26 Junho 2024, Quarta-feira

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Pedro Dominguinhos: “A região tem vindo a aumentar os níveis de qualificação”

Pedro Dominguinhos: “A região tem vindo a aumentar os níveis de qualificação”

Pedro Dominguinhos: “A região tem vindo a aumentar os níveis de qualificação”

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Presidente do Instituto Politécnico de Setúbal faz retrato do ensino superior no distrito e garante estar atento a lacuna existente no Litoral Alentejano

 

O Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) é “um centro de criação, transmissão e difusão da ciência, tecnologia e cultura”. Como instituição do ensino superior “cabe-lhe legítimas intenções e aspirações para o futuro, cuja explicitação pode ser um instrumento de motivação e inspiração para a sua comunidade”.

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Aposta na internacionalização, todos os cursos têm componente prática, em laboratórios equipados para tal, e várias start-ups e ideias de negócio têm saído da incubadora do IPS, motor de empreendedorismo, desenvolvimento e inovação. É actualmente uma comunidade de cerca de nove mil pessoas, e, nas palavras do seu presidente, Pedro Dominguinhos, “âncora fundamental para o desenvolvimento da região”.

Como apresenta o IPS?

O IPS já comemorou 40 anos, é uma instituição que já tem uma implantação muito significativa na região, tanto na Península como no distrito de Setúbal, com uma missão muito clara de promover o seu desenvolvimento. Ser parceiro da região tem sido o nosso lema, bem como promover a qualificação das pessoas, dos jovens e da população activa, sem esquecer a formação ao longo da vida e a inclusão, com um conjunto de projectos que para nós são emblemáticos do ponto de vista do voluntariado e do acesso ao ensino superior por públicos não tradicionais. Estamos a falar de uma instituição que congrega uma comunidade que ronda quase nove mil pessoas, 7800 estudantes, 600 e muitos docentes e cerca de 200 trabalhadores não docentes. Entre Setúbal e o Barreiro, e, a par de outras instituições de ensino superior da região, constituímo-nos como matriz fundamental na promoção da qualificação e relevância das instituições de ensino superior, enquanto motores do sistema regional de inovação no sentido de promover a própria inovação das empresas, a criação de novos produtos e serviços e também de responder à qualificação dos territórios, cada vez mais importante. Somos parceiros decisivos nas relações com as autarquias, instituições de saúde e instituições particulares de solidariedade social, que desempenham um papel cada vez mais decisivo na coesão territorial e social das regiões e a pandemia veio exacerbar o papel dessas instituições, nas quais as de ensino superior, de conhecimento e ciência, como o politécnico, se incluem.

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Que projectos tem em mãos neste momento?

Sendo o IPS uma âncora fundamental para o desenvolvimento da região, com uma comunidade muito activa e empenhada e mais participativa, queremos continuar a desempenhar este papel, com projectos a nível regional e internacional também. O projecto mais emblemático que neste momento está a congregar as energias da instituição é a criação da Universidade Europeia E3UDRE2, em conjunto com cinco instituições, no âmbito de uma iniciativa lançada pela Comissão Europeia em 2019, em que o IPS é uma das 41 alianças a nível europeu que servem como projecto piloto de transformação do ensino superior para o futuro. A região pode contar com um laboratório daquilo que pode ser o ensino superior do futuro e a forma como estamos a desenvolvê-lo é a olhar para o território como um conjunto de desafios que podemos ajudar a resolver em conjunto, com os nossos estudantes e docentes. Estamos fortemente empenhados. Começou em Outubro de 2020, irá decorrer nos próximos três anos e estamos a criar as bases para que possa continuar. Isso pode significar que teremos cursos e projectos em conjunto entre estas instituições a nível europeu, quando a pandemia o permitir do ponto de vista físico. Estamos a criar grupos de investigação internacionais sobre temas como economia circular, envelhecimento activo e qualidade de vida e o contributo humano para a inteligência artificial. Um conjunto muito significativo de áreas que tem uma implicação muito clara na região e para as quais queremos contar com as empresas e com os cidadãos, com as organizações e com as autarquias, fundamentais neste sentido”. Estamos ainda a desenvolver projectos de inovação pedagógica, com formação de docentes, que já está a decorrer e se vai prolongar pelos próximos três anos. Temos um conjunto de organizações que nos lançaram desafios e equipas multidisciplinares de estudantes dos vários ciclos de estudos, de vários cursos diferentes, que, apoiados por docentes, estão a desenvolver e irão desenvolver durante os próximos três anos essas soluções para a região, partindo do território para depois devolver ao território um conjunto de soluções.

Estão a trabalhar também fora da Europa.

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Temos projectos superiores a três milhões de euros nos países africanos de língua oficial portuguesa, designadamente Guiné-Bissau e Angola. No caso da Guiné, estamos a ajudar a desenvolver o sistema educativo, desde o ensino básico até ao secundário. Em Angola, estamos, em conjunto com outros três politécnicos, mas com a nossa coordenação, a fazer formação de professores para o ensino técnico, naquela que é uma experiência inovadora a nível internacional. Iniciámos em Março um outro projecto para promover o acesso ao financiamento das empresas angolanas, promover o empreendedorismo e o acesso aos jovens, mulheres e população rural em Angola. Lançámos em 2020 um conjunto de projectos, muito significativos, que incluem mestrados profissionais. Com o grupo SONAE iniciámos em Janeiro um mestrado em logística e gestão da cadeia de abastecimento para profissionais, desenvolvido em conjunto para dotar esses mesmos profissionais de competências mais actualizadas. Temos ainda outros projectos na área do mestrado em sistema de b-learning, que englobam a reconversão de profissionais desempregados para a área das tecnologias de informação e comunicação, cujo objectivo é, após a formação, em contexto real de trabalho, serem contratados pelas empresas. É uma aposta muito clara de formação ao longo da vida que queremos reforçar.

De que forma se está a organizar o universo IPS para dar resposta a estes projectos?

Estamos a criar massa crítica para responder aos desafios da região. Apesar de termos vivido um ano de 2020 de pandemia, foi o ano em que tivemos mais alunos. Nunca tivemos tanta receita em termos de prestação de serviços ao exterior, as mobilidades internacionais foram afectadas, mas a actividade interna, sobretudo junto dos nossos parceiros, não diminuiu. É ainda importante destacar o nosso compromisso, inequívoco, com a sustentabilidade, com o voluntariado para a região. Neste período de pandemia, produzimos viseiras, álcool gel em parceria com a Casa Ermelinda Freitas, e projectos de promoção de solidariedade social que nos levaram à assinatura de um protocolo com o Instituto da Segurança Social, através do Centro Distrital de Setúbal, em que utilizamos os nossos recursos para ajudar as IPSS do distrito. Criámos ainda o Laboratório Covid, certificado, que está a fazer testes para a nossa comunidade. No espaço de poucos meses, montámos o equipamento, e agora fazemos parte da rede de laboratórios científicos para lidar com situações de crise e catástrofe em Portugal, num protocolo assinado em Abril com 25 instituições a nível nacional.

Que retrato faz da educação na região, com enfoque no ensino superior?

A região tem vindo a aumentar os seus níveis de qualificação. Apesar de termos uma população envelhecida a nível nacional, o distrito de Setúbal, a par de outros como Braga ou Aveiro, demonstra alguma capacidade de população jovem, heterogénea. Tem sobretudo no ensino básico e secundário um problema claro de insucesso escolar. O ensino superior, por seu turno, tem vindo a criar aqui raízes muito profundas. Entre o IPS, a Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova, o Instituto Piaget e a Escola Egas Moniz, há aqui uma robustez muito relevante que nos últimos anos tem aumentado de uma forma muito significativa o número de estudantes. Também no que diz respeito aos cursos superiores técnicos profissionais, tem sido possível criar maior equidade. Temos agora cerca de 1200 estudantes em cursos técnicos superiores profissionais e estamos a falar de mil novos estudantes por ano, vindos do ensino secundário profissional, que em condições normais há quatro anos não chegavam ao ensino superior. Temos vindo a aumentar a capacidade de dar resposta aos desafios da região.

De que desafios falamos exactamente?

Temos de reconhecer, e isso tem vindo a ser uma reivindicação da região, que apesar de estarmos incluídos na Área Metropolitana de Lisboa, naturalmente uma vantagem muito clara porque chegamos a um universo significativo e beneficiamos da força de tracção de Lisboa, a Península de Setúbal tem indicadores económicos que lhe dão o direito de poder beneficiar de fundos estruturais adicionais. Também aqui as instituições de ensino superior acabam por ser penalizadas. Quando o IPS concorre ao concurso de equipamentos para os cursos técnicos superiores profissionais a taxa de comparticipação é de 45 por cento, enquanto se tivéssemos uma escola em Sines e Grândola a taxa era de 85 por cento. Se tivéssemos outras regras, teríamos capacidade de produzir muito mais ciência, conhecimento e inovação. Existe um outro problema, com a inexistência de ensino superior no Alentejo Litoral, que temos vindo a colmatar com a criação de cursos técnicos superiores em Sines e Grândola. Falamos, no entanto, de cerca de 125/140 estudantes quando a região, se considerarmos o Litoral Alentejano, tem 100 mil habitantes. O Distrito de Portalegre tem 115 mil pessoas e, portanto, há uma falha de mercado clara que tem de ser colmatada a breve prazo. Precisamos de ensino superior no Litoral Alentejano. Isto é algo a que o IPS não está desatento e quer nos próximos anos ter uma presença muito activa e intensa na zona do Alentejo Litoral, onde quer do ponto de vista da população como do tecido empresarial e social há uma necessidade clara reforçada pela forte internacionalização do tecido empresarial de Sines e dos investimentos que estão lá a ser colocados. Sabemos que para existir desenvolvimento económico tem de existir ensino superior qualificado e por isso o IPS irá assumir esta situação como um objectivo muito claro para poder reforçar a sua presença no território.

Que outros planos se encontram em cima da mesa para um futuro próximo?

No âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência, na candidatura que faremos, iremos incluir a construção da Escola Superior de Saúde, que está pendente há 20 anos. Teremos desta forma capacidade de reforçar as instalações e de poder construir nos próximos anos o edifício para a escola. Manifestamente, 7800 estudantes é número exagerado para as instalações que temos. Em ensino à distância, temos estudantes de Vila Nova de Famalicão a Loulé. Pretendemos ainda adaptar-nos à realidade de cada pessoa. Temos de formar muito mais a população activa. Existe um problema sério de falta de qualificação da população activa que está no mercado de trabalho, cada vez mais dinâmico e volátil.

E3UDRES2 Universidade Europeia pretende transformar cidades em laboratórios vivos

A Universidade Europeia E3UDRES2 é uma aliança que une o Instituto Politécnico de Setúbal a cinco parceiros europeus, da Áustria, Hungria, Bélgica, Roménia e Letónia, com o objectivo de desenvolver “um novo campus multiuniversitário, ramificado pelos seis países parceiros, que potencie a criação de centros de conhecimento capazes de contribuir para tornar as respectivas regiões de influência mais inteligentes e sustentáveis”.

Este projecto de três anos, que pretende gerar um novo paradigma para o ensino superior europeu, significa, à letra, Universidade Europeia Empreendedora e Envolvida como motor para Regiões Europeias Inteligentes e Sustentáveis.

Distingue-se por abordar as regiões como “laboratórios vivos” onde se produzem soluções para problemas concretos e com verdadeiro impacto na sociedade, através de uma educação baseada em desafios, de uma pesquisa orientada para a missão e de uma inovação centrada no ser humano, além de uma troca aberta de conhecimento.

IPS em números

1979 Ano da fundação
5 escolas
2 campi: Setúbal e Barreiro
7 829 estudantes, 412 dos quais estrangeiros
75 cursos: 28 licenciaturas, 24 CTeSP, 23 mestrados e 2 pós-graduações
661 docentes
165 não docentes

9 centros de investigação
19 projectos de investigação financiados executados em 2020
1 incubadora de ideias de negócio, com mais de 35 startups lançadas
17 609 diplomados
97,4% Taxa de empregabilidade – a segunda mais alta do Ensino Superior Politécnico

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