Autarca de Alcochete afirma que política cultural da vila ribeirinha envolve costumes e tradições numa visão estratégica de modernidade
Em Alcochete a Cultura assume um papel preponderante na estratégia territorial da vila ribeirinha. O reforço da identidade, dos costumes e tradições assentes numa visão estratégica de modernidade, são os traços fundamentais da política cultural de Alcochete. Fernando Pinto, presidente da Câmara Municipal de Alcochete, explica que existem linhas orientadoras claras sobre a estratégia a adoptar. O autarca, que tem também o pelouro da Cultura, esclarece que esta estratégia passa por ter um projecto cultural abrangente, duradouro e participado, em conjunto com os parceiros públicos e privados, pela valorização da história, identidade e memória colectiva de Alcochete, honrando as tradições.
De que forma caracteriza a cultura no concelho de Alcochete?
A Cultura assume um papel preponderante na estratégia territorial de Alcochete. É um pilar fundamental na valorização da qualidade de vida dos nossos cidadãos, assim como na sustentabilidade económica, social e ambiental da nossa comunidade. O reforço da nossa identidade, dos nossos costumes e tradições assentes numa visão estratégica de modernidade, são os traços fundamentais da nossa política cultural.
Este é um trabalho que também se faz em parceria, por isso é fundamental referir o nosso movimento associativo que muito tem contribuído, de forma abnegada, para a concretização de projectos muito relevantes.
Quais são os princípios estruturantes da política cultural que o município procura seguir?
A nossa política cultural está orientada para um conjunto de acções estruturantes com a envolvência do Movimento Associativo, do Agrupamento de Escolas e dos cidadãos.
Existem linhas orientadoras claras sobre a estratégia a adoptar, sendo elas um projecto cultural abrangente, duradouro e participado, em conjunto com os nossos parceiros públicos e privados; Valorizar a nossa história, identidade e memória colectiva, honrando as nossas tradições; Democratização da criação, do acesso e fruição à cultura; Estabelecer estratégias de trabalho em rede com os nossos parceiros locais, criando oportunidades de partilha e de envolvimento em projectos comuns; Criar públicos, dando sustentabilidade ao nosso projecto cultural; Contribuir para a criação de emprego e riqueza na cultura, captando novos talentos e elevada qualidade na criação cultural; Criar oportunidades de diálogo e cooperação entre o sector cultural, o sector empresarial e científico; Potenciar o turismo, disponibilizando uma oferta cultural de qualidade e excelência e reforçar a nossa estratégia de comunicação e divulgação.
Alcochete abarca realidades distintas, como Samouco ou São Francisco. Como é que estas diferenças são integradas na política cultural do município?
A nossa estratégia passa por estudar o território, as suas dinâmicas, a memória histórica, as tradições e a relação que estas estabelecem com as populações.
A característica que nos distingue é o sentimento muito profundo de pertença, quer seja ao nível do concelho, da freguesia, do bairro, da rua ou da colectividade. Actualmente temos quem cá nasceu e vive, quem estuda, quem trabalha e quem acolhemos, vindos de outras localidades e países.
A nossa estratégia e oportunidade passa pela valorização das relações de todos os cidadãos com a nossa cultura, criando uma verdadeira proximidade.
Acreditamos que, desta forma, teremos uma maior abrangência territorial e que permite aumentar a participação cultural dos cidadãos, garantindo dinâmicas que também estão relacionadas com outras estratégias municipais no âmbito da mobilidade, da educação e da inclusão social.
Que critérios segue o município para a definição da programação cultural?
A relevância e interesse público são critérios fundamentais para a preparação da nossa programação cultural.
É importante que a programação cultural seja diversificada e represente a variedade de expressões artísticas e culturais presentes na nossa comunidade e que passe a incluir diferentes formas de arte, como música, dança, teatro, artes visuais e plásticas, para além da literatura e património.
Uma outra área passa por oferecer uma programação cultural acessível a toda comunidade, com eventos e acções desconcentradas, com preços acessíveis ou eventos gratuitos.
Outro critério é a construção de parcerias e colaborações com associações culturais e artistas locais, a fim de enriquecer a programação e promover a participação da comunidade.
Tudo isto será suportado pelo planeamento estratégico, onde estabelecemos metras e objectivos claros canalizando os recursos disponíveis para as prioridades identificadas.
Da programação anual, há algum evento que destaque?
Da programação anual podermos destacar os projectos culturais “À Volta da Língua – Encontro de Escritores”, que se realiza no início de Maio, com iniciativas que promovem a língua portuguesa, a leitura e escrita; o Festival Internacional do Tejo: uma parceria entre a Câmara Municipal de Alcochete e o Conservatório Regional de Artes do Montijo, com espectáculos de artistas de renome internacional, de música erudita e jazz e que se realiza no início de Junho; o Festival Fado ConVida: festival de fado, que se irá realizar nos dias 22 e 23 de Setembro. O cartaz é composto por artistas de prestígio nacional e internacional; o Festival Internacional de Clarinetes de Alcochete: no final de Outubro.
Este é um projecto de parceria entre a Câmara Municipal de Alcochete, a Sociedade Imparcial 15 de Janeiro de 1898 e o CRAM. Para além dos concertos com bandas filarmónicas, decorrem masterclasses de clarinetes com professores de renome internacional e o Natal: Momento único para as famílias, com animação, workshops, concertos, exposições e mercado de Natal.
Considera que a tauromaquia é fundamental na cultura em Alcochete? Como vê os protestos daqueles que se consideram anti taurinos?
A tauromaquia em Alcochete faz parte integrante da nossa identidade. É o denominador comum nas festividades maiores do Samouco, São Francisco e Alcochete. Integra a nossa cultura pelas raízes ancestrais que consigo transporta. Tudo o resto é um não assunto.
A Câmara Municipal mantém uma relação de proximidade com as associações e colectividades culturais do concelho? De que forma é desenvolvido este trabalho?
Sim, existe uma relação de proximidade, cooperação e diálogo entre a Câmara Municipal e o movimento associativo local. É notória a envolvência em projectos de âmbito cultural que apoiamos directa e indirectamente. Valorizamos as vertentes artísticas e criativas, mas também queremos contribuir para a modernização e melhoria de condições das associações e colectividades.
Foi esta a visão estratégica que desenhámos para o desenvolvimento do nosso Município.
Quais os benefícios económicos que a cultura traz ao concelho?
Uma estratégia cultural próspera é a base de uma comunidade com uma forte identidade e que promove a diversidade cultural e a inclusão. Teremos de ir mais longe, a Cultura melhora a alfabetização, os resultados educacionais, é factor de sustentabilidade da justiça social e da coesão territorial, de valorização da cidadania, da participação pública e da saúde. Uma comunidade artística e cultural activa é significado de uma comunidade forte e com valores. Por isto, este executivo apostou forte na vertente do empreendedorismo, criando a AlcoheteUP, uma incubadora de empresas que também terá a valência da Cultura e que está instalada no Fórum Cultural de Alcochete. É um caso prático e concreto da valorização da Cultura, ligada à investigação e ao desenvolvimento.
A cultura é actualmente acessível a todos os cidadãos do concelho?
A democratização e o direito à igualdade de oportunidades no acesso à cultura, são fundamentais para garantir a plena cidadania de todos. Este é um princípio que nos orienta na construção da nossa estratégia cultural.
A nossa missão, como serviço público, é olhar para estas diferentes áreas de acessibilidade e integrá-las num projecto único. Tendo em conta esta linha orientadora, temos vindo a trabalhar para tornar a cultura cada vez mais acessível e inclusiva, quer seja na vertente social, económica, intelectual, mas também física. Exemplo disso é a gratuitidade das actividades de serviço educativo promovidas pelo sector de cultura, para todos os estabelecimentos de ensino do concelho, a construção de parcerias e apoio directo a instituições locais em projectos culturais desde a música, literatura, dança e teatro, disponibilizamos espectáculos gratuitos para as famílias e para cidadãos com menor capacidade económica.
O número de equipamentos culturais do concelho é o adequado às necessidades e à política que se procura seguir?
O nosso projecto cultural, nos últimos dois anos, tem demonstrado um enorme crescimento, comparativamente ao mesmo período antes da pandemia Covid-19.
No caso concreto do Fórum Cultural, a taxa de ocupação subiu cerca de 40%, após a requalificação do espaço exterior feita por este executivo, o que nos dá uma enorme satisfação. Outro investimento é a requalificação da Igreja da Misericórdia, onde se encontra o Núcleo de Arte Sacra do Museu Municipal e onde irá funcionar o Posto de Turismo. A nossa ambição será sempre procurar as melhores soluções enquadradas com as necessidades identificadas.
A resposta da população à oferta cultural é a esperada?
A nossa realidade tem vindo a evoluir positivamente. Iniciativas que à cerca de 4 ou 5 anos tinham um número muito reduzido de públicos, triplicaram. Este é o resultado de muito trabalho e investimento do actual executivo, mas também das nossas associações e instituições.
Ainda temos um caminho por percorrer, principalmente na criação de um observatório local que irá permitir conhecer melhor os nossos públicos e fazer investimentos em áreas da cultura que são estratégicas para o nosso projecto.
Quais os principais desafios da política cultural municipal actuais e futuros?
O nosso principal desafio é conseguir manter o nível de relevância que a nossa programação cultural atingiu. Pretendemos procurar sempre uma cultura cosmopolita que não deixe de preservar as nossas mais fiéis tradições, mas que seja abrangente em programa e público.