João Quintas: “O culturismo não está ao alcance de todos”

João Quintas: “O culturismo não está ao alcance de todos”

João Quintas: “O culturismo não está ao alcance de todos”

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Além de capacidade física é preciso “grande força psicológica para aguentar até ao fim”, diz o atleta que teve estreia de ouro em competição

 

Alcançar o primeiro lugar nunca é fácil. Ainda menos quando se trata de uma estreia em competição, mas João Quintas fê-lo. Subiu ao palco, encarou as centenas de pessoas que compunham o Casino Estoril e teve uma prestação que lhe conferiu o título de Campeão Nacional de Culturismo na categoria Clássico + 175cm.

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“Estava muito, muito nervoso”, confessa o atleta. Apesar de praticar musculação desde os 17 anos, estreou-se no mundo do culturismo apenas em 2021, no World Amateur Bodybuilding Association (WABBA), e a primeira vez que foi desafiado a mostrar o corpo num palco obteve o primeiro lugar do pódio.

“O ano passado quis dar um passo acima. Gostava do corpo que tinha, mas procurei um ‘coach’ na área que me fizesse obter melhores resultados. Os efeitos foram surpreendentes e ele começou a puxar por mim, a incentivar-me a competir”, conta João Quintas.

Ao aceitar o desafio, o atleta carregou consigo a exigência e responsabilidade que a preparação para uma prova de culturismo impõe. Três meses de treino intensivo que teve de conciliar com a vida familiar e o negócio da barbearia, do qual é proprietário.

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“O meu dia-a-dia é na barbearia. Entro às 9h00 e saio por volta das 21h00. Depois disso, ainda tinha de ir para o ginásio às 22h00 e ficava a treinar até depois da 00h00. Ou seja, não tinha tempo nenhum para a família”, explica.

Cumprir os treinos foi parte da tarefa, pois para alcançar um “corpo de prova”, o rigor na alimentação foi fundamental: “O corpo tem de ficar o máximo definido possível e, para isso, temos de ir cortando na comida. Cada grão de arroz no prato faz a diferença. No último mês custa bastante porque as refeições são à base de gelatina e suplementos vitamínicos e o corpo vai ficando débil”.

A tarefa importante de planear as refeições era confiada à sua esposa, Cátia Dinis, que assegurava que o plano nutricional era seguido “à risca”. “Preparava sempre três pratos diferentes por refeição”, lembra Cátia Dinis.

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“Um para mim, que também tenho cuidado com a alimentação, outro para o Dinis [filho do casal] e o do João, muito mais restrito. Entendo que possa chocar o facto de ter todo este trabalho, mas acabou por se tornar rotina”.

Quando o cansaço falou mais alto, João Quintas admite que a ideia de desistir lhe passou pela cabeça, mas o foco e o apoio da família tornaram-se os aliados para conseguir continuar: “Modéstia à parte, este desporto não está ao alcance de todos. Além da capacidade física, tem de se ter uma força psicológica muito grande para aguentar até ao fim”, realça.

“O culturismo em Portugal é muito amor à camisola”

O esforço e dedicação de João Quintas, depositados na preparação para o WABBA, são compensados com uma medalha que lhe cobre o peito. Assume não ter participado “por dinheiro”, uma vez que não existem recompensas financeiras envolvidas.

“O culturismo em Portugal é muito amor à camisola. As entradas nas competições são todas pagas do nosso bolso e, mesmo que alcancemos o primeiro lugar, não ganhamos absolutamente nada. Temos de gostar mesmo”, afirma.

E o gosto pelo que faz parece ser suficiente para o atleta, pois já ambiciona marcar presença nas próximas competições: “Quero estar na Taça de Portugal, em Outubro, e revalidar o título de Campeão Nacional no WABBA 2022, em Novembro. Sei que a preparação vai ser mais intensiva, mas prefiro encarar um dia de cada vez”.

Ainda que para muitos praticar musculação signifique exibir um corpo trabalhado, João Quintas prefere pensar que se trata de “um momento de introspecção”, sem o qual já não sabe viver.

“Toda as pessoas deviam praticar desporto, seja ele qual for. Dá-nos uma clareza e uma paz de espírito que não encontramos em mais lado nenhum”, frisa. Rendida a este estilo de vida está também Cátia Dinis, que começou a treinar por incentivo do companheiro e a ter mais tempo para se mimar.

“A minha ideia sempre foi aproveitar todo o tempo para trabalhar e o João mostrou-me que não podia viver assim. As pessoas esquecem-se muito delas mesmas e o exercício físico pode ser uma escapatória para isso”, conclui.

Destino Barbeiro por sorte mas profissional por escolha

Se o amor de João Quintas pelo desporto vem de tenra idade, o mesmo não se pode dizer em relação à sua profissão. Tirou o curso de barbeiro por exigir menos tempo de formação e passado cinco anos tem um negócio considerado de eleição para muitos quintacondenses.

O sonho de ser jogador de futebol ficou em criança e, ao contrário do que alguma vez pensou, agora sente-se realizado a cuidar dos outros. “As pessoas vêm ao barbeiro para ter um momento de descanso, enquanto nós cuidamos delas e é isso que gosto de fazer: oferecer um momento de satisfação”, revela.

Num ramo de actividade tão concorrido, o barbeiro acredita que o segredo para triunfar é apostar na inovação e descolar-se do selo de “barbearia tradicional”. Em conjunto com o negócio vizinho da companheira esteticista, oferece um conjunto de serviços que promovem um tratamento “da cabeça aos pés”.

“A ideia de que só as mulheres é que se cuidam está a ficar desactualizada. Os homens preocupam-se cada vez mais com a aparência e merecem ter espaços onde isso é permitido”, remata.

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