Beatriz Nunes: “Trago sempre o Barreiro no coração porque gosto da vivência de comunidade e do espírito associativo”

Beatriz Nunes: “Trago sempre o Barreiro no coração porque gosto da vivência de comunidade e do espírito associativo”

Beatriz Nunes: “Trago sempre o Barreiro no coração porque gosto da vivência de comunidade e do espírito associativo”

BEATRIZ NUNES - RETRATO DE PROMOÇÃO E DIVULGAÇÃO

Desde muito cedo ganhou raízes culturais na cidade que acompanhou o crescimento da sua carreira musical. Agora “vem mais vezes a casa” para participar em iniciativas promovidas por professores

 

 

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Beatriz Nunes, 35 anos, é uma das vozes mais melodiosas que o Barreiro já ouviu e viu nascer. Barreirense de berço, começou logo aos nove anos a treinar canto na Academia de Amadores de Música. Entrou depois no

Conservatório Nacional onde descobriu, com 20 anos, que o jazz poderia ser um caminho a seguir. Filha de radialistas, lembra-se de passar a infância nas oficinas da CUF e nos estúdios de rádio que mais tarde seriam as paredes da Escola de Jazz do Barreiro, onde foi professora de canto.

Foi vocalista na banda Madredeus, fez também parte da Big Band Barreiro e diz que, para onde quer que vá, não se esquece da cidade que dá cada vez mais oportunidades e ferramentas para que os jovens sejam criativos.

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Estados Unidos da América, Alemanha, Turquia… já levou a sua música um pouco por todo o lado e tem vindo a ganhar cada vez mais expressão. O seu último disco – “Livro de Horas” – é prova disso. Acredita que um conservatório de música no Barreiro é um projecto que se pode vir a tornar realidade.

 

Desde os nove anos que utiliza a sua voz para cantar, como é que surgiu a paixão pela música?

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Aos nove anos fui para Academia de Amadores de Música, comecei por estudar guitarra e estava no Coro dos Pequenos Cantores da Academia de Amadores de Música, e foi aí que comecei realmente a gostar muito de cantar nesse contexto do coro e do repertório que fazíamos.

Fizemos algumas participações no Teatro de São Carlos e posso dizer que nessa altura comecei a gostar bastante de estudar música, embora ainda não colocasse a hipótese de fazê-lo de forma profissional.

 

E o jazz? Quando e como é que entra na sua vida?

Mais tarde já estava eu no Conservatório Nacional a estudar canto, provavelmente por volta dos 20 anos, senti falta de explorar a minha voz em outros contextos, e de facto, o jazz apresentou-se como uma alternativa em termos de ensino de música formal mais interessante.

 

 

Que referências encontrou na cidade do Barreiro para cultivar o gosto musical?

A minha relação com o Barreiro foi um pouco descontinuada porque eu nasci no Barreiro, vivi até aos seis anos, depois vivi em Lisboa, voltei a viver no Barreiro entre os 16 e os 20 anos. Agora tenho algumas memórias e referências do Barreiro, lembro-me perfeitamente de um concerto do Mário Laginha e da Maria João na biblioteca – eu devia ser muito pequena. Também nessa época, ali no final dos anos 80/90, vivia-se um contexto cultural muito forte de associativismo, de várias iniciativas culturais no Barreiro, das quais faziam parte os meus pais. Eles estavam envolvidos com a Rádio Sul e Sueste, e, portanto, digamos que eu cresci um bocadinho nesse contexto cultural. Eles estiveram sempre muito envolvidos na vida cultural do Barreiro, e eu inerentemente também acabava por ser educada nesse sentido.

Mais tarde o Barreiro vem a ser muito importante para mim porque quando eu começo a estudar jazz em Lisboa faço um concerto nas festas da cidade, e é através desse concerto que o Mestre da Big Band [na altura o Yuri] e eu tomamos contacto um com outro, e que ele me convida para começar a cantar com a Big Band do Barreiro.

Comecei a cantar com eles em 2010/2011, depois comecei a dar aulas na Escola de Jazz do Barreiro, então o Barreiro foi o sítio onde eu também comecei a minha actividade profissional.

 

Londres, Berlim, Istambul… várias foram as cidades pelas quais espalhou o encanto da sua música. Para todos estes locais, leva o Barreiro no coração?

Eu quando era criança vivia e estudava no Barreiro e tive alguns amigos, mas depois venho para Lisboa e quando regresso, com 16 anos, mantenho a minha escola, o conservatório em Lisboa, e como muitas outras pessoas do Barreiro, eu fazia uma vida muito de travessia do rio, de acordar cedo e apanhar o barco. A minha família paterna nunca saiu do Barreiro, portanto, eu mantenho sempre essa ligação através da família.

Acho que trago sempre o Barreiro no coração, porque uma das coisas que mais gosto e que mantém muito em contacto ainda, através dos meus, é a vivência de comunidade, de espírito associativo – que também tenho através de outros amigos que estão envolvidos, por exemplo, com a Cooperativa Mula ou, mais recentemente, o LABIC Barreiro, ou até este movimento mais jovem da MOLA.

Acho de facto muito inspirador estes que são movimentos de cidadãos, de pessoas que estão envolvidas na sua comunidade, e que estão envolvidas na transformação da sua cidade.

 

Há algum lugar barreirense que, em algum momento, tenha servido de inspiração durante toda a sua carreira?

Há um lugar do Barreiro, ou se calhar dois ou três na verdade [risos] que eu recordo com particular importância na minha carreira musical. Um deles são as antigas oficinas da EMEF, actualmente oficinas da CUF, onde fiz um concerto com a Big Band do Barreiro em 2011 – um concerto fortíssimo que ainda hoje tenho memória.

Eu era muito jovem na altura, mas aquela sensação de tocarmos e cantarmos naquele espaço oficinal cheio de gente foi realmente um concerto muito forte, e ainda há pessoas que se lembram desse concerto.

Outro espaço é com certeza o Parque Catarina Eufémia porque também fizemos alguns concertos ao ar-livre, e está muito associado à minha infância e também à infância dos meus irmãos, era o sítio onde eu brincava.

E, por fim, um último concerto – que eu acho que foi dos concertos mais marcantes da minha vida – foi com o meu quarteto na altura [Luís Barrigas, Jorge Moniz e Mário Franco] no Luso.

Foi muito especial porque estava muito calor, foi em Junho, fizemos muito reportório de música de resistência, de cantautores como Zeca Afonso e outros. Foi emocionante porque estava cheio e as pessoas estavam a cantar também, assim com aquele calor. Acho que é um concerto que guardamos mesmo na nossa memória, com um lugar muito especial.

 

A Escola de Jazz do Barreiro, que tanto contribui para o desenvolvimento da música no concelho, o que é que este local significa para si – tendo em conta que foi lá professora de voz?

A Escola de Jazz foi um sítio importante para mim porque foi a primeira escola onde dei aulas, e foi muito importante porque foi lá também que reforcei relações musicais.

Agora esse local tem outra dimensão porque a escola está na Cooperativa dos Corticeiros, que era o espaço justamente da Rádio Sul e Sueste, onde os meus pais tinham os seus programas de rádio e que contavam que eu ia para lá desde muito bebé.

 

Qual é a sua visão sobre a iniciativa “Jazz no Parque”, desenvolvida pela Câmara Municipal do Barreiro?

Não podia ser mais positiva, ainda por cima, quem está na liderança dessa iniciativa e da programação é o Jorge Moniz [meu colega e meu amigo). Acho fantástico porque o programa é sempre muito relevante e é, sem dúvida, uma iniciativa que traz pessoas não só do Barreiro, mas também de fora para assistir a estes concertos, portanto, por um lado acho que coloca o Barreiro numa rede de relevância do jazz nacional, nas programações de Jazz. É fantástico e espero só que continue.

 

Cultivar os jovens barreirenses (e no geral) para o gosto pela música e pelas artes. O que é que falta fazer neste sentido?

Recentemente tem havido algumas iniciativas, e aquelas que tenho estado mais próxima têm sido levadas a cabo por professores. Neste caso na Escola Secundária de Casquilhos, com a professora Helena Sardinha que tem organizado algumas sessões com o nome “Viagem pelo mundo da música” e que que são sessões temáticas sobre música, mas também sobre dança e que depois envolvem os alunos das várias escolas. O que é importante é estas iniciativas serem desenvolvidas com a comunidade. O Barreiro é uma cidade muito grande, com muita população, com centros e periferias e que é importante observar esses eixos com as suas especificidades e perceber quais são as suas necessidades.

Os jovens têm muitas ferramentas, ou pelo menos eles estão disponíveis para receber ferramentas, nas quais eles se sintam envolvidos a construir as coisas. Quanto mais envolvermos as populações – e podemos falar das populações mais jovens – e eles se sentirem envolvidos nestas iniciativas, isto é, não só feito para eles, mas por eles e com eles, é sempre a melhor estratégia. Em relação ao que falta fazer, falou-se há uns tempos de criar um conservatório de música no Barreiro. Isso seria uma mais-valia importantíssima para a cidade, não sei quais são os planos neste momento em relação a esse projecto, mas acho que era algo que faria todo o sentido.

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