A cereja no topo da desgraça

A cereja no topo da desgraça

A cereja no topo da desgraça

, Ex-bancário, Corroios
26 Março 2024, Terça-feira
Francisco Ramalho

50 anos depois de Abril, e um partido de extrema-direita, praticamente unipessoal, elege 50 deputados. Os últimos dois, num total de quatro, provenientes da emigração. Foi a cereja no topo da desgraça.

É conhecida a aversão destes partidos xenófobos, aos emigrantes. Aliás, um excelente exemplo, é o deputado que foi eleito por este partido pelo círculo da Europa. Emigrante em França há muitos anos, tendo sido expulso por ilegalidade, mas voltou até que regularizou essa situação. Se a lei naquele país fosse igual ao que o partido em foi eleito propõe, só lá poderia regressar passados cinco anos.

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Portanto, mais esta contradição, esta ignorância, este analfabetismo político. Um País de onde partiram (e partem) milhões de filhos seus na demanda de melhores condições de vida ou até fugindo à opressão da ditadura. Agora repudiam os que pelas mesmas razões nos seus países, procuram o nosso à busca do seu pão e que para além contribuírem para a nossa economia, contribuem também para o sistema da Segurança Social.

A grande maioria dos emigrantes que demandam o nosso país e muitos outros da Europa, vêm de outros que a mesma Europa e a América, exploram. Extraindo combustíveis, minérios, madeiras e diversos produtos agrícolas, a preços que eles próprios estabelecem, estando-se nas tintas para os desenvolverem em benefício dos seus habitantes.

E se não for assim, pela força das armas colocam ou tentam colocar lá governos que sirvam os seus interesses. Daí as guerras que proliferam principalmente em África e na Ásia, provocando a fome e milhões de refugiados. Tantos deles, como sabemos, encontrando a morte no Mediterrâneo, nas costas de África ou nos desertos.

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Portanto, é uma tristeza vermos os nossos emigrantes votarem maciçamente num partido que tanto hostiliza quem procura pão e paz e que contribui para o nosso desenvolvimento e da restante Europa.

Guerra Junqueiro definia-nos como “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio”. Mas também dizia, na sua obra “Pátria” de 1896 (1ª edição), “um povo enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, – reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.

Tantos de nós, mudámos alguma coisa? Emigrantes e não só.

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50 anos depois do 25 de Abril de 1974, estamos a retroceder. Estamos a fazer coisas que, ao contrário de outras que fizemos, nada nos engrandecem, nem contribuem para termos um País mais justo de que nos orgulhemos e que seja um exemplo para o mundo. Mas nós somos assim. Capazes do pior e do melhor.

Já nos fizemos ao mar em “cascas de nozes” e demos novos mundo ao mundo, corremos com quem ocupou a nossa Pátria, os castelhanos, levantámo-nos por outro povo, o de Timor, fizemos o 25 de Abril, e havemos de fazer outras coisas nobres. Distribuir melhor o que podemos produzir, evitando assim que continuemos a ser um País de emigrantes e contribuirmos para a paz no mundo, como prevê a nossa Constituição.

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