Jovem de 23 anos tem na natação o seu ponto mais forte para a competição no paratriatlo
Depois de experimentar vários desportos, foi no triatlo que Filipe Marques se sentiu verdadeiramente bem, por ser “a junção perfeita”. “Tem três modalidades – natação, ciclismo e corrida –, logo não há aquela monotonia de ser praticar só uma coisa”, revela o jovem de 23 anos. Tinha 11 anos quando foi desafiado, por aquele que viria a ser o seu primeiro treinador, a experimentar triatlo. “Veio falar comigo e perguntou se queria tentar. Falou um bocado comigo, a explicar o que era o triatlo e eu gostei da ideia”. Tanto que nunca mais parou.
Entrou nessa altura para a Associação Naval Amorense e, desde aí, o tempo tem sido o seu maior aliado. “Estive nove anos na associação e, em termos de triatlo, fui progredindo com o passar dos anos”. Já em 2018, ainda na mesma colectividade, o atleta de Almada é convidado a integrar o paratriatlo na sequência de um problema que tem na perna. “Nasci com pouca mobilidade na tibiotársica, o que faz com que tenha pouca flexibilidade e também menos força na perna esquerda. Além disso, o meu pé é cavo, de forma muito acentuada, o que agrava um pouco a situação. Foi algo que se foi acentuando ao longo da adolescência”.
Aceitou então o desafio, mesmo sabendo que “o triatlo e o paratriatlo têm algumas diferenças”. “Na bicicleta, por exemplo, é sem drafting, ou seja, não podemos andar juntos, o que acaba por ser um bocado em contra-relógio. Além disso, tive de me habituar a treinar sozinho, mas isso foi algo motivante. Fez-me melhorar”. Numa fase inicial, confessa que “não estava tão forte”, mas conseguiu “progredir com algum trabalho”. De tal forma que, em 2021, dois anos após “sair do Amorense e passar para o Sporting Clube de Portugal”, alcançou o seu “primeiro pódio internacional, ao conquistar o bronze no Campeonato da Europa, em Valência”. “Fui para o Sporting porque o clube tem outros meios e proporciona outras oportunidades. Umas semanas depois tive nova vitória, na Taça do Mundo, realizada em Alhandra”, conta.
Ponto forte é natação, depois de futebol desiludir
Das três modalidades que compõem o paratriatlo, Filipe diz seguramente que é mais forte na natação, até por já estar habituado dos tempos de miúdo. “Comecei a nadar com nove anos. Aliás, até foi nas aulas que fui desafiado a experimentar o triatlo. Treinava na Piscina Municipal de Amora e, como tenho essa experiência, é mais fácil a natação”. No entanto, não foi dentro de água que Filipe se estreou na prática desportiva. Começou no futebol, com “6 ou 7 anos”, por influência do irmão, que jogava nos juniores do Seixal. “Comecei no Seixal Futebol Clube, por iniciativa própria, ao ver meu irmão a jogar. Também quis experimentar”. No entanto, a determinada altura explica ter-se apercebido “que não queria continuar”. “Gostava muito, mas comecei a achar que aquilo não era para mim e fui para a natação”.
Selecção surge em 2018 e medalha olímpica está para vir
Há quatro épocas que o jovem de Almada está ao ‘serviço’ da selecção nacional, camisola que vestiu “com orgulho”. Já alcançar uma medalha olímpica é o próximo objectivo que quer alcançar, depois de ter ficado ‘às portas’ da qualificação para Tóquio na categoria PTS5, para atletas com deficiências leves. “Não só quero ir a Paris 2024, como quero fazer um grande resultado. Ser o melhor é o meu objectivo, assim como o é alcançar sempre melhores resultados”, ambiciona o jovem, que diz ser “muito resiliente e um exemplo para muitos”. “Que o início da minha carreira sirva de exemplo. Tenho a capacidade de dar a volta por cima. Não tive os resultados que queria e não desanimei. Isso fez com que chegasse até onde estou hoje. Este foi o meu melhor ano”, reconhece.
Ciências do Desporto não são prioridade, mas são salvaguarda
Em simultâneo, Filipe está no segundo ano da Licenciatura em Ciências do Desporto na Faculdade de Motricidade Humana, em Lisboa, apesar de o curso “não ser a prioridade”. “O meu foco são os treinos. Aos poucos vou evoluindo no curso. Enquanto o paratriatlo durar, é o que quero fazer. A longo prazo, quando deixar de competir, quero que a minha carreira continue ligada ao desporto, daí ter escolhido este curso.
Talvez vá para treinador da modalidade ou professor. Quando chegar a altura escolho o que for melhor”. Na faculdade, apesar de ter o estatuto de alto rendimento, Filipe confessa que é “um pouco difícil conciliar as duas coisas, mas é tentar arranjar tempo para tudo”. Sobre a preparação física, realça que treina todos os dias, “entre duas a três horas”. “De manhã dedico-me à corrida e bicicleta, em Fernão Ferro, e à tarde vou para as aulas, no Jamor, onde tenho o treino de natação”.
No entanto, o jovem chega também a ir treinar a Lisboa, que é onde está a sua equipa. “Também pode haver dias em que vou ao Multidesportivo do Sporting”, acrescenta. Em retrospectiva, Filipe confessa que “não mudava em nada” o seu percurso. “É o que mais gosto de fazer. Para mim, competir é a justificação para o treino, que representa a força com que vou conseguir atingir os meus objectivos”. E como é nas competições que diz mostrar as suas valências, Filipe enumera os locais onde já esteve a lutar por um lugar de destaque: “Já estive duas vezes em Yokohama, no Japão, estive na Estónia, duas vezes em Valência e duas em Corunha. Fui a França, estive em Abu Dhabi no ano passado, para o Campeonato do Mundo, e em Inglaterra. Já corri parte do Mundo”. As próximas paragens vão acontecer no País de Gales, Turquia, em Outubro, e Abu Dhabi novamente, “em finais de Novembro, para terminar a época”.
Filipe Marques à queima-roupa
Idade 23 anos
Naturalidade Almada
Residência Fernão Ferro, Seixal
Área Triatlo
Mesmo tendo ficado ‘às portas’ da qualificação para Tóquio, desistir nunca foi opção, com foco a ser agora trazer medalha olímpica em 2024