Em 2015 foi considerado um dos melhores mercados do mundo pelo jornal USA Today
Hoje os rostos estão escondidos atrás das máscaras ou ainda mais disfarçados pelas viseiras que estes novos tempos de pandemia exigem, mas comerciantes e clientes mantêm a relação de proximidade a que o Mercado do Livramento e a sua identidade os habituou. A vida, a dinâmica e as gentes deste equipamento setubalense espelham isso mesmo: a história da cidade e de quem faz parte dela.
A 31 de Julho, o Mercado do Livramento comemorou os seus 144 anos. O primeiro edifício da tão popularmente conhecida “praça” setubalense, inaugurado em 31 de Julho de 1876, foi demolido e substituído, em 1930, por outra construção, virada para a Avenida Luísa Todi. Ganhou nessa altura o traçado que se conhece hoje. A enorme oferta de produtos e a sua essência colocaram-no na lista de sítios a visitar e até no rol dos melhores do mundo.
De toda a parte chegam visitantes para conhecer o espaço setubalense que mundo afora tem despertado curiosidade e coleccionado admiradores. Para fazer compras, mas não só. Fotografar os painéis de azulejos e as bancas de peixe tornou-se uma das principais actividades realizadas dentro do equipamento comercial. Todos querem levar consigo um registo fotográfico para guardar e mais tarde recordar. De terça a domingo, as manhãs são preenchidas e nem as medidas de segurança em vigor actualmente, com a lotação diminuída no interior do espaço e a consequente criação de filas em redor do mercado, são impedimento para tentar entrar.
Da pesca e da agricultura a um mundo de sabores
Especialmente direccionado para os sectores da pesca e da agricultura, no seu início de vida, o Mercado do Livramento era uma forma de permitir aos produtores locais a escoação e venda dos seus produtos. Hoje é um dos sítios mais famosos da cidade e, em 2015, o jornal americano USA Today destacou-o como um dos melhores mercados de peixe de todo o mundo, na mesma lista onde se inserem mercados como o de Tsukji, em Tóquio, no Japão, ou o New Fulton Fish Market, em Nova Iorque. Mas nem só de peixe se faz este equipamento setubalense. Sem esquecer a carne, a fruta, os produtos hortícolas, as flores e as ervas aromáticas, o artesanato local e outros produtos regionais, como os vinhos, o mel, os queijos e várias qualidades de pão e pastelaria, o Mercado do Livramento tem até, desde o início do ano, a banca Mar Até Cá, que apostou num conceito Grab and Go. No seu todo, conta uma história. A sua. A das suas gentes. A da sua cidade. E esta pode começar nos painéis azulejares, com mais de cinco mil peças da autoria de Pedro Jorge Pinto que representam actividades ligadas ao mar e ao campo na parede Norte do Mercado. Lá se podem ver a carga e descarga de peixe, o transporte e recolha do sal, a reparação das redes, a salga do peixe, a apanha da azeitona, a lavoura e a sementeira, a ceifa do arroz, a rega do pomar e a vindima, actividades que marcam uma longa história de tradição e vida da cidade, também esta representada nestes painéis através de uma vista geral de Setúbal em 1929.
Mercado é palco de iniciativas gastronómicas
O Mercado do Livramento é um ícone setubalense. Recebe a visita de turistas de todo o mundo, a par de vários eventos que dinamizam o espaço e fazem a ligação com outros locais e realidades da cidade. Neste sentido, e fazendo jus à enorme variedade de produtos presente em cada banca, tem vindo a ser também o porto de partida ou o espaço eleito para a realização de várias iniciativas gastronómicas. A Câmara Municipal de Setúbal, em continuidade do trabalho realizado no âmbito da marca “Setúbal, Terra de Peixe” lançou, desde Outubro, iniciativas como Olh’Ó Peixe e Olh’Ó Marisco que têm no Livramento um dos seus palcos. Também a Semana da Ostra, em Setembro, passou pelo Mercado do Livramento e na Semana da Sardinha, em Julho, chefs seleccionaram produtos na “praça” para depois confeccionar os seus pratos.
Em 2013, depois das profundas intervenções de beneficiação de que o espaço comercial foi alvo, o Mercado do Livramento ganhou novas valências e nas palavras de Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, tornou-se “um espaço de referência nacional em que a modernidade convive harmoniosamente com a tradição de um mercado fundado em 1876”. Nesta altura foi ainda realizada a recuperação do património azulejar do equipamento e a colocação das quatro famosas estátuas decorativas alusivas a profissões do Mercado do Livramento, intervenções financiadas por Hans-Peter Buehler e Marion Buehler Brockhaus, da Fundação Buehler-Brockhaus. O carregador de peixe, a vendedora de ovos e galinhas, o vendedor de flores e o talhante, da autoria do escultor Augusto Cid, estão presentes na rua principal e dão desde então as boas-vindas aos visitantes do mercado, que até já brilhou na novela “Mar Salgado” da SIC.
As valências que o Mercado do Livramento tem para oferecer não se esgotam no piso térreo. Na parte superior, balneários, lojas de comércio e espaços para novas iniciativas empresariais trazem uma nova dinâmica ao espaço, também remodelado em 2013. A adaptação da zona de galerias permitiu criar o Ninho de Novas Iniciativas Empresariais de Setúbal, com vinte gabinetes, uma área preparada para a instalação de uma cafetaria, salas de formação e de reuniões, um auditório e espaços onde passaram a funcionar os gabinetes municipais de apoio ao empresário e do consumidor.