Ângelo Pais: Atleta setubalense sonha competir no maior evento desportivo do Mundo

Ângelo Pais: Atleta setubalense sonha competir no maior evento desportivo do Mundo

Ângelo Pais: Atleta setubalense sonha competir no maior evento desportivo do Mundo

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Jovem que já arrecadou várias medalhas em modalidades como o andebol, atletismo e equitação diz ter nascido “para o desporto”

 

Ângelo Pais foi diagnosticado com deficiência intelectual. Aos 29 anos não sabe ler nem escrever, mas com “disciplina e força de vontade” o jovem tem estado em destaque no desporto nos últimos anos.

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Residente no Bairro da Bela Vista, entrou aos sete anos na Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Defi ciente Mental (APPACDM) de Setúbal, instituição que procura dar resposta às necessidades, potencialidades e expectativas da pessoa com deficiência. O jovem tentou ainda frequentar o ensino regular, mas “não se adaptou”. Já quando entrou na associação, sentiu que “além de uma escola, aquela era uma segunda casa”.

“Quando entrei, foi um pouco difícil adaptar-me à vida fora dali. Sofria bullying. Tive também fases complicadas com a minha família, que à excepção dos meus irmãos e mãe, não me apoiavam muito”, refere Ângelo, revelando que, apesar dos períodos difíceis, acredita que “se não passasse por esta experiência, não tinha alcançado” o que tem hoje.

O jovem setubalense recorda que foi a instituição que o integrou no mercado de trabalho e que o ajudou a iniciar-se no desporto. “A APPACDM tem várias modalidades de desporto disponíveis para os alunos. Foi por volta dos dez anos que iniciei a actividade desportiva”, conta.

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Com diversas medalhas conquistadas no andebol, foi através da União Desportiva para a Inclusão (UDI), clube da APPACDM, que Ângelo começou a praticar a modalidade aos 18 anos, onde permanece até hoje.

Na época 2016/2017 foi convocado para a Selecção Nacional de Andebol Adaptado, tendo se sagrado campeão europeu e bicampeão da Zona Sul. “Esta conquista representou um orgulho por toda a caminhada e por todos os momentos em que as pessoas achavam que eu não iria ser nada na vida,” sublinha o jovem.

“Acho que isto pode ter sido um exemplo para os outros e uma prova em como não são apenas os profissionais que têm o direito a sonhar. Esta foi a recompensa por todo o meu trabalho”. Desde então, Ângelo tem vestido todas as épocas a camisola de Portugal.

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Andebol não é sucesso único, com pódios no pentatlo e equitação

No mesmo ano, o atleta foi convidado a ser embaixador de ‘Setúbal Cidade Europeia do Desporto’, além de ter sido considerado o melhor atleta masculino de desporto adaptado de Setúbal. Já em 2018/2019, voltou a sagrar-se campeão europeu de andebol adaptado.

Contudo, Ângelo já havia arrecadado medalhas em outras modalidades. Em 2014/2015 foi campeão mundial de pentatlo, nos Jogos Especiais Olímpicos, em Los Angeles. Ao alcançar a vitória nas cinco provas da modalidade, o jovem diz que a conquista “foi uma emoção autêntica” e, mais uma vez, fruto do seu trabalho.

“Na altura, várias pessoas depositaram muitas expectativas em mim e, se o fizeram, eu tinha de superar aquilo. Fui sem prometer que conseguiria, mas consegui”, confessa.

Já na equitação, venceu, por duas vezes, o Campeonato Nacional de Equitação ‘Special Olympic Portugal’, no escalão A, e alcançou o primeiro lugar nas Olimpíadas da Equitação Adaptada, em Ponte de Lima, nas provas de gincana e volteio, no escalão mais alto.

Desporto adaptado está “apagado” e com “falta de apoios”

Apesar do sucesso, o atleta confirma que o desporto adaptado está “um pouco apagado” e com “falta de apoios”. “Se tivéssemos um bocadinho mais de apoio acredito que este tipo de desporto estava um pouco mais evoluído”, sublinha.

Ainda assim, garante que “a forma como se pensa infl uencia bastante os resultados”. “Se eu cheguei até aqui tenho a certeza de que consigo chegar mais longe. Depende tudo da força de vontade e do quanto puxamos pelas nossas capacidades”, refere.

Com resultados à vista, o atleta diz ter aprendido de que “por vezes, não se pode ligar ao que as pessoas dizem”. “Sofri um bocado na vida para mostrar que não são só as pessoas ‘normais’ que têm capacidades. Os miúdos com ‘problemas’ também as têm para subir na vida”, assegura.

Por morar num bairro social, Ângelo afirma sentir a responsabilidade de ajudar os mais novos. “Pouco a pouco, tenho vindo a conduzir e orientar algumas crianças que foram entrando na APPACDM. Costumo dizer-lhes para serem elas próprias e que não podem ficar tristes com o que as pessoas pensam delas. Devem é de tirar proveito do que têm. Não podemos mudar quem somos por atitudes das outras pessoas”, conta.

Com o papel representativo que possui na vida destas crianças, o atleta diz sentir-se “muito feliz por os ver sorrir” e garante fazer “o que pode” por elas. “Se todos pensassem desta forma éramos um pouco mais felizes. Acho que ainda temos uma sociedade que não aceita totalmente estes miúdos”.

Para contrariar este pensamento, Ângelo ambiciona dar “pequenas palestras” em algumas escolas. “Gostava de partilhar um bocadinho da minha experiência como trabalhador e atleta, até porque posso vir a inspirar alguma criança a prosseguir com os seus sonhos”, refere.

Rotina divide-se entre o trabalho na APPACDM e os treinos

Hoje, trabalha numa empresa que pertence à APPACDM. A ‘Flores da Arrábida’ foi criada pela associação para dar trabalho a pessoas com deficiência mental. “A minha rotina resume-se a trabalhar e a treinar. Quando saio do trabalho, vou para o treino. Trabalho oito horas por dia, das 07h30 às 12h00 e das 13h00 às 16h30. Depois vou treinar andebol para o Vitória Futebol Clube ou realizar treinos de preparação física no ginásio ‘Supera’”.

O jovem confirma que “o difícil é gerir tudo isto”, ao mesmo tempo que explica que não tem resposta para as pessoas que lhe perguntam com que idade tenciona parar. “Vejo-me a fazer isto por muitos anos, até conseguir. O último objectivo que quero alcançar é ir aos Jogos Paralímpicos, quer seja com o andebol, a natação ou o
atletismo”.

Apesar de ter consciência de que é “um caminho bastante difícil”, acredita que “a confiança própria e o saber daquilo que cada um é capaz” são a chave para alcançar o sucesso.

 

Ângelo Pais à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área Desporto (Andebol)

Qualificação para os próximos Jogos Paralímpicos é o actual desafio do jovem atleta

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