Içar do mastro é ritual recuperado que marca a contagem decrescente para as principais festividades do concelho

Chegou Agosto. Para muitos, mês de férias. Para outros, mês que abraça os dez dias mais importantes e simbólicos do ano. Os outros são nossos, são Barreiro. São rio, devoção, tradição, são o pulsar mais vibrante de um coração colectivo que grita por honrar Nossa Senhora do Rosário e nunca se cansa de bater pelas raízes ancestrais. Os dias são os das Festas do Barreiro, que este ano arrancam a 11 e se prolongam até 20, numa manifestação cultural reveladora da evolução de um ADN ímpar na Península de Setúbal.

A efervescência na comunidade local começa, porém, mais cedo. Um mês antes é dado o sinal, uma espécie de contagem decrescente para o início das comemorações, com o cumprimento de um ritual antigo recuperado que foi em 2015. É erguido aos céus, no Largo de Nossa Senhora do Rosário, o mastro que proclama as festividades. O cerimonial evoca o passado piscatório e a chegada da imagem da Santa ao Barreiro e é precedido de actuação da Banda Municipal e de um cortejo pelas principais artérias da cidade.

A umbilical ligação das gentes locais às águas do Tejo – tal como as celebrações que não se dissociam da gratidão por Protecção Divina – é, assim, traduzida pelo içar do também denominado “painel”, que, de acordo com informação municipal, começou nos primórdios por ser um “mastro de tartaranha (que estava à popa e proa da Muleta)” para mais tarde dar lugar a “mastros de fragata ou dos lugres bacalhoeiros”. Hoje, os bombeiros emprestam arte e engenho necessários para elevar ao alto a tradição reabilitada há menos de uma década, descontinuada que se encontrava desde 1972.

“Estas tradições são sempre importantes, porque acabam por marcar um pouco a vida da cidade. Recuperou-se esta e recuperámos a Procissão Marítima no Barreiro. Tudo isto também ajuda a desenvolver este sentimento do Barreiro, das nossas festas. Não há ninguém que não fique com um sorriso”, lembrou Frederico Rosa, presidente da Câmara Municipal, por altura da concretização do ritual este ano.

Redimensionar a tradição e garantir a sua perpetuação pelas gerações vindouras é o objectivo. “Hoje [8 de Julho passado] com certeza há crianças que, no caminho, perguntam o que está a acontecer e depois os pais vão explicar. Acho que isto é uma forma muito engraçada de se ir passando estas tradições, por via oral, de contar a história e de contar como é que apareceu este envolvimento, de que não nos esquecemos que são as Festas em Honra da Nossa Senhora do Rosário”, afirmou então edil, antes de realçar o peso da tradição. “Este envolvimento também é importante porque remonta quase ao início de tudo isto. E ir passando isto de geração em geração é espectacular”, concluiu.

Cortejo Iniciativa desperta cada vez mais as atenções

Englobado no ritual de proclamação das Festas em Honra de Nossa Senhora do Rosário, antes do içar do mastro, está também um desfile com a Banda Municipal do Barreiro por algumas das principais ruas da cidade. “É por tradição, até porque esta caminhada é feita pela comissão de festas, pelo movimento associativo, por muita gente ligada à Barrind”, destacou Frederico Rosa. “Notamos todos os anos cada vez mais gente a vir às janelas, a filmar, a bater palmas, ou seja, um espírito muito bom”, observou, a finalizar.