Estamos a 7 de janeiro de 1940. Última jornada do campeonato distrital de 1939-1940, e o São Domingos precisa de ganhar o último jogo na Amora para se salvar. Tudo estava pronto, mas a partida não se efetuou e o Amora ganhou por falta de comparência dos setubalenses. O que teria acontecido?
O relatório do delegado ao jogo explica: à hora marcada, só estava presente a equipa da casa, pelo que o juiz da partida registou a falta de comparência do São Domingos, atribuindo a vitória ao Amora. É quando o mesmo árbitro vê chegar um carro com 6 jogadores e, minutos depois, um segundo carro com outros 5, que estes explicam que tiveram “desastres” na viagem de Setúbal, sem conseguir demover o homem do apito.
O São Domingos protesta, enviando uma carta a pedir a remarcação do jogo, alegando motivos alheios à sua vontade pelo ocorrido: avaria de um primeiro carro e consequente e prolongada espera do autocarro da carreira; e uma segunda viatura à qual… acabou a gasolina! Diz ainda a carta do clube em tom épico: “Com uma coragem inesquecível, o veículo foi empurrado pela comitiva num esforço hercúleo e vigoroso, todo este percurso, mas senhores, quando chegávamos triunfantes, depois de termos vencido mais este obstáculo outro ainda se nos depara! A bomba de gasolina estava fechada! Fretámos outro carro que finalmente conduziu os n/homens ao lugar desejado”.
Para além disso, o clube teve ainda de se defender da acusação dos adversários: ter-se-iam atrasado porque os jogadores quiseram parar no campo dos Arrojados (em Setúbal) para ver o jogo Bonfim – Luso! Uma ofensa, disse o São Domingos. Como podiam duvidar da seriedade e profissionalismo dos seus atletas?
Os esforços do São Domingos deram frutos porque o jogo foi reagendado para 12 de janeiro e os nossos “azarados”, aí, esmagaram o Amora por 4-0. A honra estava salva!
Estas e outras histórias farão parte do livro do São Domingos Futebol Clube, a lançar no centenário do clube em 2021.
Eupremio Scarpa*
*investigador em história do desporto
