Carina Sobrinho: Uma sombra contra o desperdício

Carina Sobrinho: Uma sombra contra o desperdício

Carina Sobrinho: Uma sombra contra o desperdício

É empreendedora, trabalha com crianças e já foi actriz. Mas, acima de tudo, preocupa-se com o que a rodeia e foi isso que a fez descobrir uma forma colorida de reavivar os guarda-sóis abandonados.

 

O relógio marca as 12h e o Parque Urbano de Albarquel, em Setúbal, cumprimenta os visitantes com um dia de sol caloroso. Há mergulhos na água salgada, passeios ao longo da baía e música ambiente que escapa dos pequenos bares de praia.

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Ao longe, a silhueta descontraída de Carina Sobrinho surge na multidão. Enquanto se desloca para o carro, confessa não se ter maquilhado para as fotografias, mas o sorriso que traz vestido dispensa camuflagens.

Na mala do porta-bagagens nasce um monte de padrões coloridos. São bolsas e almofadas costuradas à mão com tecidos de guarda-sóis abandonados na praia. É a isto que Carina se tem dedicado nos últimos dois anos. “Dar vida ao desperdício”, explica.

Enquanto limpava a Serra da Arrábida e as praias do concelho, em 2020, reparou nas “dezenas e dezenas” de pedaços de guarda-sóis esquecidos na areia. “Era muito assustador”, conta a setubalense. “Limpávamos a praia e no dia seguinte estava tudo igual”.

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O golpe final

Ainda sem saber o que fazer com o material, foi recolhendo o que encontrava ao longo de várias semanas. “Na hora do lanche, os meus colegas estavam a descansar e eu estava feita louca a tirar o tecido dos guarda-sóis”, lembra a rir.

No final do dia de trabalho, montava-se na bicicleta eléctrica com os tecidos a esvoaçar na mochila que levava às costas e seguia para a lavandaria.

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Certo dia, descobriu o ‘R-Coat’, o projecto que transforma guarda-chuvas estragados em roupa sustentável e quis fazer o mesmo com as “centenas” de tecidos que já coleccionava em casa.

Inscreveu-se num curso de costura, frequentou uma formação de marketing e começou a confeccionar as primeiras peças: sacolas e almofadas impermeáveis. Estava criado o ‘Final Blow’, Golpe final, em português.

“Sou toda natureza”

Escuteira em miúda, é a ligação que sente a tudo o que é orgânico que a leva a afirmar que é “toda natureza”. “Não consigo estar muito tempo na cidade. Tenho sempre a tendência para fugir ou ir viver temporadas para o campo”.

Não sabe se é pela veia rebelde que acredita ter atormentado os pais na adolescência, mas está sempre pronta a aventurar-se em projectos comunitários onde se sinta “verdadeiramente conectada” com as pessoas e o mundo à sua volta.

“Acredito que o ritmo que vivemos na cidade não é o ritmo orgânico do ser humano e nesses ambientes estamos mais ligados ao ritmo da natureza que, de certa forma, é o nosso ritmo porque fazemos parte dela”, defende.

Estudou Agricultura Biológica, em Coimbra, trabalhou em quintas auto-sustentáveis em vários pontos do país e frequentou um minicurso de bio construção numa comunidade israelita. O currículo é do mais vasto que pode existir e a jovem não contesta: “Tenho dificuldade em ficar parada”.

Na sua mais recente aventura, deixou o conforto sadino para viver seis meses na cidade de Mértola, integrando o projecto da Associação Terra Sintrópica que previa regenerar a terra ao criar uma rede alimentar local no concelho.

Hoje, trabalha com uma das suas grandes paixões: crianças. Desenvolve actividades lúdico criativas com os mais novos, na Escola Básica da Azeda, mas não garante que seja uma “profissão para a vida”, pois das rotinas só quer distanciamento.

Uma artista completa

“Sou uma pessoa bastante tímida”, revela. Quando vê o que espanto que a afirmação causa, apressa-se a explicar: “Sei apenas disfarçar bem”. E foi a longa estadia no Teatro que lhe permitiu criar tal camuflagem.

Ao crescer num ambiente de exposição, com a mãe ligada à produção de moda, recusou-se a pisar as pegadas da progenitora. “Ganhei aversão a todo esse mundo”, declara.

Tirou um curso profissional de Artes Performativas e refugiou-se na arte de representar, onde ainda trabalhou largos anos. Mas, mais do que representar, Carina gosta da sensação de “criar”, o que a levou a trabalhar na produção de duas peças de teatro que estiveram em digressão.

“Criar” faz parte da sua essência e a prova disso são as almofadas que traz debaixo do braço. A caminho da praia há quem se impressione com a ideia de que as peças vistosas possam ser feitas com desperdício.

“Tenho um guarda-sol que não utilizo em casa. O material está como novo”, conta-lhe uma senhora. “Tire-lhe as varetas e faz uma toalha de mesa para exterior”, explica Carina. “Olhe, que bela ideia”, houve como resposta. E com este episódio, a jovem revela que ganhou o dia.

 

Carina Sobrinho à queima-roupa

Idade: 29 anos

Naturalidade: Setúbal

Residência: Setúbal

Área: Ambiente

Vive na cidade desde que se lembra, mas é em ambientes rurais que se sente “verdadeiramente conectada” com o mundo.

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