André Martins visitou zona afectada por descargas de resíduos industriais e prometeu medidas de emergência se a Agência Portuguesa do Ambiente não actuar rapidamente
Sofia Isabel António (texto)
Mário Romão (fotos)
O presidente da Câmara de Setúbal exigiu este sábado a intervenção das autoridades do ambiente para acabar com as causas das descargas industriais que estão a poluir as linhas de água na zona da Mourisca, nomeadamente a Vala Real.
Há quatro meses que os moradores da Freguesia de Gâmbia-Pontes-Alto da Guerra se queixam do mau cheiro que se faz sentir nos terrenos junto ao Centro Empresarial Sado Internacional. Análises químicas já realizadas pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) descartam a possibilidade de contaminação por resíduos domésticos, apontando para a alteração da qualidade do ar e da água pelos resíduos não tratados da intensa actividade industrial existente no local.
Entre sujidade acumulada nas valas que atravessam as várias propriedades, o destino destes resíduos é a Reserva Natural do Estuário do Sado, onde residem centenas de espécies, entre elas ameijoas e ostras.
Junto ao restaurante Baía, situado na Rua da Baía do Sado e considerado um ponto de referência nesta zona, observa-se a formação de lodo escuro num pequeno lago. O proprietário, António Galo, relembra que nele existiam patos, e que “hoje não tem aqui nada”.
Uma residente na zona da Mourisca, que não quer ser identificada, conta que, de noite, o cheiro é tão intenso que às vezes se levanta nauseada. “Acabamos por estar desesperados”, confessa. A moradora menciona, ainda, a falta de uma rede de saneamento e esgotos que sirva as habitações, apenas a uma curta distância da cidade.
Luís Custódio, presidente da Junta de Freguesia, aponta para o deficiente funcionamento da ETAR que serve o complexo de empresas, afirmando que uma das soluções para o problema pode passar pela sua limpeza. Ainda assim, coloca-se a possibilidade de haver uma descarga directa de resíduos industriais na vala real, à saída da área industrial.
Perante os acontecimentos, André Martins garante que o primeiro passo para a resolução do problema tem de ser dado pela administração do Centro Empresarial, cujo papel é perceber qual ou quais as empresas responsáveis pelos despejos.
O presidente da Câmara de Setúbal pede a intervenção da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) e da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Alentejo, para, junto dos proprietários das terras, promover a limpeza das valas, no sentido de evitar a formação de lodo.
O autarca diz que se estas entidades não actuarem, “têm de ser decretadas medidas de emergência e só aí a Câmara poderá intervir.” Como último recurso, para que os direitos dos moradores sejam considerados, o presidente da autarquia fala em manifestação popular, e deixa a promessa de que, na próxima semana, o assunto será abordado em reunião de Câmara.