13 Agosto 2024, Terça-feira

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Sales, o Camarão enraivecido

Sales, o Camarão enraivecido

Sales, o Camarão enraivecido

Nem só de bola se fez o São Domingos Futebol Clube. Nesse pequeno bairro popular, crescera um futuro campeão de pugilismo: Agostinho Sales, o “Camarão II” (em referência a Santa Camarão, a grande figura do boxe nacional). Agostinho José Ferreira de Mesquita nasceu em 22 de abril de 1914, em Setúbal, e ganhou o epíteto “Sales”, como era conhecido no bairro. Além de pugilista profissional, foi fragateiro, estivador, ajudante de motorista e até guarda-costas da fadista Amália Rodrigues. Só não chegou a ator em Hollywood.

 

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Com um metro e noventa e uma canhota poderosíssima, teve carreira fulgurante nas categorias de pesado e meio-pesado, sobretudo entre 1939 e 1945. Enquanto as espingardas disparavam pela Europa fora, Sales era o verdadeiro “bombardeiro” do bairro de São Domingos em Portugal e Espanha. Combateu nos grandes palcos do boxe profissional ibérico: Club Desportivo Lisgás; Parque Mayer; Campo Pequeno; Teatro Circo Olympia, em Barcelona; ou Frontón Recoletos, em Madrid. Em 1941, já campeão em Portugal, representou o boxe luso em Barcelona contra Paco Bueno, saindo derrotado.

 

O seu temperamento era também lendário. Em 1953 a GNR de Setúbal prendeu-o por querer “partir uma das árvores existentes no passeio” e, depois, tentar “partir a porta do calabouço”. Um velho amigo no bairro conta como, no cinema, lhe tinham de ler as legendas, já que o pugilista adorava filmes, mas era analfabeto. Quando alguém se queixou do barulho dessa leitura, Sales deu-lhe “uma esquerda”, ficando o reclamante a dormir o filme inteiro.

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Agostinho Sales morre em 13 de maio de 1987, mas o São Domingos Futebol Clube não esquece esta relação com o bairro. Em 1993, organiza com a Câmara, a Federação Portuguesa de Boxe, entre outros, uma homenagem ao pugilista no Clube Naval Setubalense. Na sua casa na Rua Francisco José Mota, n.º 4, 1.º, descerra-se mais tarde uma placa comemorativa, que ainda hoje lá pode ser vista. O “Camarão II” poderia descansar em paz. Setúbal e São Domingos nunca se esqueceriam dele.

 

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Estas e outras histórias farão parte do livro do São Domingos Futebol Clube, a lançar no centenário do clube em 2021. 

 

João Santana da Silva* 

*historiador 

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