Sem-abrigo está a ser julgada pelo homícidio do homem de 68 anos, depois deste ter sido encontrado morto em Santa Marta do Pinhal
Tânia Rodrigues, 32 anos, está a ser julgada por ter degolado Carlos Guilhermino, 68 anos, em casa deste no bairro de lata de Santa Marta do Pinhal, no Seixal, com uma garrafa partida após uma discussão. Na noite do homicídio, em meados de Outubro de 2019, a mulher sem-abrigo, conhecida neste bairro por realizar favores sexuais em troca de dinheiro, deixou a vítima a esvair-se em sangue e fugiu. Foi detida seis meses depois pela Polícia Judiciária de Setúbal.
Esta quarta-feira, ao Tribunal de Almada, onde responde pelo crime de homicídio simples, a arguida disse que foi violada e que, ao defender-se, agarrou numa garrafa partida e atacou o seu agressor. Tânia acrescentou que na noite do crime, chegou de táxi ao bairro para ir ter com o namorado, mas quando lhe pediu para pagar a tarifa, este rejeitou-a.
Sem dinheiro e sem teto, como referiu, recorreu a Carlos Guilhermino, homem que conhecia por lhe pagar bebidas no café do bairro e com quem chegou a ter encontros sexuais a troco de dinheiro. Nessa noite, a mulher não queria ter relações sexuais e contou no tribunal que o homem a atacou e agrediu violentamente com um pau de vassoura, tendo mesmo sido violada. “Como estava escuro tentei encontrar alguma coisa para me defender naquele momento de aflição e agarrei naquela garrafa para me defender”, afirmou. Conseguiu fugir, sem saber em que estado deixou a vítima e mais não regressou ao bairro.
O corpo de Carlos Guilhermino foi descoberto pelo seu primo uma semana depois do homicídio, nu e prostrado no quarto. Estava sentado com as pernas por baixo da cama. Tinha golpes na garganta, num pulmão e num rim. Havia salpicos de sangue na sala, onde o sofá estava virado. A PSP acorreu ao local e passou o caso para a Polícia Judiciária de Setúbal. O trabalho de identificação da suspeita foi travado pela falta de colaboração dos restantes moradores no bairro de lata. Muitos não respondiam e os que o faziam, falavam em crioulo, dificultando a comunicação.
A Polícia Judiciária conseguiu então identificar a suspeita e volvidos seis meses, localizou-a no bairro de lata do 2.º Torrão, na Trafaria. A suspeita, com antecedentes relacionados com tráfico e consumo de droga, ainda apresentava no corpo as cicatrizes da luta que teve com Carlos Guilhermino, lesões no membro superior esquerdo, face anterior do tronco, face e membros inferiores.
“Foi só quando fui presente a tribunal que soube que ele tinha morrido”, afirmou Tânia ao colectivo de juízes, a quem justificou não ter ido ao hospital ou à polícia após a violação por temer que fosse desacreditada e por não gostar de hospitais. Na noite do crime, a mulher foi para casa do seu ex-companheiro. Estava com feridas no sobrolho e um grande golpe na cabeça. No tribunal, este disse que Tânia se queixou de que alguém a tentou violar e que foi agredida com um pau, defendeu-se com uma garrafa e fugiu, mas nunca quis identificar o agressor.
No dia seguinte ao ataque, a mulher saiu de casa do ex-companheiro e não mais voltou. O homem percebeu que esta era procurada por homicídio semanas depois, quando a mãe desta lhe telefonou porque a polícia estava à procura dela pelo homicídio de Carlos Guilhermino.
A investigação acredita que a mulher esteve fugida à polícia durante os seis meses, mas esta garantiu que não sabia que Carlos teria falecido. Após ser detida, o Tribunal do Seixal colocou Tânia em prisão domiciliária, na mesma casa onde foi encontrada no bairro de lata do 2.º Torrão. A arguida violou a prisão domiciliária e voltou a ser detida. Desde Julho de 2020 que se encontra em prisão preventiva.