“Ohiá”, a história de uma pequena flor, junta três nacionalidades diferentes
No sábado solarengo de 28 de Maio, fomos ver, no Teatro Estúdio António Assunção quase cheio, o espectáculo “Ohiá” pela companhia internacional “La sorrisa del Lagarto”. São três nacionalidades (Brasil, Venezuela e Espanha) de actores e músico. Um espectáculo de 50 minutos, multidisciplinar, com teatro de sombras, sombras chinesas e crankie box, para maiores de 3 anos.
“Ohiá” é a história de uma flor (pequeno dente-de-leão) em busca das suas lindas esporas, faz uma viagem até ao infinito, uma viagem onírica cheia de aventuras, emoções e mudanças surpreendentes que o ajudarão a compreender a beleza do ciclo e da ciranda da vida. Segundo a Companhia “Brotar, florescer, murchar e… voltar a brotar”.
Durante o percurso encontra vários seres como um sapo, e a parábola tem como foco que é bom ter consciência de que se tem que perder algumas coisas para ganhar outras.
O cenário parece um bosque verde e escuro, um lugar de humidade e frescura coberto de borboletas, e move-se no ecrã com duas manivelas com um belíssimo ambiente de vara para as marionetas, silhuetas chinesas e de vara. Boa comunicação das actrizes com o público a quem dirigem um apelo para as ajudar a encontrar as esporas que voaram no vento. Belos diálogos:
– Eu sou um dente-de-leão.
– Você é uma mosca.
– Eu sou uma flor.
– Você está muito linda.
– Girinos e sapos
Canções para o pequeno público do Festival Sementes “Bem-me-quer, mal-me-quer”!
Depois aparece um pato. “Você viu as minhas esporas?”. A resposta é sempre não. Aparece também um passarinho colorido com quem vai voar. Surge o jogo “esconde esconde”. Um sucesso e no final as crianças vão ao palco – o futuro público- brincar com as sombras e fazer uma foto positiva.
Viva o teatro!
Ficha artística Autoria e concepção: Marli Santana y Ave Hernández Direção: Marli Santana Género: Teatro de sombras Técnicas: Sombras chinas y Crankie Box Interpretação: Marli Santana y Ave Hernández Espaço sonoro e música ao vivo: Yonder Rodríguez Técnico: Jimi P. Lorente Vídeo: Ángeles Muñiz e Ramón Martínez Cenografia: La Sonrisa del Lagarto, S. C. Soto del Barco y Mario Ordiales.
Actriz Marhi Santana em discurso directo
Sou Marhi Santana de Salvador da Baia, vivo actualmente no Principado das Astúrias Gijin, Espanha. Comecei a fazer teatro em criança. Quando faltava a luz, o que era vulgar na minha terra, fazíamos teatro de sombras com um candeeiro de petróleo. Havia muitas histórias para representar, mas a que eu gostava estava ligada à canção “Boi da cara preta”.
A minha mãe cantava para nós dormirmos e a gente encenava atrás do lençol branco e quando acabava de cantar os meus irmãos já estavam a dormir.
Veio depois a Universidade de Teatro UFBO-Bahia onde estudei Interpretação. Actualmente faço parte da companhia “La Sorrisa del Lagarto”, com Marhi Santana, Ave Hernandez, Yonder Ridriguez e Alex Alhaja.
Um percurso no campo do teatro internacional de pequeno público
O Teatro Municipal Estúdio António Assunção acolhe, desde 1994, o Teatro Extremo que é dirigido por Rui Cerveira. É nesta bonita sala que se realiza o Festival Sementes que também é itinerante nos distritos de Setúbal, Lisboa e Évora.
Rui Cerveira quando era jovem só gostava de Matemática. Nasceu para os números. Ainda estudou Filosofia, mas a sua vocação foi para o teatro. Estudou no IFIC em Lisboa, com bons professores como Ávila Costa e o grande encenador Rogério de Carvalho, que possivelmente vai encenar este ano no Teatro Extremo.
Durante o ano, o Teatro Extremo acolhe dezenas de grupos locais de teatro amador como Ninho das Víboras, o Grito, o Lagarto Amarelo, Arte 33 e muitos outros.
A sala tem 100 lugares, mas, infelizmente, não tem armazém nem oficina. Contudo, tem uma pequena sala de ensaios. Segundo o director, o reportório da companhia é para a infância e para a juventude, com destaque, este ano, do espectáculo no ciclo “Em cena a ciência”, em parceria com a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova no Monte da Caparica.
Outro ciclo a assinalar é “Sem Rei nem Rock”, narrativa do que foi histórico, mas não ficou na nossa história Têm apoio quadrienal, desde 2000, da DGARTES assim como da Câmara Municipal de Almada e de outras autarquias.
O Festival Sementes nasceu em 1996 como “Mostra Internacional das Artes para o Pequeno público”. Já passaram por Almada Companhias de Espanha, Itália, Brasil, Canadá e República Checa.
Para o futuro, preparam candidaturas à DGARTES, para 2023-2026, com uma co-produção com o Brasil Harem Teatro e duas co-produções com o Seiva Trupe do Porto, com direcção de Castro Guedes.
No Festival vão ter oficinas com Catarina Pé Curto em co-produção com o Mundo do Espectáculo e Aletria Biblioteca Itinerante. Há uma exposição no Agrupamento de Escolas Emidio Navarro “Seres Raros e fantásticos”.
José Gil: Professor Adjunto de Teatro da Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Setúbal. Actor e Encenador – joseamilcarcapinhagil@gmail.com