Em causa as comissões recebidas pelo agora presidente do Vitória quando era empresário.
O SETUBALENSE teve acesso à documentação remetida esta semana por um sócio do Vitória Futebol Clube, que pediu anonimato, à Repartição de Finanças de Setúbal – 2 em que é feita uma denúncia de alegada fraude fiscal à empresa Fantastic Player Football Unipessoal e a Paulo Rodrigues, ex-empresário de futebol, proprietário da referida empresa e actual presidente do Vitória.
Na correspondência enviada constam as cópias dos contratos de empréstimo, intermediação e de comissão outorgados pela Vitória FC SAD com a sociedade Fantastic Player, representada por Paulo Rodrigues, em que “lhe foram pagos 195 mil euros, sem entrega de qualquer recibo, sem pagamento de IVA, IRC e outras obrigações fiscais”, lê-se na carta dirigida ao chefe da repartição das Finanças, em que é pedida “uma análise à situação”.
Em Junho de 2018, altura em que o emblema setubalense era presidido por Vítor Hugo Valente, Paulo Rodrigues, de acordo com os contratos, arrecadou as comissões através da Fantastic Player. “Recebeu 100 mil euros de comissão referente à intermediação no empréstimo que o senhor António Rosário fez ao Vitória no valor de 300 mil euros e recebeu ainda 95 mil euros de comissão referente à intermediação no empréstimo que a sociedade Soccer Features Limited celebrou com o Vitória FC SAD no valor de 295 mil euros”.
Em relação a estes valores, a denúncia refere que “não existiram quaisquer movimentações fiscais por parte da Fantastic Player representada por Paulo Rodrigues, nem a entrega de recibos de pagamento de IVA, retenção na fonte, IRS, nada de nada, o que, a meu ver, constitui, entre outros um crime de fraude fiscal”, refere o texto a que O SETUBALENSE teve acesso.
Segundo os contratos, os valores avançados pelos investidores “destinavam-se a apoiar transitoriamente a tesouraria” dos sadinos. Como contrapartida aos empréstimos concedidos, o Vitória “cedeu o direito de receber 295 mil euros de futuras transferências de Frederico Venâncio e Tomás Podstawski”.
Confrontado com os contratos que o nosso jornal tem na sua posse, o presidente Paulo Rodrigues, que foi peremprório na resposta. “O que está escrito nos contratos foi acordado com a direcção. Eles é que têm de responder por isso, não sou eu. Quem está na direcção do clube é que sabe o que faz, o que pede e o que acorda. Não sou eu!”, sublinhou o dirigente que celebra amanhã 44 anos de idade.
E acrescentou: “É triste e vergonhoso é não estar pago e cumprido o que os investidores, com essas verbas, fizeram para que o clube não acabasse. Essas verbas estão ainda hoje no PER (Plano Especial de Revitalização) e os investidores perdem 50% do valor que emprestaram ao clube e não foram ressarcidos até hoje”.
AG para destituir direcção “não faz sentido”
Entretanto, o presidente do Vitória, que vai a 4 de Dezembro saber se continua à frente dos destinos do clube, depois de os sócios votarem em Assembleia Geral Extraordinária se destituem a direcção, já tinha deixado esta mensagem aos adeptos. “Gostava de dizer aos sócios para terem um pouco de paciência porque nada se faz num dia. Não temos varinhas mágicas, temos trabalhado muito e ajudado toda a gente: funcionários, jogadores, ‘staff’ da SAD e credores. Temos feito tanta coisa em tão poucochinho tempo que fico espantado quando sou confrontado com um requerimento de 113 sócios que querem que saiamos do Vitória. Somos direcção há pouco tempo [eleito a 18 de outubro] e isso não faz sentido”.
Maria das Dores Meira, presidente da Câmara Municipal de Setúbal, manifestou no Facebook preocupação pelo estado de degradação do Bonfim, depois da visita técnica em que liderou uma comitiva camarária ao estádio para avaliar as condições em que se encontra o imóvel, que agora integra o património do município. “Encontrámos, durante esta visita, variadíssimas situações de abandono e degradação que não são compatíveis com a dignidade que deve ter um estádio em que joga um dos grandes clubes de Portugal. Situações que poderiam, e deveriam, ter sido resolvidas há muito”.
A edil deixou uma garantia: “Iremos analisar, com ponderação, o que poderemos fazer para ajudar a melhorar um estádio que é agora património de toda a cidade e do concelho, sem pôr em causa a sua utilização pelo Vitória FC. Seremos, contudo, muito exigentes com o obrigatório zelo que os dirigentes do clube devem ter daqui para a frente na utilização deste equipamento desportivo”, escreveu, sublinhando que a Câmara mantém “o compromisso de evitar a intromissão na vida interna do clube, o que não nos impedirá de ter opinião sobre a forma como é governado”.