26 Junho 2024, Quarta-feira

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Testemunha confirma que as acusadas pela morte de Jéssica lhe pediram lixívia e que se deslocaram a Leiria

Testemunha confirma que as acusadas pela morte de Jéssica lhe pediram lixívia e que se deslocaram a Leiria

Testemunha confirma que as acusadas pela morte de Jéssica lhe pediram lixívia e que se deslocaram a Leiria

Alexandrino Biscaia

No segundo dia de julgamento, vizinha corrobora acusação sobre lavagem da casa onde a menina terá sido maltratada e quanto à viagem em que Jéssica foi usada como correio de droga

 

A primeira testemunha a ser ouvida no julgamento do homicídio de Jéssica Biscaia, a menina de três anos que morreu em Junho de 2022, que está a decorrer no Tribunal de Setúbal, corroborou dois aspectos relevantes da acusação, que as arguidas lhe pediram lixivia e que estiveram em Leiria.

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Uma vizinha e conhecida das arguidas confirma que Ana Pinto, conhecida como ‘Tita’, lhe pediu lixívia no dia 20, o dia em que a criança morreu, e que não lhe deu porque não tinha esse produto. A lixívia é relevante porque, de acordo com a acusação, a casa foi lavada depois de Jéssica ter sido entregue à mãe, no dia em que morreu, a 20 de Junho de 2022.

A vizinha disse também que, nesse dia, Ana Pinto e Esmeralda Montes lhe ligaram várias vezes e acabaram por ir a sua casa às 19 horas a pedir para acolher a neta em sua casa. “A Tita disse-me: ‘a Esmeraldinha fica aqui um bocadinho que nós temos de ir a casa ver o que se passa, está lá a policia, deve ter sido alguma coisa que o meu Eduardo fez’”, relatou esta testemunha. Já sobre as práticas de bruxaria disse não ter tido conhecimento. Diz que raramente via Justo Montes, Ana Pinto e Esmeralda Montes todos juntos. “Só quando iam receber o RSI [Rendimento de Inserção Social] é que os via juntos, ao senhor Justo geralmente só o via sozinho, na rua, para baixo e para cima”.

Esta testemunha afirmou também que, no dia 18, por volta das 17h20, encontrou o arguido Justo Montes que lhe disse que a mulher e a filha estavam em Leiria. Confrontada por um advogado e pelo juiz, a vizinha afirmou ter a certeza da hora e do dia. “Foi mesmo no sábado”, atirou.

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No dia 21, a vizinha foi a casa da mãe de Jéssica para lhe transmitir as condolências pelo falecimento da menina. “Não vi uma mãe que está triste por perder um filho ou a chorar. Dei-lhe os sentimentos e ela ficou calada”, referiu. De acordo com este testemunho, Inês Sanches ia com frequência a um estabelecimento de karaoke, à tarde, e, às vezes, levava a pequena Jéssica.

O depoimento da vizinha contraria o que disse anteriormente o arguido Justo Montes que, quando prestou declarações, não confirmou a viagem a Leiria.

Neste segundo dia de julgamento foi também ouvido Eduardo Montes, o único dos cinco arguidos que não está em prisão preventiva. Acusado de tráfico de droga e de um crime de violação, por alegadamente ter participado na introdução de um invólucro de droga no ânus de Jéssica, este arguido negou tudo.

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Eduardo Montes alega que estava em Espanha

Eduardo Montes alega que, na semana que Jéssica passou na casa dos seus pais, ele esteve em Sevilha, Espanha, de férias, e só regressou dia 18 já à noite.

“Regressei num sábado, salvo erro dia 18, perto das 22 horas, para casa. A minha mãe estava na varanda. Subo a escada, o meu pai veio à porta da minha casa, deu um beijinho aos meus filhos, e entrei em casa para descansar, estava cansado. No outro dia acordei por volta das 10 horas, saí, com a minha mulher, fomos fazer compras para casa, ao Pingo Doce, e o resto do dia fiquei em casa a descansar. Na segunda-feira fui levar os meus dois filhos à escola, fui dar um passeio com a minha mulher, almoçámos, comemos um prego no Novo 10, depois fui entrar o carro alugado e, já de táxi, apanhei os meus filhos na escola. Quando chegámos a casa vimos um carro da polícia à porta.”, relatou Eduardo Montes.

Confessou que consome haxixe mas diz que nunca consumiu outros estupefacientes, como cocaína ou heroína. Acrescentou que não foi com a família na viagem a Leiria. “Fui uma vez a Leiria, ver o meu avô, um mês antes, apenas com a minha mulher e os meus filhos”. Não teve conhecimento da sua mãe e irmã terem ido a Leiria nesse fim-de-semana.

Questionado sobre como recebeu a notícia da morte da menina, respondeu que foi uma surpresa e um choque. “Fiquei surpreendido, fiquei chocado. Nunca imaginei, na minha vida, uma coisa destas acontecer.”, disse.

“Só tinha visto a criança lá em casa uma vez, cerca de dois meses antes. Vinha a descer as escadas, a minha mãe tinha a porta aberta, e eu vi-a. A minha mãe disse-me que era filha de uma amiga que tinha ido trabalhar e que não tinha com quem a deixar e que lhe pediu o favor. Vi a criança, estava na sala, a brincar com um brinquedo. Eu disse à minha mãe: “vê lá, tu não tens condições para ter crianças.”, acrescentou.

Diz que “não ouviu nada”, quanto a barulho de crianças nesses dias.

Foram exibidos aos dois arguidos os dois “ovinhos” de metal, um alicate e uma tesoura, encontrados o bolso do casaco de Justo Montes, e ambos os acusados disseram não saber de quem são esses objectos.

Eduardo Montes, que tem dois filhos, um deles de idade aproximada à de Jéssica, disse que, quando necessitava, era com o pai que deixava as crianças e não com a sua mãe, Ana Pinto, porque confiava mais no pai, a mãe era “mais desacertada”.

Quando o seu advogado de defesa, Paulo Camoesas, lhe perguntou que implicações teve a acusação na sua vida, designadamente a de um crime de violação, de o arguido disse que a sua família, referindo-se à mulher e aos filhos, tem sofrido.

“As pessoas olham para mim como um monstro. Jamais deixaria alguém fazer mal a uma criança à minha frente. Tenho dois filhos.”, declarou.

A continuação do julgamento, com a audição das restantes sete testemunhas de acusação, está agendada para os dias 12 e 15 de Junho.

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