Ex-dirigente acusa o partido de deixar de defender causas. “Levo comigo muitos que deixaram de se rever”
João Merino já não é presidente da Comissão Política Distrital de Setúbal do CDS-PP. Anunciou também que vai desfiliar-se do partido democrata cristão por já não concordar com as posições políticas defendidas, e acusa o partido, liderado a nível nacional por Nuno Melo, de ter abandonado os seus princípios.
O ex-dirigente informou a sua decisão através de um comunicado publicado na sua página oficial da rede social Facebook. “Saio porque a defesa da família, das forças de segurança, dos antigos militares, da luta contra a subsidiodependência, a corrupção e o nepotismo já não são bandeiras do CDS. Saio porque os donos do CDS têm vergonha de defender os nossos valores de sempre, e é por isso que o CDS já só existe na memória dos democratas-cristãos a sério”, pode ler-se.
Com João Merino saem também outros membros da comissão política distrital: “Levo comigo muitos que deixaram de se rever neste CDS, mas que são verdadeiros democratas-cristãos dos pés à cabeça!”. Em matéria da situação política do CDS nos treze municípios do distrito refere que nem todos têm eleitos órgãos concelhios, sendo que, nestes, a actividade do CDS só é assegurada por meio de “delegados nomeados para esse efeito”. “Fizemos história num distrito onde faltavam rigor e objectivos”. Em meio de críticas deixa elogios a Ana Clara Birrento, provedora da Santa Casa da Misericórdia de Azeitão e ex-directora da Segurança Social de Setúbal, descrevendo-a co- mo “um activo muito importante do CDS no distrito”.
Já sobre a integração de delegados na lista do círculo eleitoral de Setúbal às eleições legislativas de 10 de Março, e em declarações ao Diário de Notícias, que avançou a notícia esta quarta-feira, revela que só “cinco minutos antes” do concelho nacional do partido centrista foi informado sobre os nomes que iriam integrar a lista da coligação com o PPM e o PSD – Aliança Democrática (AD).
Iniciativa Liberal e Chega acusados de “ocupar espaço”
Não só a nível interno se estendem as críticas de João Merino. O ex-dirigente da distrital acusa a Iniciativa Liberal de ocupar o espaço político que era dos militantes e deputados do CDS-PP, nomeadamente em matéria de Economia.
Também ao Chega se alongam os reparos quando diz que “defesa da família, das forças de segurança, dos antigos militares, da luta contra a subsidiodependência, a corrupção e o nepotismo” se tornaram bandeiras do partido de André Ventura durante a campanha eleitoral.
“A defesa da cultura, da agricultura e agricultores, da vida desde a concepção até ao momento em que Deus nos chame à sua presença, dos pequenos e médios empresários, a defesa de uma educação exigente e a luta contra uma escola ideológica que afasta os pais e que – contra a Constituição – doutrina, politiza e sexualiza as nossas crianças”, todas estas questões identitárias que aponta como já não sendo “bandeiras” do partido. Diz mesmo que o partido democrata cristão está em “estado comatoso”. “Outros vieram e tomaram conta”.