O corso de Carnaval continua a levar, todos os anos, milhares de pessoas à freguesia de Alhos Vedros
Quando nasceu, no longínquo ano de 1869, por iniciativa de D. Manuel Sampayo e Castro, mais conhecido como Conde de Sampayo, cujo palacete está em vias de ser requalificado pela Câmara da Moita, na freguesia de Alhos Vedros, o fundador da Sociedade Filarmónica Recreio e União Alhosvedrense (SFRUA), apelidada de “Velhinha” por ser a mais antiga do concelho, que completa no próximo dia 2 de Agosto o seu 151º aniversário, na altura, estava bem longe de imaginar que a mesma iria tornar-se naquela que é uma das colectividades mais importantes no seio desta comunidade.
Fruto da vitória das ideias liberais, a sua criação esteve associada ao objectivo de “realização do indivíduo, condição forçosa para a implantação de um novo tipo de sociedade”. Em declarações a O SETUBALENSE, a actual vice-presidente da direcção, Dina Rosado Lourenço, faz um “balanço muito motivo” do trajecto da colectividade centenária e afirma que, ainda hoje, em termos “financeiros e humanos, não é fácil” assegurar as múltiplas actividades anuais, porque “acabamos sempre por ser os mesmos, mas tem sido um percurso muito positivo”, destaca.
“Aprendemos muito uns com os outros, com os sócios e com quem frequenta as nossas instalações, sendo esta uma aprendizagem que acaba por ser constante”, realça. Reuniões e palestras, música, dança, diversos jogos e modalidades são algumas das iniciativas que têm marcado a história da “Velhinha”, inicialmente, com a entrada em funcionamento da primeira sede, altura em que começa a operar a sua banda filarmónica, que chegou a ser considerada “uma das melhores do país”.
Com efeito, o gosto pelas artes da família Sampayo, terá sido fundamental para o caminho seguido pela sociedade, ainda na Rua Cândido dos Reis, que teve o espanhol D. Dominguez como maestro titular da filarmónica, espalhando a sua fama, consolidada em 1906. Há precisamente 100 anos, com a construção do coreto existente na Praça da República, no centro da vila, as actuações da banda começara a ganhar cada vez mais audiências.
Da construção da nova sede aos corsos de Carnaval
No final daquela década, em Março de 1929, é adquirido o terreno situado na Rua 5 de Outubro, altura em que começou a ser erguida a sede actual, tendo o projecto da segunda fase de construção acontecido mais tarde, na década de 80, no momento em que António Rato era director da SFRUA, tendo a nova “casa” sido inaugurada pelo então primeiro ministro Cavaco Silva, no ano de 1993. Um ano depois, a “Velhinha” atinge o reconhecimento concelhio, com a atribuição da Medalha de Honra do município da Moita.
Actualmente, a sociedade conta com mais de mil sócios e os festejos carnavalescos, que começaram em 1991 impulsionados pelo vice-presidente da altura, Vítor Cabral, assumem-se como um dos maiores eventos de Alhos Vedros. “Dentro do nosso Carnaval, que é a nossa actividade com mais impacto na comunidade e não só, temos a bateria de samba e os passistas, que têm actuações e saídas durante todo o ano e não apenas naquelas datas”, realça Dina Rosado Lourenço. Contudo, a dirigente associativa recorda a importância das inúmeras modalidades praticadas na SFRUA, tais como o karaté, capoeira, ginástica, trampolins e manutenção, o ballet ou a dança contemporânea, com a patinagem a movimentar muitas pessoas, desde atletas, pais e os próprios técnicos.
“Temos muita gente a frequentar a nossa ‘casa’ diariamente”, afirma com orgulho. “Contamos também com a Feira Medieval de Alhos Vedros, feita pela Associação Cultural História e Património Aliusvetus, mas o carnaval é sem dúvida o maior evento na freguesia”, sublinha.
Sede alvo de obras em tempos de pandemia e vésperas de comemorações
O aniversário deste ano está ainda dependente do evoluir da situação relativa à pandemia Covid-19 e das indicações do município moitense em relação a esta situação. No que toca a actividades, “já temos indicações por parte das federações, quer de ginástica, patinagem ou de badmington, que os treinos podem voltar a ser realizados, mas tudo isso está dependente da reabertura da colectividade”, recordou a vice-presidente da direcção.
Certo é que a SFRUA tem “uma importância fulcral na freguesia e é a mais antiga, movimentando bastante a comunidade, sobretudo, através da realização de diversos eventos”. A própria câmara municipal atribuiu recentemente apoios relacionados com o contrato-programa que a autarquia tem com a colectividade, no âmbito dos efeitos provocados pela doença. “O município fez de imediato o desbloqueio do apoio feito às modalidades desportivas, mas relativamente ao resto não contámos com mais ajudas, com excepção do acesso ao lay-off, com acesso das nossas duas colaboradoras, uma vez que fomos mesmo obrigados a encerrar e ainda nem temos previsão de quando poderemos reabrir novamente”, afirmou no final de Junho.
Ainda assim, na mesma altura, o espaço foi alvo de obras de melhoramento do interior da sede. “A intervenção realizada consistiu, basicamente, em dar uma cara mais lavada ao interior da colectividade, que já estava a precisar de uma pintura do salão de entrada e de tapar alguns buracos, entre outras remodelações, com algumas trocas de balcões, tendo sido feita uma limpeza mais profunda na cozinha, porque sabemos que aquando da reabertura temos que ter mais cuidados com a higienização para assegurar que estamos a cumprir com todas as regras da Direcção-Geral de Saúde quando retomarmos a nossa actividade, respeitando todos esses procedimentos, tanto no bar como na cozinha, mas também no ginásio, situado no primeiro piso e no próprio pavilhão”, acrescenta.