David Leonardo, líder da MAG do Vitória FC, lança repto aos sócios antes da AG de amanhã. “Quem gosta do Vitória e se preocupa com o seu futuro não pode apenas reclamar, comentar nas redes sociais ou discutir o Clube entre amigos”, diz
Os actuais órgãos sociais do Vitória FC foram empossados há exactamente três meses. Que balanço faz deste período?
Encontrámos o Vitória FC numa situação calamitosa. Tanto por fazer, tanto por organizar. Só com a dedicação e boa vontade dos funcionários, colaboradores, atletas, equipas técnicas e os nossos voluntários conseguimos ultrapassar situações que, sem esta ajuda, teriam agravado ainda mais o estado do nosso Clube. Constato que o árduo trabalho realizado pelos membros dos diversos órgãos sociais nestes três meses foi fundamental para nos mantermos à tona e podermos encarar com esperança o futuro. Sinto um orgulho enorme em pertencer a este grupo que, com elevado prejuízo pessoal e profissional, se tem dedicado a uma causa tão nobre: a salvação do Vitória.
Qual a importância da Assembleia Geral Extraordinária que se vai realizar amanhã? O que está em causa?
Os sócios têm de fazer parte activa das vidas dos clubes. O Vitória não é excepção. Todos os que representam o Vitória têm a obrigação de prestar contas dos actos que praticam e elucidar os sócios sobre tudo o que de relevante se passa no Clube. Por outro lado, os sócios têm o direito de intervir ao nível das decisões, o que – dito de outro modo – implica que os actos que não sejam de mera gestão corrente só sejam praticados depois de ouvidos os sócios e de acordo com o que a maioria decida. Infeliz e lamentavelmente, no Vitória nem sempre foi assim… E, num passado recente, face aos constrangimentos provocados pela pandemia, ficaram por realizar assembleias gerais que teriam permitido à equipa de futebol profissional continuar no escalão a que pertence. Não podemos repetir esses erros. Ora, uma vez que as entidades competentes nos proibiram de realizar a assembleia de forma presencial, os actuais membros da Mesa da Assembleia Geral, a que presido, decidiram realizar a assembleia geral através de meios de comunicação à distância.
Quanto aos assuntos que serão debatidos, como compreenderá, estão reservados aos sócios do Vitória. Posso afirmar que se tratam de assuntos de extrema importância mas que serão tratados dentro de casa e não nas redes sociais ou nos órgãos de comunicação social, sem prejuízo do imenso respeito que estes nos merecem.
Teme que o facto de a AG de terça-feira se realizar através de meios de comunicação à distância possa afastar muitos sócios?
No universo Vitoriano existem muitas pessoas que, por uma razão ou por outra, não têm, à partida, facilidade em participar numa assembleia nestes moldes. Foi por isso que tivemos o cuidado de colocar à disposição dos associados um suporte informático que permita instalar, configurar e explicar o funcionamento da plataforma que será utilizada. Basta que os sócios se dirijam à Gestão de Sócios ou nos enviem um e-mail. Não existe nenhum motivo para os sócios não participarem.
Qual o número de associados que já se inscreveram?
Até sexta-feira (dia 26), cerca de 200 associados, o que é ainda manifestamente pouco, para uma assembleia tão importante.
Que mensagem diria aos sócios do Vitória que ainda não se inscreveram para o fazerem?
Quem gosta do Vitória e se preocupa com o seu futuro não pode apenas reclamar, comentar nas redes sociais ou discutir o Clube entre amigos. Um Vitoriano completo participa activamente nas decisões e isso é feito em AG. Ora, sendo este um momento crucial, o dever de participar é ainda maior. O Vitória está numa posição muito frágil. Precisa de espirito crítico, de apoio e de demonstrar para o exterior a sua vitalidade. Contamos, por isso, que a AG, pese embora o formato, reúna um número de participantes muito interessante.
Vai ser apresentado algum potencial investidor no Vitória, que tem sido apontado como única solução para viabilizar o clube e a SAD?
Vai ser efectuado um balanço do que foi feito pelos diversos órgãos sociais nestes primeiros três meses de mandato. Os temas a discutir, num primeiro momento, ficam reservados para os sócios.
“Hoje o ambiente é fantástico, apesar das dificuldades”
“Discussão sobre a actual situação do Vitória FC” é o ponto 1 da convocatória. Do que conhece da realidade do clube, considera que está hoje melhor ou pior do que quando chegaram? Porquê?
Melhor. Muito melhor. Quando tomámos posse, os funcionários, atletas e colaboradores vieram ao nosso encontro. Os nossos parceiros institucionais receberam-nos e visitaram-nos. Os diálogos sucederam-se e as sinergias uniram-se. Nada disso acontecia no Vitória nos meses que antecederam a nossa tomada de posse, como é conhecido. Hoje o ambiente é fantástico, apesar das dificuldades que se arrastam de um período anterior à nossa entrada no Clube. Existe uma reciprocidade de respeito, estima e admiração e isso permitiu organizar diversos dossiers e oferecer uma estabilidade à Direcção para desenvolver um projecto para o Clube. Por outro lado, os excelentes resultados desportivos (nas diversas modalidades e no futebol) mantêm a chama acesa.
“Impõe-se a realização de uma Assembleia Geral para informar todos os sócios acerca da situação do Clube e dos actos entretanto praticados pela Direcção, bem como para discutir e deliberar sobre assuntos absolutamente fundamentais para a vida do nosso Vitória”, escreveu em comunicado a 21 de Março. Pode especificar?
Os sócios serão os primeiros a ouvir o que temos para dizer.
No passado dia 20 emitiu outro comunicado a pedir um “voto de confiança à Direcção para que possa desenvolver o seu trabalho em prol do Vitória, numa altura em que mais ninguém se ofereceu para o fazer”. Quais as razões que o levaram a fazer?
A grave situação do Vitória e a escassez de meios humanos no seio do Clube obrigam os membros de um órgão social a colaborar na esfera de competência de outro. Essa estreita relação permite conhecer com rigor o trabalho que é feito por todos os que desempenham funções estatutárias no Clube. O que temos assistido nestes três últimos meses é de louvar, principalmente no que diz respeito aos membros da Direcção. Sacrificando a sua vida pessoal e profissional, os membros da direcção têm trabalhado diariamente, largas horas por dia, para o Vitória. E fazem-no com elevado rigor e profissionalismo, apenas com um objectivo: salvar o Vitória. A minha consciência, enquanto pessoa mas especialmente como Vitoriano, obriga-me a reconhecer esta dedicação e, de algum modo, contribuir para o alargamento desse reconhecimento.
Continua a existir uma divisão entre os sócios. De que forma podem as diferenças ser esbatidas e de que forma essa desunião prejudica o clube?
Permita-me discordar. Não existe qualquer desunião. Mas vejamos: o Vitória realizou três actos eleitorais no ano de 2020, uma delas com cinco candidatos! Pelo meio, ainda teve uma assembleia destitutiva. Tudo isto deixa marcas. Há pessoas que ficaram com mágoas e outros sentimentos menos positivos mas não nos podemos esquecer de que somos todos do Vitória. As ideias diferentes, os projectos e as críticas servem para crescer. De quando em vez lá aparece um sócio com comentários destrutivos, revanchistas e desestabilizadores. Mas isso é fruto do que acabámos de referir e resume-se a uma pequena minoria de adeptos. Esse ruído não é suficiente para se poder considerar que existe uma divisão entre os sócios. Aliás, não nos podemos esquecer que os órgãos em funções foram eleitos numa lista proveniente de diversas reuniões de trabalho, abertas a todos os sócios do Vitória, com o objectivo de apresentar a sufrágio uma ‘lista de salvação’. Esse objectivo foi alcançado e nenhuma outra lista concorreu ao acto eleitoral de Dezembro. Os sócios estão mais unidos do que nunca e essa união pode e deve ser reforçada. Todos somos poucos. É hora de esquecer as diferenças e perceber que aquilo que nos une (o amor ao Vitória) deve derrubar as diferenças e as más memórias. Esta Assembleia é um bom momento para o fazer. Unidos, tenho a certeza que colocaremos o nosso Vitória no lugar a que pertence.