A 28 de Janeiro o órgão oficial da Santa Sé publicou a “Rinunce e Nomine” sobre a transferência ordenada pelo Papa Francisco
O Bispo de Setúbal, D. José Ornelas, foi na sexta-feira nomeado pelo Vaticano como novo Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, substituindo o cardeal D. António Marto, que renunciou ao cargo por motivo de idade.
Confirma-se assim a notícia avançada em primeira mão por O SETUBALENSE, na passada segunda-feira, dia 24. A 28 de Janeiro, o “Bollettino Sala Stampa Della Santa Sede” publicou a “Rinunce e Nomine” onde refere que “O Santo Padre aceitou a renuncia à pastoral da Diocese de Leiria-Fátima apresentada por Sua Eminência o Cardeal António Augusto dos Santos Marto”.
O mesmo documento acrescenta que o Papa Francisco “nomeou Bispo da Diocese de Leiria-Fátima D. José Ornelas Carvalho, transferindo-o da Diocese de Setúbal”. O actual presidente da Conferência Episcopal Portuguesa assumirá assim o novo cargo a 13 de Março, continuando até essa data nas funções de administrador diocesano em Setúbal.
Sobre o nome de quem irá tomar o lugar de D. José Ornelas, o próprio Prelado indicou a O SETUBALENSE que esse processo vai começar na data em que “deixar definitivamente a Diocese de Setúbal para ser Bispo de Leiria-Fátima”.
Durante o hiato até à escolha do novo Bispo da Diocese, afirma que “ninguém fica abandonado”, uma vez que “a Igreja tem processos para isso”.
“Foi aqui que aprendi a ser bispo”
No mesmo dia em que foi publicada a “Rinunce e nomine”, D. José Ornelas, 68 anos, comentou também a O SETUBALENSE que guarda “boa memória” pelos tempos que passou na Diocese de Setúbal, e pelas “gentes” que foi aprendendo a “admirar e a colaborar”, e acrescenta: “Ficou-me grandíssima gratidão com todos nesta minha passagem pela Diocese da Península de Setúbal. Foi algo muito bonito, e com o Dom de Deus, que agradeço e que levo”.
E continua: “Foi aqui que aprendi a ser bispo”. Ao mesmo tempo, refere o ganho de experiência da Igreja na península “com um povo que sabe colaborar e é franco na maneira de viver e de se comportar”, são razões que o levam ainda a afirmar: “Levo-o no coração, e fica-me como uma referência para a vida”.
Como mensagem para o território da Diocese, e não só, o Prelado manifesta o desejo de que o caminho da Igreja “se continue a desenvolver no caminho que está a fazer”, no sentido da “solidariedade, escutar e dialogar com a sociedade” para que esta “se abra” porque “tem uma semente e um projecto”.
Dirigindo-se mais concretamente à Península de Setúbal, D. José Ornelas deixa como palavra que esta, que tem “experimentado ciclos difíceis”, continue com “capacidade de renovação e empenho para construir o futuro”.
E vinca: “É preciso nunca deixar cair os braços”, porque “o Mundo precisa de iniciativas”. Este sentimento de fé e carinho pela Diocese de Setúbal, revela D. José Ornelas que o expressou, por carta, ao Papa Francisco, onde também refere a nova missão que lhe foi confiada em Leiria-Fátima.
“Saio daqui com saudade, mau seria que a não sentisse. Na carta que escrevi ao Papa, disse-lhe: parto daqui triste, mas não vou triste. Vou, a minha atitude sempre foi essa, livre e disponível para trabalhar onde Deus chama”.
Foi este mesmo sentido que, a 25 de Outubro de 2015, precisamente 40 anos depois, menos um dia, da ordenação do primeiro Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, que expressou quando tomou posse aceitando o pedido do Papa para vir para a Diocese de Setúbal. Aliás, não foi propriamente um pedido.
Um Estado laico numa sociedade laica
Em 2019, na edição do 164.º aniversário de O SETUBALENSE, em entrevista, D. José Ornelas lembrava que antes de ter sido nomeado Bispo de Setúbal planeava ir para Angola, e disso deu conhecimento ao Papa.
“Francisco disse-me: não te mando, mas peço-te que vás para Setúbal”, portanto, “não havia plano B”. A explicação do Santo Padre foi que “o modelo que se pretende da Igreja na Europa está menos desenvolvido do que em África, na Ásia, e nas Américas. O laicismo tipicamente europeu não é regra, para bem e para mal”.
O Bispo, na altura (2019), admitia que a Diocese de Setúbal estava a passar por uma quebra de fiéis, mas que, no entanto, estava a crescer, assumia que gostava de “um Estado laico numa sociedade laica, mas não anti-religiosa porque isso não é inteligente. Gosto de uma sociedade que busca sempre caminhos. Mas admito que haja outras visões, e é com essas visões que vamos construir um caminho comum”.
É essa ideia de caminho comum que levará, por certo, para a Diocese de Leiria-Fátima. E na sua mensagem expressou que convida “todos a construir um mundo melhor”.
2015 Tinha o olhar em África quando foi nomeado para Setúbal
Bispo da Diocese de Setúbal durante seis anos, D. José Ornelas foi o terceiro bispo da diocese que abarca a península, tendo sucedido a D. Gilberto Canavarro dos Reis, que por sua vez ocupou esta missão depois de D. Manuel Martins, ambos tendo exercido até renúncia por limite de idade.
D. José Ornelas Carvalho nasceu a 5 de Janeiro de 1954, no Porto da Cruz, Madeira, tendo feito a sua formação religiosa na Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos). Foi ordenado padre na sua terra natal, a 9 de Agosto de 1981.
Especialista em Ciências Bíblicas, com o grau de doutor em Teologia Bíblica pela Universidade Católica Portuguesa, foi docente desta instituição académica entre 1983-1992 e 1997-2003.
Foi superior da Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus, cargo que assumiu a 1 de Julho de 2000, e eleito superior geral dos Dehonianos a 27 de Maio de 2003, cargo que ocupou até 6 de Junho de 2015.
Após estes mandatos, D. José Ornelas Carvalho, que tinha sido indigitado, a seu pedido para uma missão em África, viu o Papa Francisco nomeá-lo Bispo de Setúbal, a 24 de Agosto de 2015, tendo a sua ordenação episcopal acontecido a 25 de Outubro do mesmo ano, na Catedral da Diocese sadina, onde tomou posse.
Em Junho de 2020 foi eleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, e, agora, a 28 de Janeiro de 2022, o Santo Padre nomeou-o Bispo da Diocese Leiria-Fátima.
