O mundo parece que só muda em crise e, mesmo assim, nem sempre e nem sempre para melhor. Se há algo que as crises que temos enfrentado recentemente nos demonstram – as alterações climáticas, a Covid-19, a crise económica e agora o conflito na Ucrânia – é precisamente isso. Já estamos cansados do velho chavão “aproveitar a crise como uma oportunidade para a mudança”. Todavia, é certo que há um fundo de verdade nesta frase: o da capacidade de aprender pela adaptação.
O conflito na Ucrânia é um dos exemplos do valor que globalmente se dá à vida humana. É verdade que há e houve muitos outros conflitos. Este é o mais recente e geograficamente mais próximo de nós e, também por isso, mais impactante. Mas não é por isso ou por haver ou ter havido outros conflitos no mundo, que este deixa de ser real. O que fazer? Iniciativas multilaterais para resolver o conflito e intervenções institucionais como a de Guterres, que permitiu a agilização da evacuação de civis na Ucrânia. Ou a da atriz Angelina Jolie, embaixadora da Boa Vontade do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados, que visitou Lviv, na Ucrânia. O mediatismo do conflito e dos que nele intervêm, mais do que para telejornais, pode servir para sacudir valores instalados e inquietar instituições como a União Europeia, a NATO e até a própria ONU.
E a nível interno, o que fazer? Também aqui o conflito da Ucrânia nos mostra algo, pela perspetiva do acolhimento dos refugiados. É necessário continuar a dotar as instituições públicas de ferramentas de proximidade para com as pessoas (uma das apostas do Partido Socialista nos últimos anos), mas também de sensibilidade, como nos mostra o que se passou na Câmara Municipal de Setúbal com o acolhimento de refugiados ucranianos e como nos mostrou a trágica morte de Ihor Homenyuk.
Sou da opinião que são cada vez mais necessárias políticas orientadas para as pessoas e que estas devem ser a linha orientadora principal do socialismo democrático. Na educação, na saúde, na integração e na cidadania, na ação climática e em tantas outras áreas, sem esquecer nunca a economia. Acredito numa economia pensada para estar ao serviço das pessoas, e é por isso que defendo o Orçamento do Estado para 2022. O Orçamento da Saúde para o ano corrente é o maior de sempre. 13.578 milhões de euros, mais 5,6% face à execução provisória anterior, ou seja, um reforço de mais de 700 milhões de euros. A principal prioridade do OE2022 é apoiar o crescimento e a recuperação económica do País, através do aumento do investimento e do rendimento das famílias. Entre descidas de impostos e subvenções, esta proposta de Orçamento prevê mais de mil e trezentos milhões de euros de apoio às empresas e às famílias. Creio que foi por isso que os portugueses o votaram tão expressivamente – é o Orçamento mais humano de sempre em Portugal. E esse tem de ser um dos princípios fundamentais da democracia, que é até simples: é pôr as pessoas primeiro, se faz favor.