Comerciantes reconhecem aumento dos preços em produtos do dia-a-dia, como o pão, o café e o papel. A maioria, porém, acredita que o período natalício poderá beneficiar as contas
Adivinha-se um Natal menos desafogado para muitos portugueses, numa altura em que os preços de uma maioria de produtos têm-se mantido demasiado elevados, como consequência dos impactos da guerra na Ucrânia em vários sectores da economia.
Em Setúbal, os lojistas do comércio tradicional já acusam os efeitos da inflação galopante e não escondem que muitos clientes já pensam duas vezes antes de comprar, ou deixam mesmo de o fazer.
É o que tem acontecido cada vez mais na Papelaria Escolar, negócio que Carla Mercedes tem de porta aberta no Largo da Misericórdia, na Baixa, há sete anos. “Tenho clientes ao longo de todo o ano, pois além de material escolar também vendemos materiais didácticos, tintas, brinquedos, mochilas e lembranças”, conta a O SETUBALENSE.
Mas há um produto em particular que tem subido: o papel. “Já aumentou 10% ou mais”, atira de cabeça. “Antigamente, vendia uma resma de 500 folhas de papel a quatro euros. Hoje, teria de a vender a seis ou a sete. Está tão caro que já nem compro”, frisa a lojista com 20 anos de experiência na área da papelaria.
O papel está mais caro e isso reflecte-se em todos os outros produtos, como cadernos e blocos de notas. Face a isso, diz, os clientes estão a “retrair-se num pouco de tudo”. “Compram menos… A maior parte das pessoas, às vezes, já nem compra”.
A percepção de que está tudo mais caro é transversal a vários negócios na Baixa. Que o diga Marques André Bacalhau, de 30 anos, atrás do balcão da cafetaria e loja gourmet Pão Doce, que gere com a mãe.
O pão – que lhes é entregue fresco, todos os dias, por panificadoras da região – é dos bens que mais tem registado oscilações de preço. “Antes do início da guerra uma carcaça custava 25 cêntimos, valor que já aumentou três ou quatro vezes este ano”, explica.
“Ao cliente levamos o preço que achamos essencial, mas não dá para suportar muito o custo. Já reflectimos o aumento no preço final. Torna-se complicado, porque este é um negócio de família, também somos consumidores e também nos custa”, assume o jovem. “A pastelaria também tem tido um aumento muito grande, devido às matérias-primas, assim como os produtos gourmet. Um bombom custava um euro e agora custa 1,50 euros. É complicado”.
Anabela Belém é cliente da casa há 12 anos, todos os dias pede o seu “abatanado e um pãozinho” e confessa que, salvo grandes alterações de cenário, continuará a frequentar o café “enquanto puder”.
“Noutro lados já há pessoas que vendem o pão mais caro, mas aqui o preço ainda está razoável. Por isso, enquanto puder virei sempre. [Mas] não vou pagar um pequeno-almoço de 20 euros”, garante, enquanto novos clientes se dirigem ao balcão da loja.
Nas movimentadas ruas da Baixa há também negócios que acabaram de chegar, em pleno contexto adverso para o consumo. “Somos uma loja nova”, diz Joan Silva à porta da nova Daniela Gourmet. “Ainda estamos a começar, então sentimos algumas dificuldades”, confessa.
Vendem vinhos portugueses e internacionais, azeites, conservas, temperos, cervejas artesanais, produtos de conveniência, charcutaria, queijos e pastelaria, assim como
refeições.
“Temos sentido aumentos na carne, no peixe, no pão e até nos vinhos. Em Agosto, uma garrafa de vinho de uma marca era um preço e daí para cá aumentou uns cinco euros”, revela o jovem. “Acabamos por refletir o aumento do custo de compra nos preços finais. É normal, devido à situação da guerra, os combustíveis, a energia… até a água está mais cara. Está tudo a aumentar. Para nós então ainda é mais difícil porque somos novos” no comércio local, diz.
Com o Natal à porta e o incentivo natural ao consumo, muitos comerciantes esperam conseguir equilibrar as contas. “Até ao Natal não vai haver problema. Poderá haver depois”, prevê Margarida Lança, da loja de meias, calçado e acessórios A Meias, perto do Largo da Misericórdia.
Alguns artigos estão “dez euros mais caros” que o ano passado, ain- da assim, a lojista adianta que graças ao tipo de clientes que têm “não se tem sentido muita diferença”.