O escândalo das contas do Belenenses SAD revelado ontem pelo jornal PÚBLICO veio acabar com qualquer réstia de dúvida de que a despromoção do Vitória de Setúbal por razões financeiras é injusta, imoral e até criminosa.
Afinal o Belenenses SAD só obteve o que o Vitória não conseguiu – a declaração de não divida à Autoridade Tributária – porque escondeu salários, para não pagar ao fisco e à Segurança Social. Embora escandalosa, a história não é grande surpresa. O futebol português, com destaque para a I Liga, está repleto de casos idênticos de falta de transparência sobre a realidade financeira dos clubes. Não vale a pena citar nomes, mas só os casos mais conhecidos – já publicamente revelados – incluem pelo menos quatro clubes directamente concorrentes do Vitória na luta pela manutenção na I Liga.
Além da manipulação das contas, algumas sociedades desportivas – é o caso, pelo menos, de Os Belenenses e do Boavista – beneficiaram ainda da obtenção das declarações de não divida da Segurança Social através da entrega dos direitos de passes de jogadores como garantia, o que já foi formalmente declarado ilegal pelo Tribunal de Contas.
Perante isto, como pode a Liga Portuguesa de Futebol Profissional persistir na decisão de despromover o Vitória em nome da defesa da verdade desportiva? Com que moral pode Pedro Proença, presidente deste organismo, sustentar tal posição? À evidência de que a verdade desportiva não chega para sustentar o abate do Vitória, acresce a percepção de que a Liga, institucionalmente, e os seus responsáveis, incorrem em actos, e omissões, que podem configurar responsabilidade criminal. Por exemplo, a Liga e os seus responsáveis, sabiam, ou tinham obrigação de saber, que o Belenenses SAD escondia salários do fisco e da Segurança Social, porque as demonstrações financeiras e as certificações legais de contas CCLC), que contém essa informação, foram entregues no processo de inscrição para a nova época.
Chegados aqui, a Liga de Clubes só tem uma forma de remediar minimamente o mal que está feito e salvar o que ainda resta da idoneidade deste sistema desportivo em decomposição; encontrar uma solução política para que o Vitória fique na I Liga (como o alargamento do número de clubes participantes).
O tempo urge porque o sorteio está marcado já para amanhã e o dever deve impor-se. Se não resolver o problema atempadamente, Pedro Proença ficará como o carrasco de um histórico do futebol português, sacrificado em nome de uma verdade desportiva que é uma mentira.