Associação e autarquia vão descerrar lápide e recordar momento histórico desta viagem
O Barreiro acolhe na manhã do próximo sábado, no Largo Casal, na praceta onde está situada a sede da SIRB “Os Penicheiros”, um desfile cívico e a cerimónia de descerramento de uma lápide comemorativa do centenário da histórica Travessia Aérea do Atlântico Sul, por Gago Coutinho e Sacadura Cabral, que ligou o território nacional ao Brasil. A cerimónia será presidida pelo Comodoro José António Farinha, director do Museu da Marinha, acompanhado pelo presidente desta câmara, Frederico Rosa.
O desfile cívico terá partida dos Paços do Concelho, pelas 10h00, na Rua Miguel Bombarda, e vai contar com a presença do movimento associativo local, munido das suas bandeiras e estandartes, assim como da população que se queira associar ao evento, sendo que a marcha do cortejo será animada musicalmente por bandas filarmónicas.
Prevê-se que a chegada ao Largo Casal, espaço do município que desde 1922 se passou a chamar Largo Gago Coutinho e Sacadura Cabral, por decisão da vereação de então, em “homenagem aos dois heróicos aviadores, à época ao serviço da Armada Portuguesa”, ocorra uma hora mais tarde.
O espaço servirá de palco a homenagens previstas no programa comemorativo, com discursos das entidades que vão marcar presença no evento. A finalizar a cerimónia, será ainda descerrada uma lápide evocativa da data pelo director do Museu da Marinha, a convite do presidente da edilidade, e com a presença de um agrupamento da Banda da Armada. Neste evento, acrescente-se, estarão representadas 62 associações, clubes e colectividades locais e algumas regionais.
Recorde-se que a 17 de Junho de 1922, Portugal “entrou em euforia apoteótica” quando as referidas figuras, hoje consideradas lendárias, “tinham cometido, com bravura e sacrifico, o pioneiro e heroico feito da primeira travessia aérea do Atlântico Sul, em frágeis hidroaviões”.
Naquela data, por todo o país, a imprensa deixou documentada “as incontidas manifestações de júbilo dos portugueses” e “a epopeia dos dois aviadores, oficiais de Marinha, que demoraria 78 dias, de 30 de Março a 17 de Junho de 1922, utilizando durante o périplo três máquinas voadoras”. A “invulgar façanha” de Gago Coutinho e Sacadura Cabral teve, além dos escritos de Alberto Tome Vieira, outros protagonistas, intervindo literariamente sobre o evento, caso de João Azevedo do Carmo, pai da médica Isabel do Carmo, que fez publicar singulares intervenções na secção literária do jornal “Acção”.
Saudar o feito dos dois aviadores nacionais
A associação cultural “Vultos da nossa Terra” decidiu comemorar no Barreiro o centenário da travessia aérea, alicerçando-se nos mesmos pressupostos que levaram a população local, em 1922, “a saudar apoteoticamente o feito dos dois aviadores da Marinha Portuguesa” e o facto de, com risco da própria vida, terem decidido iniciar esta jornada.
“Iluminados pela visão e convicção universalistas de serem a ciência e a tecnologia capazes de construírem pontes e caminhos, físicos e espirituais, entre continentes, entre povos e entre homens, onde antes havia abismos intransponíveis, distâncias infindáveis, míticos Adamastores, superstições insondáveis e preconceitos vários para com o Outro distante e diferente”, recorda a organização do evento.
A associação pretende agora “sublinhar a valia e actualidade de virtudes como a coragem, a ousadia e a iniciativa transformadoras, o inconformismo, e, sobretudo, em tempos de incertezas e de negacionismos, realçar e reafirmar a importância da evidência cientifica como factor imprescindível para a construção cívica da concórdia, da paz e da harmonia, que são o cume do edifício das sociedades tolerantes, progressivas e coesas socialmente”.
Em virtude de existir, desde as épocas mais longínquas, “uma forte e muito estreita relação entre a comunidade barreirense e a Marinha Portuguesa – aliás a história do Barreiro sempre esteve muito ligada à História Naval Portuguesa e à marinharia -, a Vultos da nossa Terra entendeu que seria uma grande alegria, para a associação e para a comunidade barreirense”, vir a contar com a presença do Almirante Gouveia e Melo, na sua qualidade de Chefe do Estado-Maior da Armada, tendo a sua presença acabado por ser delegada no responsável do referido museu.
No âmbito desta iniciativa, a associação prevê ainda a edição de uma brochura com uma breve memória histórica da Travessia e relato das manifestações de júbilo ocorridas no Barreiro em 1922, aquando da chegada de Gago Coutinho e Sacadura Cabral ao Rio de Janeiro. O evento tem como meta a necessidade e “urgente preservação da nossa memória colectiva e dos laços de solidariedade, uma vez que um povo que não preserve a sua história e não construa pontes e consensos sociais ficará inexoravelmente entregue às imprevisibilidades contingenciais do futuro”, sublinha a associação.