Iniciativa da associação Lifeshaker recria o ambiente de um aeroporto e tem como destinatários jovens em situações de pobreza e exclusão social.
A ideia para o desenvolvimento do “Jobs Airport” surgiu em 2019, a partir de um desafio lançado pela Divisão de Intervenção Social da Câmara Municipal de Almada à associação juvenil Lifeshaker, sediada no município, para criar um projecto candidato ao Portugal Inovação Social destinado à comunidade cigana.
Nasce, assim, nas palavras de Patrícia Gil, coordenadora de projectos da associação, “uma incubadora de inovação social, que se assume como pioneira a nível nacional face a outras existentes por envolver como destinatários prioritários jovens em situações de pobreza e exclusão social, focando e envolvendo de forma específica e inclusiva segmentos da população sub-representada no domínio do empreendedorismo a nível nacional, nomeadamente mulheres, migrantes e indivíduos pertencentes à comunidade cigana”.
A O SETUBALENSE, conta ainda que a Lifeshaker, entidade promotora, acredita que “a mobilização do talento, energia e criatividade dos mais jovens para a gestão e resolução dos seus próprios problemas é a solução mais eficaz e eficiente para se alcançar a ruptura dos ciclos de pobreza que se perpetuam na nossa cidade, no nosso país” e que neste sentido “muitos destes jovens do concelho podem impactar a nossa sociedade, contribuindo com as suas ideias para torná-la mais justa, igualitária e solidária”.
457 participantes, cinco ideias, cinco protótipos e 12 pilotos de negócios sociais
Este “Jobs Airport”, que promove o trabalho digno e o crescimento económico, nomeadamente no apoio à criação de emprego decente, através do empreendedorismo social, da criatividade e da inovação, actua em contexto comunitário e escolar e tinha como meta inicialmente contratualizada a integração de 17 jovens no mercado de trabalho.
O apoio prestado à comunidade juvenil tem sido desenvolvido no sentido de projectar a experiência de cada participante num modelo sequencial que recria o ambiente de um aeroporto, organizado em várias etapas. Desde o check-in, onde são identificados os participantes, serviços disponíveis e necessidades de capacitação, o processo passa ainda pela monitorização de impactos no participante, pela capacitação para o empreendedorismo social e pelo reconhecimento e validação da aprendizagem não formal e formal, até às departures, área na qual é prestado apoio à prototipagem de iniciativas de empreendedorismo social. Na zona de chegadas, está a incubação e aceleração de negócios, que terminam depois na hall of fame, com a disseminação de casos de sucesso.
Ao longo do trajecto estão ainda disponíveis apoios de acompanhamento psicossocial, aconselhamento e orientação profissional, actividades de team building e networking de participantes, e acesso a um ecossistema de oportunidades externas.
No ano 2020/2021, o projecto contava com 341 jovens capacitados para o empreendedorismo social, 21 jovens empregados e um impacto económico gerado pelo projecto de cerca de 113 mil euros, dos quais aproximadamente 64.172€ são remunerações de emprego dos jovens. Até ao presente, este “aeroporto” envolveu contou com 457 participantes e apoiou o desenvolvimento de cinco ideias, cinco protótipos e 12 pilotos de negócios sociais.
“Mais que um ombro”, que pretende capacitar jovens enquanto dinamizadores de primeiros socorros em saúde mental, “Corta o preconceito”, que visa dar visibilidade a histórias de jovens vítimas de discriminação, racismo e preconceito, “Nuvem rabina”, que lançou uma plataforma de e-commerce adaptável a qualquer tipo de empresa, “Um café com asas” e “Coobi”, estes dois no âmbito do programa Bairros Saudáveis, são alguns dos exemplos resultado da implementação da “Jobs Airport”, que possibilita, assim, criar um ecossistema de suporte ao empreendedorismo social juvenil a nível concelhio.
Neste momento, “aproximamo-nos do término dos 28 meses aprovados pela candidatura submetida ao Portugal Inovação Social e nesta fase uma parte significativa da nossa energia está a ser orientada para garantir a continuidade do projecto para além da actual vigência”. Para Patrícia Gil e a equipa da Lifeshaker, “se ao nível do investimento público, novas oportunidades de financiamento estão a ser consideradas, acreditamos que a activação de interesse por parte de entidades privadas é fundamental para a criação de uma estratégia que possibilite o crescimento e a sustentabilidade do projecto” e por isso “novos projectos de impacto estão a ser desenhados em conjunto com parceiros privados, ultimando-se pormenores para o anúncio dos dois primeiros, ainda no decorrer deste ano”.
Jovens partilham experiências
Isael Silva, de 23 anos, trabalhou no projecto “Este país é para ciganos”, da Associação Lifeshaker, enquanto dinamizador comunitário durante nove meses e considera que tal lhe abriu portas “para o desafio de ser mediador intercultural na escola onde fui aluno. Teve um grande impacto na minha vida, pela oportunidade pessoal e profissional que me deu”.
Cátia Godoroja, por sua vez, tem 21 anos e o “Jobs Airport” permitiu-lhe construir o projecto “Mais que um ombro”, dando-lhe “todo o apoio ao nível de mentoria e de recursos. Foi e é um projecto de proximidade que todos os dias está presente para o que precisamos”.
Também para Keveni Fernandes, com 23 anos, o “Jobs Airport” conseguiu ser uma mudança de vida: “a minha carteira e a minha cabeça mudaram. Tive a oportunidade de arranjar emprego e assim poder ter uma vida decente, sustentar-me e ganhar a minha independência”.