Com mais de 30 anos de carreira e mais de cem participações em edições discográficas, a sua carreira move-se pela paixão à cultura portuguesa
Fotografia Alex Gaspar
Texto Ana Martins Ventura
“Alguém que é, na sua essência, teimosamente feliz no que faz e em quem busca ser”. Cantora, acordeonista, produtora, Celina da Piedade “persegue um caminho de volta às raízes, à vida em comunidade, ao ritmo da natureza e acredita que, a música herdada do passado servirá para erguer o futuro”.
Ao longo da sua carreira foram muitos os momentos e pessoas que definiram a profissional de hoje. Helena Mendes, acordeonista de Setúbal e professora que trouxe o entusiasmo por este instrumento. Rodrigo Leão, com quem partilhou quase duas décadas de trabalho, que valeram “tantas experiências incríveis”; Mayra Andrade; Uxia; Ludovico Einaudi; Kepa Junkera; Gaiteiros de Lisboa; António Chainho; Samuel Úria.
Para conquistar este percurso foram determinantes os anos em que estudou no Alentejo. Uma terra que a levou a apaixonar-se “pelo seu património material e imaterial”.
Uma paixão reflectida no trabalho com a Associação Pédexumbo, “que tem criado um movimento cultural em torno da música e dança tradicional”.
Menina da música
A música está com Celina da Piedade desde sempre e por isso nunca colocou a hipótese de a deixar. “É algo profundamente essencial na minha vida e na minha identidade. Já não me recordo de não ser música, instrumentista”, revela.
Começou a “pedir” instrumentos com dois a três anos e aos cinco já estudava música. Por isso considera que deixar esta face da Arte seria “como arrancar a cabeça ou um braço”.
Hoje, a menina da música folk e tradicional conta com uma extensa carreira e a participação em mais de uma centena de edições discográficas, para além de bandas sonoras para cinema, teatro e dança.
Da sua discografia fazem parte os álbuns “Em Casa”, “O Cante das Ervas” e “Sol”. Integrou ainda o grande colectivo “Tais Quais” e editou trabalhos originais ao lado de Vitorino, Tim, Sebastião, Serafim, Vicente Palma, Paulo Ribeiro e João Gil.
Em 2017 surpreendeu enquanto finalista no Festival RTP da Canção com o tema “Primavera”.
É pela sua paixão imensa pela Arte que gostava de ver “mais música ao vivo em Portugal, incluindo nos meios de comunicação”. Um plano onde sugere que, “a criação de um canal de televisão só de música portuguesa seria muito interessante”.
Mas há mais que gostaria de ver concretizado. “Um maior investimento político na cultura, programas culturais com mais diversidade, mais acesso a meios de gravação e oportunidades de internacionalização para todos”.
“Setúbal só tem a ganhar com investimento sério na cultura”
Em Setúbal, Celina da Piedade encontra “uma cidade de artistas, poetas e sonhadores” que começa, “cada vez mais, a ser uma cidade de Arte”.
Considera que ainda há muito em falta. “É preciso que haja espaços para trabalhar, para ensaiar, criar. E é preciso que se criem oportunidades e condições para que o resultado desse trabalho seja apresentado e desenvolvido”. Mas reconhece que nos últimos anos muito mudou. “E a cidade só tem a ganhar com um investimento sério na cultura”.