Até descobrir a costura, a setubalense Sofia Ah Chak sentia-se “perdida na vida”. Hoje, tem uma marca de roupa de praia confeccionada à mão e ambiciona tornar se costureira profissional
É entre linhas e agulhas que Sofia Ah Chak se sente realizada. Com 22 anos e “muito sangue na guelra” começou a dar ouvidos ao desejo que a persegue desde criança e, hoje em dia, ambiciona tornar-se costureira.
Tudo começou aos cinco anos, no restaurante dos avós, onde passava as tardes entretida a desenhar roupa nas folhas das mesas.
“Desenhava sobretudo vestidos de noiva e mayots”, relembra a setubalense. “Acabava mesmo por criar peças com a minha avó. Costurávamos roupa para as bonecas. Era bastante divertido ver as ideias passarem do papel para a realidade”.
Cresceu com a ideia de se tornar designer de moda, mas, terminado o curso de Humanidades no ensino secundário, a família teve um papel preponderante na decisão do rumo a tomar.
“Abriram-me os olhos”, conta. “Nunca me proibiram de nada, mas mostraram-me a realidade. É muito difícil construir um percurso na área, em Portugal. Mentalizei-me disso e comecei a pensar em alternativas”.
Os vários planos B
A partir desse momento teve de encontrar um “plano B” e admite ter “andado perdida na vida”. “Sempre tive vontade de ser tudo e mais alguma coisa e não sabia bem onde poderia ser feliz”, confessa a jovem.
Fez provas de recrutamento para a PSP e ponderou seguir Investigação Criminal, mas confessa não ter resultado. Em 2018, chegou a entrar no curso de Gestão Marinha e Costeira, na Universidade do Algarve, mas bastou um mês para perceber que ‘não era a sua praia’.
No ano seguinte, seguir Jornalismo pareceu-lhe a opção correcta. “Via o Inspector Max e queria ser como a Júlia [personagem]”, ri. “Gostava de escrever e pensei que fosse o suficiente”. Ao fim de três anos de licenciatura no Instituto Politécnico de Lisboa, teve a certeza de que não se sentia realizada.
“No fundo, eu sempre soube o que queria [costura], mas descartava a ideia com medo de que não desse certo”.
A reviravolta
Foi em 2020, ano de pandemia e sucessivos confinamentos que Sofia teve o tempo que precisava para pensar no que realmente queria para o futuro.
“Estava farta de fazer coisas de que não gostava e pensei que tinha de parar de dar ouvidos às pessoas e fazer o que gosto. Tirei um curso de costura na Maria Modista, em Setúbal, e aventurei-me a costurar”, conta.
Ao fazer a primeira peça, um fato de banho, soube que o seu futuro passava pela costura. Tirou um ano para “aperfeiçoar a técnica” e, em 2021, deu um passo importante: criou a ‘Maika’i’, “Sente-te bem”, em português, uma marca de roupa de praia confeccionada à mão.
‘Maika’i’, a forma de Sofia se sentir bem
Com uma marca própria, a jovem não só se diverte a escolher tecidos e a descobrir as tendências do próximo Verão, como acredita fazer a diferença na indústria da moda.
“Faço roupa para pessoas reais com corpos reais. Adoro praia, adoro piscina e sei o que é sentirmo-nos reticentes com o nosso corpo”, revela.
Constrói cada peça adaptada ao gosto e corpo dos clientes e sabe já ter aumentado a auto-estima de diversas pessoas.
“Já me aconteceu uma rapariga receber umas cuecas tal como as tinha encomendado, mas perceber, à última da hora, que preferia maiores. «Mas foi assim que você pediu», disse-lhe eu. «Tem razão. Tenho de começar a mostrar o meu corpo e isto até me dá confiança» foi a resposta dela”.
Não só as clientes se sentem satisfeitas com o que vestem como a própria Sofia demonstra ter encontrado o rumo certo: “Adorava viver só para a costura”.
Além da marca, trabalha num bar de praia para poupar o suficiente para tirar um curso de costura certificado e, mais tarde, ambiciona dar aulas na sua própria escola de costura.
“Se fizermos o que gostamos é meio caminho andado para sermos bem-sucedidos”, conta a rapariga.
Fotografia: Nuno Tátá