Ricardo Crista garante estar “completamente tranquilo”. Artista que se diz plagiado quer obra muito alterada
A saga relativa ao memorial a Zeca Afonso parece não ter fim, mas Ricardo Crista, autor da obra, garante estar “completamente tranquilo”. O autor do memorial a Zeca Afonso afirma que aquilo que o artista sul-africano pretende é “absurdo” e garante que a acusação de difamação já está a ser preparada, sendo depois decidido se irá avançar ou não.
O artista sul-africano Marco Cianfanelli, que havia acusado o autor setubalense de plágio do seu trabalho de homenagem a Nélson Mandela, quer que o memorial a José Afonso seja sujeito a “substanciais ajustes e alterações” ao conceito e design, de forma que ganhe uma nova configuração. Caso não aconteça, o artista considera avançar pela via judicial contra Ricardo Crista e a Câmara Municipal de Setúbal.
O ultimato de Marco Cianfanelli foi feito através de um e-mail enviado a Ricardo Crista e à autarquia sadina, incluindo outras entidades e um jornalista. Sobre este assunto, a autarquia setubalense, contactada por O SETUBALENSE, diz estar ainda a analisar o conteúdo do e-mail. A postura de Ricardo Crista é clara, e garante que não vai aceder a nenhuma das exigências, sendo que a única coisa que até já foi feita foi tirar o nome do artista sul-africano do QR Code, onde o tinha como referência, mas que tudo o resto é “completamente absurdo”.
No documento enviado por Marco Cianfanelli, este não tem dúvidas que a peça de Ricardo Crista não presta homenagem a ninguém, e “em última análise, nem ao próprio Zeca Afonso”. Para o sul-africano, Crista, de forma “decepcionante e bastante insultuosa”, pegou nas suas ideias e designs para criar algo que “não é novo e original, mas uma pobre repetição do aclamado trabalho conceitual de outra pessoa”.
Em declarações a O SETUBALENSE, Crista garante que a acusação não faz sentido, sublinhando que é o mesmo de alguém pintar uma paisagem e depois já ninguém poder pintar paisagens. “Não faz sentido nenhum”, reforça.
O artista sadino está a ponderar avançar pela via legal. “Trata-se de uma difamação, aquilo que me estão a fazer e isso é crime”, realça, explicando que só quer trabalhar, tendo vários projectos em andamento, mas assegura que acusação de plágio tem vindo a prejudicar a nível profissional e por isso mesmo pondera a acusação de difamação a algumas pessoas.
“Para mim é quase um não assunto, só quero poder continuar a trabalhar e ser acusado de plágio é muito mau para um artista. Não é só o artista, devem existir outras pessoas por trás que querem fazer essa difamação”, salienta, reforçando que “a acusação já está a ser encaminhada”, e quando estiver mais avançada decide se vai “mesmo para a frente com isso ou não”.
Técnica Crista explica diferenças entre peças
Apesar da acusação de plágio, que Ricardo Crista diz não ter fundamento nenhum, Marco Cianfanelli insiste que o seu trabalho foi copiado, mas o artista setubalense explica quais as diferenças óbvias que diferenciam estes dois trabalhos.
Enquanto o trabalho de Cianfanelli, de Mandela, cria uma espécie de floresta entre os ferros, estando eles muito distanciados, o de Ricardo Crista está em linha recta, não sendo possível circular entre ferros.
Outra das grandes diferenças é a forma de se ver a peça. O trabalho sobre Mandela só é perfeitamente visível num ponto exacto, ao contrário do trabalho do artista sadino, que tem vários locais de visão. “Ela é vista de frente, de trás e vista de cima. Com toda a sombra projectada vamos ver a cara do homenageado, porque foi virada para um determinado local e estudado para isso”.
Também o formato dos ferros é diferenciado, algo que apenas é visível olhando de perto, como é possível ver nas imagens colocadas.