Recital promovido pelo Ateliê de Ópera de Setúbal. Soprano acompanhada ao piano por João Malha e pelo ucraniano Denys Stetsenko no violino
A voz ‘cristalina’ e doce da soprano Maria Inês Beira ecoou pelos quatro cantos da Igreja do Convento de Jesus no passado sábado, em recital no qual o público foi levado numa viagem mística.
No espectáculo, o 11.º promovido pela Associação Setúbal Voz, através do Ateliê de Ópera de Setúbal, foi apresentado um reportório muito exigente, que iniciou com duas canções de Schubert com textos de Goethe.
A soprano setubalense, que mostrou grande segurança na abordagem ao texto alemão, esteve acompanhada ao piano por João Malha e pelo violinista ucraniano Denys Stetsenko, que interpretou também uma obra de estilo romântico para violino e piano do seu bisavô.
As várias canções e árias apresentadas foram re-instrumentadas por Jorge Salgueiro, director artístico do Ateliê, que no caso de Schubert transportou os presentes para um ambiente camerístico a evocar as Shubertíadas.
Houve ainda tempo para duas outras canções, uma de Nadia Boulanger, com o arranjo para violino a acentuar o carácter pastoral da peça, a que a voz de Maria Inês Beira deu sublinhado.
Já em L’invitation au Voyage, de Duparc, o ambiente tornou-se etéreo com os ‘glissandi’ do arranjo a preparar o momento mais emocionante da manhã: a canção popular ucraniana Monte Alto que Denys Stetsenko interpretou sozinho.
Os quatro intérpretes, vestidos de branco e munidos de pétalas de rosas brancas, proporcionaram ao público, que não conseguiu conter as lágrimas, um momento inesquecível, ao evocarem todos os povos que sofrem com a guerra na Ucrânia.
Com o recital, o Ateliê de Ópera de Setúbal conseguiu dar continuidade ao seu projecto assente na multiculturalidade, já consubstanciada através da presença, em outros eventos, da música indiana e brasileira.