Município aposta fortemente na Feira de Agosto, um certame que remonta ao século XVII. Espera-se que seja aprovado, em 2024, o Plano Estratégico para a Cultura em conformidade com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável
A Vila Morena foi considerada pelo Marktest, em 2020, o 8.º município com maior investimento na Cultura per capita – e o 1.º no Distrito de Setúbal. A requalificação dos espaços culturais, as verbas dirigidas aos certames e a aposta em cartazes e programações atractivas têm sido base para a política cultural autárquica.
Carina Batista, vereadora com o pelouro da Cultura no município grandolense, fala no valor total de 12 milhões de euros investidos nesta área. O novo auditório municipal é um dos grandes desejos para o restante mandato, mas o Cine Granadeiro e o Cineteatro Grandolense têm já muita oferta que vai dos 8 aos 80 anos.
O local que foi o “grito” para a Revolução dos Cravos dá cada vez mais palco a este acontecimento histórico, que é lembrado ao longo de todo o ano.
Qual é a previsão do investimento no sector da Cultura por parte da Câmara Municipal de Grândola para o actual mandato?
Anualmente, está previsto um investimento municipal na área de cultura, nas diferentes valências, na ordem dos 3 milhões de euros, o que perfaz um montante de 12 milhões de euros no mandato autárquico.
Comparando com mandatos anteriores, este investimento tem crescido?
Tem vindo a verificar-se um aumento significativo das verbas disponibilizadas para a acção cultural, em comparação com os anteriores mandatos, inclusivamente superior ao aumento igualmente considerável do orçamento municipal nestes últimos anos.
Quais são os maiores desafios em relação ao sector da Cultura?
O município está a dar prioridade aos projectos para abertura ao público dos Núcleos Museológicos de Etnografia – Casa Frayões Metellos, e do Núcleo Museológico dedicado à canção «Grândola, Vila Morena», que farão parte do Museu Municipal Polinucleado de Grândola, com os Núcleos museológicos de S. Pedro, Olaria de Melides e Museu Mineiro do Lousal. Neste momento, preparamos o programa das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, que se revestirão da maior importância e significado, dada a sempiterna ligação da nossa cidade, aos valores e ideais de Abril, graças ao poema canção de José Afonso, que foi senha para o derrube da ditadura e que nos devolveu a liberdade e a democracia. No âmbito da Rede de Teatros e Cineteatros portugueses, a que a principal sala de espectáculos do município pertence, continuaremos a privilegiar a programação cultural diversificada, nas várias expressões artísticas, com a regularidade necessária.
Finalmente, temos a intenção de aprovar, no próximo ano, o Plano Estratégico para a Cultura, definindo as principais linhas de orientação nesta área, para os próximos anos, alinhando-as com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável.
Investir na cultura: essencialmente em que áreas?
Como já foi referido anteriormente, o município pretende investir em todas as áreas culturais, designadamente a promoção e difusão do livro e da leitura, no quadro da actividade da biblioteca municipal, o tratamento e divulgação da documentação histórica, no âmbito da acção do arquivo municipal, a preservação e valorização do relevante património histórico concelhio, por meio da actividade do Museu Municipal Polinucleado, a disseminação e fomento das artes de palco e das diferentes expressões artísticas, no contexto da programação cultural regular.
Quais são as áreas culturais que o executivo pensa em intervir?
Uma das principais intervenções previstas para os próximos anos será a construção do novo auditório municipal, que irá reforçar a rede de equipamentos culturais municipais e permitir a realização de iniciativas cujas características técnicas tenham um grau de exigência mais elevado.
Qual é a iniciativa ou certame que considera que dá mais expressão a Grândola?
Há três principais iniciativas que são, cada uma do seu modo, muito representativas de Grândola e dos valores a que está associada. Em primeiro lugar, a Feira de Agosto, – que remonta pelo menos ao século XVII – é a maior feira festa da nossa região e a principal montra do desenvolvimento local.
Em segundo lugar, o Encontro da Canção de Protesto, organizado pelo Observatório da Canção de Protesto de que o município de Grândola é promotor, e que reflecte a ligação de Grândola a valores essenciais de resistência a todas as formas de opressão.
Finalmente, as comemorações do dia do concelho, a 22 de Outubro, celebrando a concessão da carta de vila aos moradores do “llugar da gramdolla”, em 1544, por D. João III, e que queremos que seja, cada vez mais, a grande celebração da nossa identidade colectiva.
Qual é o envolvimento das freguesias nas iniciativas culturais do município?
As freguesias são autarquias que exercem, no seu território, as competências que lhes estão conferidas com total soberania e autonomia, entre as quais as acções nos domínios da cultura, tempos livres e desporto. Não obstante esta circunstância mantêm com o município um relacionamento estreito, no quadro da programação de iniciativas culturais. Deste modo, procura-se a mais vasta abrangência territorial das iniciativas, procurando não deixar ninguém para trás.
De que forma é que a autarquia trabalha em conjunto com as instituições e associações locais de cultura?
Grândola apoia a actividade das associações locais por via dos protocolos que anualmente estabelece com estas entidades, quer no plano financeiro, – viabilizando a realização de projectos específicos – quer no domínio da logística, de acordo com as necessidades existentes. Para este efeito, o município criou o Gabinete de Apoio ao Movimento Associativo, que estabelece a ligação entre as diferentes associações e os serviços municipais.
Além disto, a autarquia promove acções de parceria com algumas associações, para a concretização de programas culturais, de que a iniciativa Grândola, Vila Jazz, em cooperação com a Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense — a mais antiga colectividade de cultura e recreio do concelho — é um paradigma.
Estão programadas empreitadas relativamente a novos espaços culturais?
O município está a preparar o projecto da futura sala de espectáculos de Grândola, que além de complementar os espaços já existentes — Cine Granadeiro e Cineteatro Grandolense — possibilitará a apresentação de iniciativas culturais com maiores exigências técnicas, no domínio das artes de palco e performativas. Esta sala terá ainda uma maior capacidade para o público, para lá de oferecer todas as condições de conforto e qualidade, de acordo com as normas hoje em vigor.
As empreitadas referentes à criação dos núcleos museológicos da Casa Frayões Metellos e daquele que será dedicado à canção Grândola, Vila Morena, estão concluídas e estão a ser ultimados os trabalhos de musealização de ambos os espaços, para subsequente inauguração. Está também em fase de conclusão a empreitada de requalificação do Museu Mineiro do Lousal, que será reaberto ao público até ao final deste ano.
Como avalia o investimento do Governo na Cultura, e que relevância poderia ter no concelho?
Sendo óbvio que o investimento do Estado na Cultura poderia ser maior e mais qualificado, seria injusto não mencionar a importância para a maioria dos concelhos da criação da Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, as acções de formação e capacitação técnica de agentes culturais e programadores municipais no âmbito da acção da rede e os apoios à programação, disponibilizando verbas consideráveis para o aumento consolidado da actividade cultural local e para uma maior diversidade da oferta em cada território.
Por outro lado, importa destacar a acção de grande relevo e significado da Direcção Regional de Cultura do Alentejo, com quem o município mantém um excelente relacionamento institucional e cuja directora e quadros técnicos têm contribuído para a concretização de projectos e iniciativas de relevante interesse municipal, de que é exemplo recente a assinatura e um protocolo de colaboração entre as duas entidades para a classificação como património fonográfico de dois conjuntos suportes de som, designadamente, o “Primeiro Encontro da Canção Portuguesa” de 29 de Março 1974, e o Registo magnético gravado no dia 24 de Abril de 1974 para transmissão no programa “Limite”, da Rádio Renascença, às 00h20, e consequente valorização de documentos sonoros associados à canção “Grândola, Vila Morena”, da autoria de José Afonso, no momento em que se irão celebrar os 50 anos do 25 de Abril, levando a cabo as acções necessárias ao seu reconhecimento patrimonial e consequente protecção e preservação.
Importa destacar ainda a cooperação frutuosa entre o município e a Direcção Geral do Património Cultural, na área da valorização e promoção do valioso património arqueológico do município, consubstanciada, por exemplo, no estabelecimento de um protocolo de cooperação entre as duas entidades para a criação e a gestão do Depósito Municipal de bens arqueológicos, instalado no Museu Municipal de Grândola, que reunirá o espólio resultante de trabalhos arqueológicos realizados e a realizar na área do concelho de Grândola, tanto os promovidos pela autarquia como por outras entidades ou investigadores.
Que grande acontecimento cultural é que Grândola gostaria de realizar, ou já tem projectado?
No âmbito das comemorações do 25 de Abril o município irá dirigir convites a reputados escultores para a concepção de obras de arte pública que serão instaladas na Vila de Grândola e em cada uma das freguesias do concelho.
O município tem estado a receber e a analisar propostas de realização de grandes iniciativas no nosso concelho, no âmbito da ligação de Grândola aos valores de liberdade, democracia e fraternidade.
Em 2020 Grândola era o 8.º município do país com as maiores despesas camarárias em Cultura per capita. Em termos de projectos, o que é que este valor traduz? Esta posição ainda se mantém?
Os últimos dados da Marktest relativamente a este indicador são referentes ao ano 2020 e ainda não foram publicados dados mais recentes, o que significa que a 8.ª posição, no plano nacional, e a 1.ª posições no Distrito de Setúbal se mantêm. Esta classificação advém do relevante investimento efectuado nos últimos anos, de que são exemplos o novo edifício da biblioteca e arquivo municipais, os núcleos museológicos de S. Pedro, Olaria de Melides, Casa Frayões Metellos, Museu Mineiro do Lousal e o que é dedicado à canção Grândola, Vila Morena, a par da actividade regular no quadro da programação cultural municipal, com exibição cinematográfica semanal, espectáculos mensais de diferentes artes de palco, os colóquios e seminários, a Feira do Livro, as comemorações do 25 de Abril e do dia do concelho, Feira de Agosto, Encontro da Canção de Protesto, entre muitas outras iniciativas que fazem parte do nosso compromisso de cumprimento pleno dos Objectivos de Desenvolvimento Sustentável, estabelecidos pelas Nações Unidas.
Relativamente à Feira de Agosto, o certame em que o município investe mais. O que é que esta histórica festa traz a Grândola?
A Feira de Agosto é, efectivamente, uma das iniciativas em que o município mais investe, pela sua história e pelas razões já anteriormente enunciadas. É, também, e sem dúvida, a iniciativa que atrai a Grândola um maior número de visitantes, durante os cinco dias da sua realização (mais de cento e vinte mil entradas registadas), que têm oportunidade de assistir a grandes espectáculos, no palco principal e no palco secundário, visitar o espaço expositivo, que é uma importante montra do desenvolvimento concelhio, provar a gastronomia ímpar da região, na zona das tasquinhas e no jardim de mostra gastronómica, desfrutar a feira franca e os divertimentos, e percorrer ainda a tenda animal, que retoma uma antiga e importante tradição local, em que a feira era o local privilegiado de compra e venda de gado.