“Quero um dia estar entre os melhores”, diz técnico que não perde há dois anos e meio
A goleada (8-0) imposta domingo pela segunda equipa sénior do Vitória FC ao Lagoa da Palha, em jogo da 2.ª divisão distrital da AF Setúbal, confirma o registo imaculado do treinador Paulo Martins nos últimos dois anos e meio. Ao serviço do Águas de Moura (2018/19 e 2019/20) e Vitória (2020/21), o setubalense, de 43 anos, soma 25 triunfos e 10 empates em 35 partidas oficiais. O timoneiro, que como jogador envergou a camisola de Os Pelezinhos, Amora, Vitória, Seixal e Pinhalnovense, explicou a O SETUBALENSE o segredo do sucesso e revelou a ambição de ir mais além na carreira de treinador.
Ao serviço do Águas de Moura e agora no Vitória FC está há 35 jogos consecutivos sem perder (25 vitórias e 10 empates). Como treinador, o que representa para si este registo?
Estar há 35 jogos consecutivos sem perder nos 90 minutos é um enorme motivo de orgulho pessoal e, de certa forma, é uma marca que me faz acreditar ainda mais no trabalho e na ideia que tem vindo a ser desenvolvida.
A série actual foi quase toda (30 partidas) alcançada na 2.ª Divisão Sénior e na Taça da AF Setúbal, ao serviço do Águas de Moura. O que mudou depois da derrota (4-0) sofrida com o Estrela de Santo André, a 6 de Janeiro de 2019?
Muita coisa mudou a partir desse dia. Lembro-me perfeitamente desse jogo, mas nesse dia fiz uma análise interna para tentar descobrir onde é que eu podia melhorar a equipa. Foi a partir desse dia que me surgiu uma frase: “Independentemente da divisão e da realidade em que estamos inseridos temos de ser o mais profissionais possível”, tanto para a equipa técnica como para os jogadores como até para a estrutura. Foi nesse dia que se deu a mudança de mentalidade.
Em 2020/21, já ao comando da segunda equipa do Vitória, que participa na série A da 2.ª Divisão da AF Setúbal, tem conseguido manter a tendência e seguir invicto. Até quando?
Claro que quero aumentar esse registo pessoal, mas primeiro, para isso acontecer, temos de trabalhar muito durante semana onde os jogadores que tenho tido o privilégio de treinar têm a maior responsabilidade nessa marca. Alguns desses jogadores acompanharam-me há já dois anos.
Quem olha para o seu registo pode considerar o treinador uma espécie de talismã…
Não creio, creio sim em muita competência trabalho e ambição de todos em querer ganhar o próximo jogo. Agradeço a todas as pessoas que neste trajecto trabalharam directamente comigo, estruturas, departamentos médicos, roupeiros, colegas de equipas técnicas e principalmente aos jogadores pois sem eles nada disto era possível.
Qual o segredo para continuar invencível ao fim de tanto tempo?
Penso que o segredo é conseguir combinar a organização estrutural com a organização do trabalho de campo e ter jogadores ambiciosos com competência de absorver o mais rápido possível as nossas ideias de jogo. Tentar que a energia de grupo se situe no centro do grupo e se disperse por todos desde o roupeiro ao presidente.
O facto de ter tido uma longa carreira como jogador – passou por clubes da região como Os Pelezinhos, Amora, Seixal e Pinhalnovense – e conhecer bem o ambiente do balneário e a forma de pensar dos atletas é essencial para um treinador? Se sim, porquê?
Sim, é verdade a minha carreira como jogador e o facto de ter estado muitos anos no balneário ajuda e de que maneira. Já aconteceu levar uma unidade de treino preparada, mas quando olhei para a cara dos jogadores percebi que algo não estava bem e que aquele treino não iria ajudar em nada e ter de alterar. Por vezes, vale mesmo a pena mudar. Penso ainda que a minha formação académica (Licenciado em Ciências do Desporto) é tão importante como a carreira de jogador pois sou apologista que não existe teoria sem prática e vice-versa.
Numa competição de futebol amador em que as equipas, na sua globalidade, se equiparam, até onde pode prolongar este registo que, neste momento, é caso único em Portugal?
Nesta competição onde todos os jogadores são amadores e alguns têm de trabalhar é por vezes um tiro no escuro. Há momentos em que o jogador não pode ir treinar à última hora, o que nos leva a alterar tudo o que estava planeado. Juntando a isto a pandemia que veio tornar ainda mais difícil a nossa vida, pois os plantéis são curtos e, se algum jogador der positivo à Covid-19, é menos um jogador para domingo. Mas estou esperançado que vamos realizar um bom campeonato e honrar o símbolo que trazemos ao peito.
Nasceu em Setúbal há 43 anos e começou a jogar futebol n’ Os Pelezinhos, passando depois para o Vitória ainda nos escalões de formação. O que representa para si estar agora ao serviço do principal clube da sua cidade?
Para mim, defender o clube onde que tive a possibilidade de representar nas camadas jovens, com uma fugaz presença no plantel sénior, é motivo de um orgulho enorme.
Qual o objectivo do Vitória FC na presente época?
O nosso objetivo é ganhar o próximo jogo e poder, quem sabe, promover algum jogador ao plantel principal na próxima época.
Qual o nível de treinador que possui actualmente. Pensa continuar a investir na sua carreira?
Tenho o 2.º nível e tenho como objectivo tirar o 3.º e o 4.º nível” se me permitirem.
Treinar a equipa principal do Vitória é um objectivo?
Neste momento estou focado no meu trabalho, claro que quero um dia estar entre os melhores pois sou uma pessoa ambiciosa, mas neste momento o Vitoria FC está em boas mãos, o Alexandre Santana e a sua equipa técnica estão a realizar um excelente trabalho. Todos nós estamos a torcer para que que culmine com a subida à II liga.
Quais as suas principais referências?
José Mourinho, Jurgen Klopp e Carlo Ancelotti.