Instituição de caridade de Santiago do Cacém debate-se todos os meses com a falta de bens alimentares nas prateleiras
Os pedidos de ajuda de pessoas carenciadas estão a aumentar junto da Conferência Vicentina, instituição de caridade de Santiago do Cacém que, todos os meses, se debate com a falta de bens alimentares nas prateleiras.
Na porta de entrada da Conferência Vicentina de São Tiago e São João de Deus, um antigo edifício do centro histórico de Santiago do Cacém, são cada vez mais os rostos de quem precisa da ajuda alimentar distribuída mensalmente pelos voluntários, que receiam dias piores devido à crise.
“Agora, para o mês que vem é no dia 21, não se esqueça”, repete Maria José, ex-presidente da instituição e voluntária há cerca de 30 anos, sempre que um cabaz sai das suas mãos.
A voz, do fundo da escadaria, ouve-se na fila que se forma minutos antes da entrega mensal dos mais de 60 cabazes, arrumados em mesas numa das salas do edifício histórico.
“Temos muitos utentes. Todos os dias nos aparecem pessoas novas e está a ser complicado”, diz Maria José à agência Lusa. Os pedidos aumentaram nos últimos meses, assim como as dificuldades da conferência em garantir alimentos para todos.
Este mês “não tínhamos azeite, não tínhamos leite, não tínhamos salsichas e tivemos de ir comprar”, caso contrário “não tínhamos quase nada nos cabazes para ajudar estas pessoas”, garante.
Pessoas como Maria Leonor, empregada de limpeza, em Santiago do Cacém, que viu a sua situação agravar-se “um bocadinho” nos últimos meses por falta de “casas para trabalhar” e devido à “subida dos preços” dos alimentos.
“Venho buscar alimentos porque preciso, não é”, responde à pergunta da Lusa, enquanto troca as poucas latas de feijão e grão do cabaz para o saco que tem nas mãos.
De olhos cabisbaixos, a mãe solteira, com dois filhos a seu cargo, reconhece que leva no seu saco “uma ajuda muito grande, especialmente para os meninos”.
“Pelo menos na massa e no arroz, que é aquilo que não posso ir comprando agora”, frisa.
Em declarações à Lusa, a presidente da Conferência Vicentina, Ana Silva Fernandes, contabiliza um aumento “de cerca de 48 para perto de 62 cabazes” alimentares “nos últimos seis meses”.
A maior preocupação “é a redução acentuada” dos bens que são fornecidos pelo Banco Alimentar, vinca a responsável desta organização de Santiago do Cacém, que “vai sobrevivendo” com “alguns donativos” de “almas caridosas” que “servem para comprar os bens que estão em falta” no armazém.
Numa das salas do edifício, onde outrora já funcionaram uma escola primária e a antiga ‘Sopa dos Pobres’, a voluntária Otília Mendes separa a pouca fruta e alguns frescos disponíveis, enviados pelo Banco Alimentar, e agrupa-os em pequenos sacos.
Com o recente aumento dos pedidos, as prateleiras passaram a estar mais vazias, já se tornou hábito. Mas, na visita da Lusa, não é o caso.
“Presentemente as prateleiras até estão recheadas porque [os produtos] foram comprados pela conferência, desde azeite, óleo, bolachas, salsichas ou atum”, explica.
Segundo a voluntária, “antes de esta crise estar implantada”, a maioria das pessoas pedia ajuda [à Conferência Vicentina] porque perdia o emprego”, mas agora “é porque o dinheiro não dá para tudo”.
“As pessoas têm os vencimentos e as reformas muito pequenos e, para quem tem filhos, é complicado”, argumenta.
Para o Natal, a Conferência Vicentina, que conta com 14 voluntários, desdobra-se em iniciativas, como a tradicional Venda de Natal, onde angaria verbas que garantam um “cabaz mais completo” com “azeite, bacalhau e bolo-rei” para estas famílias.