150 anos de Ana de Castro Osório: a sua colaboração n’O Setubalense

150 anos de Ana de Castro Osório: a sua colaboração n’O Setubalense

150 anos de Ana de Castro Osório: a sua colaboração n’O Setubalense

Embora já estivesse afastada de Setúbal há muito tempo, Ana de Castro Osório foi colaboradora do O SETUBALENSE no último ano da sua vida. Isto em 1934/35.

Nos artigos que aqui publicou nessa altura, salta à vista a ausência dos temas do feminismo e da república. Mas manteve outras preocupações centrais do seu percurso de activista e de mulher de letras, como a educação, a promoção da cultura geral, do livro e da leitura.

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Nazismo

 

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No último artigo no O SETUBALENSE, Ana de Castro Osório evoca o seu convívio com Carolina Michaelis, uma das primeiras mulheres em Portugal a ser professora universitária e a integrar a Academia das Ciências de Lisboa.

Recorda como esta sua “querida mestra”, natural de Berlim, chamava as “simpatias intelectuais para aquela Alemanha culta e equilibrada, que era o seu orgulho”. E levanta esta questão: “o que diria hoje”, quando já trinta anos antes “se mostrava apreensiva pelo grande perigo que pressentia” nas “ideias vulgarizadas” do filósofo Friederich Nietzsche”? [O SETUBALENSE, 08/02/1935, p.2].

Esta inquietude de Ana de Castro Osório era premente. Adolf Hitler já estava no poder e apropriava-se do legado de Nietzsche. Visitava a família e o arquivo do filósofo. Fazia-se fotografar a contemplar um busto dele e a cumprimentar efusivamente a sua irmã, que era cúmplice.

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Richard Oehler, um primo de Nietzsche, também promovia esta apropriação. E ele era um dos pilares do arquivo do filósofo e editor das suas obras.

No campo marxista, não faltaram à época vozes a criticar Nietzsche como precursor espiritual do fascismo. Nomes de peso, como Nikolai Bukharin e Georg Lukacs.

Outro importante autor marxista, Henri Lefebvre afirmou porém que Nietzsche “de forma alguma poderia ser responsabilizado pela interpretação fascista”. Sublinha da sua obra outros aspectos, como o protesto contra os abusos do poder e a defesa da liberdade de espírito. Embora reconheça que “a censura de elitismo, em contrapartida, tem alguma importância”.

Aponta que, “a partir de mal entendidos muito diversos”, tanto surgiu um “nietzscheísmo anarquizante” como “um nietzscheísmo elitista (portanto ‘direitista’ e mesmo fascizante)” [Lefebvre (1976), Hegel, Marx, Nietzsche ou o reino das sombras, pp. 167 e seguintes].

 

Colonialismo

 

Noutro artigo, Ana de Castro Osório exalta Portugal como a “terceira potência colonial do mundo”. Até se insurge “contra os derrotistas de todas as classes que proclamavam a pequenez e miséria decadente” do país. E contrapõe que Portugal continental era  “apenas a Capital florida e linda do Grande Império lusitano” [O SETUBALENSE, 04/01/1935, p.3].

Mantinha afinal a ideologia colonialista, aspecto central do antigo Partido Republicano Português.

 

Cultura geral

Mas, na colaboração de Ana de Castro Osório neste jornal, o tema central é mesmo a “cultura geral do povo português”. Algo que sublinhava ser um sonho de toda a sua existância [O SETUBALENSE, 03/01/1935, p.3].

Defende que “uma forte cultura geral é indispensável para o desenvolvimento da inteligência e curiosidade do espírito” [ibidem, 28/11/1934, p.5]. E insurge-se contra a “deficiência mental e cultural que a sociedade portuguesa manifesta, no que se chama ‘humanidades’ especialmente na literatura e no conhecimento e respeito pela nossa própria língua” [ibidem, 06/07/1934, p.2].

A seu ver, o principal “problema não é o analfabetismo mas a incultura dos que já se dizem letrados”, os “99% de letrados que não lêem, nem se interessam pelo que no seu país se escreve, e pensa e estuda” [ibidem, 20/12/1934, p.2 e 03/01/1935, p.3].

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