“Os Combatentes do Concelho de Setúbal na Grande Guerra em França (1917-1918)” é apresentado ao público no dia em que se assinalam os 100 anos da partida do Batalhão do Regimento de Infantaria 11 do CEP – Corpo Expedicionário Português em direcção a França
O livro sobre os 210 homens de Setúbal e Azeitão do CEP – Corpo Expedicionário Português que partiram de Setúbal – alguns deles no dia 25 de Julho de 1917 – para se juntarem às tropas portuguesas em França durante a I Guerra Mundial (1914-1818) vai ser lançado amanhã, na Escola de Hotelaria e Turismo, antigo Quartel do Regimento de Infantaria 11, às 11h, com entrada livre.
Diogo Ferreira, actual investigador no Instituto de História Contemporânea da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas na Universidade Nova de Lisboa, e Pedro Marquês de Sousa, tenente-coronel do Exército e professor de História na Academia Militar de Lisboa, revelam as identidades e a participação militar dos 164 setubalenses e 46 azeitonenses na guerra, incluindo os que foram feitos prisioneiros de guerra na Alemanha.
Um dos principais capítulos do livro diz respeito às biografias dos 14 oficiais de Setúbal que estiveram em França. Um deles, o oficial Francisco Pinto Vidigal, morreu na batalha de La Lys, que decorreu a 19 de Abril de 1918, e é “pela primeira vez abordado na historiografia setubalense através do nosso livro”, contou Diogo Ferreira.
Sobre os restantes homens do concelho, os investigadores conseguiram apurar os nomes próprios e de família, a freguesia de naturalidade, a unidade militar em que participaram e as datas em que embarcaram para França e regressaram a Portugal. Para isso, consultaram 210 boletins do Arquivo Histórico Militar, completando a informação com pesquisa feita a partir dos boletins de sócio do arquivo histórico da Liga dos Combatentes de Setúbal e do Arquivo Geral do Exército, no sentido de “enriquecer os conteúdos sobre cerca de 40 homens”.
Mas a maioria dos homens de Setúbal e Azeitão enviados para a I Guerra Mundial em França não foi pelo Batalhão do Regimento de Infantaria 11. “Grande parte deles foram enquadrados em batalhões mobilizados pela cidade de Lisboa”, que absorveu também homens de Évora, acrescentou Pedro Marquês de Sousa, um dos maiores especialistas em Portugal no estudo do CEP – Corpo Expedicionário Português.
As tropas embarcaram em navios ingleses em Lisboa, em direcção ao Porto de Brest no norte de França, seguindo de comboio ao longo do litoral norte para a zona de La Lys, junto à fronteira com a Bélgica, onde se concentraram com os batalhões dos Aliados. Criado pela 1.ª República, o CEP foi responsável pela maior mobilização de tropas portuguesas na I Guerra Mundial, um total de 55 mil portugueses nos anos de 1917 e 1918, muito mais que os 30 mil que já tinham sido destacados para as colónias nacionais em África a partir de 1914.
Esta foi a primeira grande guerra de carácter industrial, ou seja, em que houve toda uma nova geração de equipamentos e tecnologias bélicas, como artilharia pesada (metralhadoras e armas de grande capacidade de disparo), químicos, aviação e frotas submarinas. O conflito causou cerca de 30 milhões de mortes e feridos e teve grandes consequências políticas, económicas e sociais para os países intervenientes, nomeadamente para Portugal.
Investigação pioneira homenageia combatentes
Diogo Ferreira e Pedro Marquês de Sousa são pioneiros com este trabalho no concelho, uma vez que “não há nenhum estudo com um levantamento individual de todos os homens e dos regimentos a que pertenceram”. Trabalhos semelhantes foram já desenvolvidos em Loures, Barcelos e Paredes, alguns com apoio das autarquias.
O grande objetivo deste livro, apoiado e editado pela Liga dos Combatentes de Setúbal, é “homenagear estes homens”. “Porque a história é também feita das pessoas que estão perdidas no limbo da memória e não só dos políticos e das grandes figuras”, afirmou Diogo Ferreira. Com 25 anos, é licenciado em História, mestre em História Contemporânea e está a tirar doutoramento com a tese “Setúbal Entre Guerras (1919-1945): Um Itinerário de história local”.
Foi num encontro em Setúbal com Pedro Marquês de Sousa, azeitonense de 49 anos, tenente-coronel no Exército e professor de História na Academia Militar de Lisboa que nasceu a sinergia para escreverem este livro. A obra é apresentada ao público amanhã na Escola de Hotelaria e Turismo, às 11h, sendo depois colocada à venda nas instalações do núcleo de Setúbal da Liga dos Combatentes e nas principais livrarias da cidade.