que ir para a cama mais cedo porque a luz foi cortada porque ‘o pai não tem dinheiro para pagar a factura há vários meses. Que hoje ao amanhecer quando se abrirem os frigoríficos não sabemos se o leite ainda chega para todos. O que vai nas nossas cabeças quando na hora de almoço a mochila está vazia”, denunciaram os funcionários na carta datada de 29 de Outubro a que O Setubalense teve acesso.
Situações como estas levaram os trabalhadores a “tomar a liberdade de expressar o grito que tem estado preso nas gargantas e que a cada dia que passa sufoca mais”, confessam. “Perguntamos porquê? Merecemos respeito e consideração. Somos uma parte importante e imprescindível na vida quotidiana do Vitória e não nos têm respeito. Temos estado calados vivendo cada dia com a angústia de não saber o que se vai passar no próximo. Estamos abandonados e, por isso, hoje dizemos chega. Merecemos uma palavra de verdade”.
Interpelando directamente os presidentes Paulo Rodrigues (Direcção) e Nuno Soares (MAG) é lançado um repto em tom de súplica. “Gritamos, apelamos a que nos resolvam a nossa situação. Já passaram quatro meses e outras duas segundas-feiras e de regularização de salários nada! Continuamos sem puma resposta e continuamos cada vez piores”, vincam, referindo que “só vocês podem resolver a nossa situação” e reconhecendo que “não são responsáveis por tudo, mas assumiram um compromisso e ter uma solução”.
Os funcionários terminam a carta com uma sugestão: “cumpram com os pagamentos prometidos ou avancem com a suspensão dos nossos contratos”, dizem. “Assumiram pagar os nossos salários. Cumpram com a palavra dada aos sócios e aos trabalhadores. Cumpram com os pagamentos prometidos ou avancem com a suspensão dos nossos contratos. Não aguentamos mais. Não podemos continuar a sofrer por causas às quais somos alheios. Queremos acreditar que tal como assumiram na campanha eleitoral, serão capazes de resolver, mas o tempo urge e não podemos esperar mais”.
Claque Grupo 1910 apoia trabalhadores
O agravamento da situação levou a uma onde de solidariedade para atenuar os efeitos da situação em que os trabalhadores se encontram. A claque Ultras Grupo 1910 organizou leilões solidários de camisolas e com o dinheiro angariado vai distribuir em produtos aos funcionários. “Esta acção tem em vista os funcionários dos nossos quadros que não receberam o seu ordenado como prometido pelo actual presidente, que prometeu pagar no dia a seguir à eleição”, acusou a claque em comunicado publicado na sexta-feira.
Além de terem recolhido bens durante o fim-de-semana na sede dos Ultras Grupo 1910, no Estádio do Bonfim, o Núcleo dos Amigos do Bairro Santos Nicolau também se juntou à iniciativa sendo mais um ponto de recolha de bens durante os últimos três dias. “O Vitória somos todos nós, o espírito que nos envolve irá prevalecer, chegaremos a um rumo juntos, e faremos tudo para defender os interesses do clube e dos seus funcionários que merecem respeito”, escreveu a claque nas suas redes sociais.
Equipa principal faz greve aos treinos
O Vitória tem sido notícia nos últimos dias também pela grave crise que afecta a sua equipa principal de futebol. Na sexta-feira e no sábado o plantel fez greve aos treinos devido aos salários em atraso. A decisão foi tomada pelo grupo de trabalho depois da chegada ao Estádio do Bonfim, local para onde estava agendada mais uma sessão de trabalho da equipa da série H do Campeonato de Portugal.
A greve aos treinos acontece depois de no dia anterior os jogadores também terem recorrido à mesma forma de protesto. Depois de se terem recusado a treinar em 29 de Setembro e 30 de Outubro, esta é a terceira vez em 2020/21 que o clube vê o plantel fazer greve devido ao incumprimento salarial, que, segundo apurámos, se cifra em três meses e meio.
Mesmo depois da eleição da nova direçcão, presidida por Paulo Rodrigues, que assumiu o cargo em 18 de Outubro, os atletas alertam para o facto de nada ter sido feito até ao momento. Em comunicado publicado sexta-feira, a direcção mostra-se solidária com a equipa. “Estamos todos solidários com a nossa equipa profissional, tivemos várias reuniões com os quatro capitães e sempre nos pautámos pela verdade, transparência e trabalho, e apresentámos nossa solução para o futuro da SAD”, escreveu.
No documento publicado no sítio oficial do clube, a direção revela o ponto da situação em relação aos investidores. “Esta sexta-feira já recebemos por correio registado a carta de intenções e a proposta oficial de aquisição da SAD. Durante a próxima semana vamos elaborar junto da administração da Fundbox um contrato entre as partes para podermos marcar uma Assembleia-Geral, e levar a votação e discussão dos nossos sócios para ser votada”, informa.
O Vitória de Setúbal, que foi relegado da I Liga ao Campeonato de Portugal por incumprimento dos pressupostos para inscrição nas provas profissionais, tinha agendado para segunda-feira um jogo no reduto do Olhanense, a contar para a série H do Campeonato de Portugal, partida que foi entretanto adiada por decisão do Governo devido à atual crise pandémica da covid-19.