22 Julho 2024, Segunda-feira

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Regresso condicionado ao normal foi de sonho para utentes de lar

Regresso condicionado ao normal foi de sonho para utentes de lar

Regresso condicionado ao normal foi de sonho para utentes de lar

Voltaram a reunir-se com familiares fora da instituição, depois de mais de um ano de clausura imposta pela ditadura viral

 

Os seniores institucionalizados foram os mais penalizados pela solidão imposta por uma ditadura viral. As fronteiras da “vida normal” voltaram agora a franquear-se, embora de forma condicionada. Mas, o suficiente para ajudar a cicatrizar as marcas de privação. Foi mais de um ano sem direito a um beijo, a um toque familiar sequer. “Saudades? Oh, oh. Eram terríveis. Especialmente do pequenino, o meu bisnetinho. Quando ele vinha aí [à Box das Emoções], apetecia-me furar o vidro para o abraçar. Tem três anos, está amoroso e muito engraçado”, confessa Maria Juliana Cabral, 96 anos, utente do lar da União Mutualista Nossa Senhora da Conceição, no Montijo.

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No regresso condicionado ao “normal”, a instituição passou a autorizar, desde o passado dia 9, as saídas do lar aos utentes para estes estarem com a família, por períodos inferiores a 24 horas.

“Na primeira vez que o meu filho veio buscar-me, eu dizia assim: ‘não sei se estou a sonhar’. Sonhei tantas vezes que saía…”, desabafa Maria Juliana (carinhosamente tratada por Lolita pelos amigos), entusiasmada pelo reencontro presencial. “Cheguei a casa do meu filho a olhar para tudo: ‘mas estou a sonhar?’ Depois veio o pequenino, que é muito dado. Esteve no meu colo, a mostrar-me os bonecos. Foi realmente muito bom. Depois disso, já foram mais umas três vezes e esta semana também vou”, reforçou, sem esquecer que completa mais um aniversário no próximo dia 8.

A seu lado encontrava-se a colega Olívia Bibe, 87 anos, igualmente radiante por ter voltado a privar com a família, fora da instituição.

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“Também já saí. Com a minha filha e o meu Toino Manel, que é o meu genro. Fomos a Setúbal almoçar e andámos a passear. A gente gosta muito de Setúbal”, vinca a octogenária. E lembrou ainda: “Estivemos no Montijo, a passear na Praça da República… Adorei! Sentia muita falta… Agora podemos sair. Adoro sair. Amanhã [quarta-feira passada], se Deus quiser, vou almoçar à casa da minha filha e depois passear no Montijo.” Mas sempre com máscara, que, garante, não lhe causa qualquer transtorno. Mesmo que teimosamente lhe caia do nariz. “Puxa-se para cima”, diz, despachada.

E a ementa para o esperado almoço? Nem precisa de recomendações lá para casa, claro está. “Ah, eles sabem do que eu gosto. Gosto de quase tudo, ensopado de borrego, camarão, choquinho frito. Eles sabem o que fazer”, disse, por entre um sorriso maroto.

“Isto superou tudo”

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Patrícia Soares, membro do Conselho de Administração da União Mutualista, faz um balanço “bastante positivo” à forma como o processo está a decorrer na instituição. “Psicologicamente para os utentes, acho que isto superou tudo e, inclusive, para os familiares”, aponta. Ainda assim, esta não é uma absoluta normalidade. “Não, não é. Nem podemos baixar a guarda”, avisa.

Daí que continuem a ser mantidas algumas medidas de prevenção. “Continuamos a ter todos os cuidados aqui dentro. Quando o utente regressa, os sapatos da rua não são utilizados cá dentro, é feita a desinfecção das mãos à chegada, a máscara que trazem é imediatamente eliminada e substituída por uma nova, as actividades em grupo voltaram a ser possíveis mas com uso de máscara e as refeições continuam a ser feitas no quarto”, frisa. Já com a vacinação completa, os utentes “não necessitam de fazer quarentena, quando regressam, nem de realizarem testes”. Só “na eventualidade de surgir alguém com sintomas”, que nesse caso será “imediatamente isolado e testado”. As funcionárias, sim. “Mesmo vacinadas continuam todas as semanas a ser rastreadas”, explica.

Patrícia Soares realça, no entanto, aquilo que lhe parece contraditório. “Os familiares continuam sem poder entrar nas instituições, mas os utentes podem sair. Tendo em conta que a exposição ao risco existe, mesmo estando eles vacinados, o que fizemos foi apelar ao bom senso, distribuindo informações a dizer que a vacina não dá imunidade a cem por cento, não impede o contágio e que temos todos de continuar a ter muito cuidado.”

As cautelas na União Mutualista estendem-se, de resto, às valências de infância, face ao regresso presencial às aulas na Casa da Criança e no Centro Infantil António Marques. Foram criados “circuitos de entrada e saída diferenciados” para as crianças e continua a não ser permitida aos encarregados de educação a entrada no interior das instalações.

Túnel e Box das Emoções foram soluções inovadoras

A União Mutualista destacou-se, desde cedo, na adopção de medidas de combate à propagação da covid-19. A implementação de planos de contingência para cada valência da instituição foi disso exemplo. Mas a instituição foi mais longe e apresentou soluções “inovadoras e disruptivas”, como o Túnel de Descontaminação e a Box das Emoções.

O primeiro contribuiu para aumentar os níveis de protecção ao contágio. Já a Box das Emoções foi a solução encontrada para assegurar visitas de familiares a utentes na valência de lar, em total segurança. Foi inaugurada no Dia da Mãe do ano passado, acabando com um jejum de contactos entre os utentes e as famílias que durava há dois meses.

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