Ex-técnico da EFFS (Escola de Futebol Feminino de Setúbal) comanda vitorianas na 3.ª divisão, escalão em que já foi campeão nacional
Ao longo da sua carreira, treinou quase sempre equipas da região. Quão especial é abraçar um projecto como este do Vitória, que tem pela primeira vez uma equipa de futebol feminino?
Treinar o Vitória foi um convite demasiado tentador e aceitei quase por instinto. Uma coisa é treinar os clubes da região e outra é treinar no clube que representa a região em si. É um prazer e orgulho enormes estar a representar o Vitória e, claro, não podia pensar duas vezes em relação a este convite.
Já treinou em todas as divisões no futebol feminino nacional, desde a Liga BPI (1.ª divisão) até à 3.ª, cujo título já conquistou [ao serviço do Racing Power, em 2020/21]. É esse o objectivo no ano de estreia do Vitória?
É o primeiro ano do Vitória, clube que tem um nome enorme e um historial invejável. O que nós queremos é criar uma equipa jovem e competitiva. Esse é o nosso objectivo e os restantes vamos conseguindo jogo a jogo dentro das quatro linhas.
O que lhe foi pedido pelos responsáveis do clube?
O que me foi apresentado foi que primeiramente construíssemos uma equipa jovem e competitiva para conseguir cimentar o futuro do Vitória sem ser apenas a curto prazo. Cimentar e estruturar o futuro é para já o objectivo.
As jogadoras que treinou na época anterior da Escola de Futebol Feminino de Setúbal (EFFS) serão a base desta equipa?
Existem algumas jogadoras que vão transitar do plantel sénior da EFFS para o Vitória. Serão aquelas que consideramos que já tinham a qualidade e maturidade para representar um clube desta dimensão. Apesar de haver algumas que têm potencial para cá chegar, acabam por ficar na Escola por estarem ainda nos escalões de formação.
Qual a importância que o apoio dos adeptos vão ter para equipa durante a época?
Sinto que os adeptos já estão a acarinhar a equipa. Sentimo-lo nas redes sociais onde o ‘feedback’ que fomos vendo depois de ser dado a conhecer o protocolo e a criação de uma equipa feminina foi significativo. O Vitória que toda a gente conhece é o que tem o Bonfim cheio, neste caso, será no Complexo Desportivo Municipal do Vale da Rosa, onde iremos jogar. Vamos aproveitar a força que será dada pelos adeptos para conseguir atingir os nossos objectivos. Não espero outra coisa deles e estaremos lá para os receber e dar o espectáculo que merecem.
O aparecimento do Vitória no futebol feminino pode levar ao aparecimento de mais talentos na região?
Sim. A existência do Vitória no futebol feminino pode incentivar mais algumas jogadoras a aparecerem com o objectivo de representar um clube com esta grandeza.
Quando começam os treinos e quantas jogadores gostaria de ter no plantel?
Os treinos iniciam-se a 22 de Agosto e o campeonato está previsto começar a 25 de Setembro. Quanto ao número de jogadoras, 24 a 25 atletas.
Vítor Conduto, coordenador do futebol feminino
“60 a 70% do plantel será composto por meninas entre os 17 a 21 anos”
A nível de organização e logística, há diferenças entre coordenar a EFFS e o Vitória?
Este é um desafio maior devido à dimensão do clube. O Vitória representa o distrito de Setúbal. Quando abracei este projecto vimos uma forma de o futebol feminino crescer. Embora a EFFS forme bem nos escalões mais jovens, sentia grandes dificuldades no futebol sénior. Dada a pouca visibilidade desse escalão muitas acabavam por desistir tornando penosos os finais de época.
Algo que querem contrariar…
Pretende-se com este protocolo estabilizar a equipa de futebol sénior e criar um projecto com futuro. 60 a 70% do plantel será composto por meninas entre os 17 a 21 anos, sendo as restantes miúdas com um bocadinho de mais maturidade para dar estabilidade à equipa e a credibilidade ao projecto que o Vitória merece.
As jogadoras que são oriundas dos escalões de formação da EFFS terão prioridade na equipa do Vitória?
A ideia é essa. Este protocolo permite dar o seguimento que a Escola não tem nos seniores. Tendo as jogadoras a qualidade necessária para integrar a equipa seguirão, com naturalidade, esse trajecto. Acreditamos que o facto de saberem que podem chegar à equipa do Vitória servirá de motivação às jovens futebolistas.
Qual a importância de o Ricardo Miguel Vieira, que transita da EFFS e já foi campeão da 3.ª divisão nacional, ser o treinador do Vitória?
Desde o primeiro momento, entendemos que preenchia todos os requisitos para integrar o projecto. Conhece a maior parte das atletas da região, já trabalhou divisões acima, tem jogadoras que confiam nele e tudo isso permite-nos trazê-las para cá com mais facilidade. Penso que é a pessoa ideal para o projecto.
Vários clubes estão a surgir no futebol feminino. O facto desta equipa ter associado o nome Vitória distingue-o dos demais?
A entrada dos grandes clubes no futebol feminino alterou substancialmente o panorama. É minha convicção que o Vitória vai ajudar a acentuar ainda mais esse crescimento, uma vez que vai contribuir para que apareçam mais miúdas a praticar futebol. Acredito que esta é a altura ideal para o Vitória entrar no futebol feminino.