Em entrevista a O SETUBALENSE, Sam Pitroda, CEO do Pitroda Group LLC, traça metas para o megaempreendimento de cariz científico e tecnológico no Vale da Rosa
O futuro Aeroporto do Montijo ainda não saiu do papel e já está a ser mote para a região receber um projecto futurístico do investidor internacional Sam Pitroda, proprietário do Pitroda Group LLC. A “Cidade do Conhecimento”, planeada para o Vale da Rosa, estará concluída dentro de três anos, com um investimento total de 800 milhões de euros.
Em entrevista a O SETUBALENSE, a partir do seu escritório em Chicago, o empresário confirma que “o projecto vem elencado com a perspectiva de construção do novo aeroporto no Montijo”. Embora considere que “Setúbal tem capacidade para agarrar a “Cidade do Conhecimento com, ou sem, o novo investimento aeroportuário”, garante.
O projecto entrou agora na fase de definição do Plano Estratégico, com a primeira reunião do Conselho Consultivo e Sam Pitroda está confiante de que não terá o mesmo destino da “Cidade do Conhecimento” proposta para o Cartaxo, em 2009: o arquivo.
Aos 78 anos, o mecenas da tecnologia de ponta afirma que “nada se faz sem vontade política” e em Setúbal o seu grupo empresarial encontrou o apoio que precisava.
Quanto pormenores arquitectónicos e estratégias ambientais para uma zona que inclui áreas de montado e está próxima a depósitos da Metalimex, Sam Pitroda afirma que apenas será possível avançar depois do Conselho Consultivo concluir o Plano Estratégico.
Um grupo de trabalho que, para além de incluir o Pitroda Group LLC e a Câmara Municipal de Setúbal, integra as cinco juntas de freguesia do concelho, a Assembleia Municipal, Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra, AICEP Portugal Global, AISET – Associação da Indústria da Península de Setúbal, Área Metropolitana de Lisboa, BlueBiz Global Park, Centro de Emprego e Formação Profissional de Setúbal, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, Fundação Escola Profissional de Setúbal e Instituto Politécnico de Setúbal.
O projecto está a ser debatido pelo Conselho Consultivo, mas até agora nada se conhece sobre a arquitectura e impacte ambiental. Quando haverá informação objectiva?
Ainda é cedo para isso. Talvez no final deste ano já tenhamos avançado nesse aspecto. O desenho e mesmo a estratégia ambiental depende do número de investidores interessados.
Reconhecemos que a área onde a “Cidade do Conhecimento será implantada inclui uma zona com espécies protegidas, para além de questões que envolvem resíduos.
Mas em Dezembro de 2019 já foi avançado um nome para a arquitectura do projecto.
Sim. Estamos expectantes que o projecto possa contar com a chancela do arquitecto Norman Foster. E esperamos também contar com o talento local, no desenho arquitectónico da cidade.
Então quais são as perspectivas para a “Cidade do Conhecimento” nos próximos meses?
Entramos agora na fase de debate, troca de ideias e avaliação. Só depois de todos esses contributos do Conselho Consultivo poderemos avançar com o desenho do projecto, talvez entre o fim deste ano e o início do próximo haja novidades. Afinal, na minha idade, o tempo é um activo precioso que é importante rentabilizar ao máximo.
E já há investidores interessados em fixar centros de investigação ou empresas nesta cidade do futuro?
Já temos duas propostas, mas é cedo para avançar nomes. Queremos primeiro desenhar o projecto e depois sim apresentá-lo aos investidores interessados, para ver se corresponde realmente às suas expectativas.
Há quanto tempo descobriu Portugal e procura investir aqui, com um projecto desta dimensão?
Descobri Portugal há mais de uma década, através de amigos. Apaixonei-me pelo tempo ameno, cultura e fiquei muito interessado no talento disponível, no mercado de trabalho. As infraestruturas base também foram pontos favoráveis. Deixaram-me muito surpreendido com o potencial do país.
Fiquei ainda mais surpreendido por ver que ninguém estava a avaliar o real potencial de Portugal, nem mesmo os portugueses.
Foi quando, em 2009, propôs avançar com uma “Cidade do Conhecimento” no Cartaxo?
Sim, mas no Cartaxo não encontrei a vontade política que encontrei em Setúbal.
Também faltaram as infraestruturas que iriam alavancar o projecto, quando o aeroporto na Ota deixou de ser uma hipótese viável?
De facto, o sucesso do projecto naquela área dependia das infraestruturas que estavam planeadas, como o aeroporto e consequentes acessibilidades. Sem elas a execução da “Cidade do Conhecimento” no Cartaxo ficou comprometida.
Nesse caso a “Cidade do Conhecimento” passou para a região de Setúbal elencada com a construção do novo aeroporto no Montijo?
A minha equipa de assessoria fez um trabalho de pesquisa sobre as regiões que trariam mais-valias à “Cidade do Conhecimento”. E, sim, a construção do novo aeroporto no Montijo, assim como a perspectiva de construção de novas acessibilidades são razões para a escolha desta região.
Mas o aeroporto no Montijo ainda não está definitivamente decidido. Se o projecto voltar a mudar de lugar a “Cidade do Conhecimento” também muda?
Ao contrário do plano anterior [no Cartaxo], a “Cidade do Conhecimento” em Setúbal será sempre uma boa aposta, devido à proximidade a Lisboa e acessibilidades relativamente boas, que ainda podem ser melhoradas, aproveitando todo o potencial daquilo que já está construído.
Os terrenos do Cartaxo pertenciam a um fundo imobiliário do Banco Português de Negócios. Os do Vale da Rosa também são antigos activos dessa entidade. Há uma intenção deliberada?
Não. As nossas propostas não estão necessariamente dirigidas para negócios com uma entidade bancária em particular. Resultam de pesquisa feita pelos assessores da empresa, sobre o que o mercado tem disponível e que se adequa aos planos do grupo.
Já reuniu com o Governo para debater a execução da “Cidade do Conhecimento” em Setúbal?
O grupo e o Governo têm estado em permanente diálogo, desde que começamos a estabelecer as bases para esta “Cidade do Conhecimento”.
A receptividade do projecto tem sido muito boa. Seja pela representação que Portugal terá a nível internacional, seja pelas áreas de conhecimento que o mesmo permitirá desenvolver.
E que áreas de conhecimento podemos esperar?
Isso dependerá dos investidores que confirmem interesse e firmem protocolo com o grupo. Mas a grande aposta são, sem dúvida, as engenharias e a tecnologia de ponta, que fará parte do futuro da humanidade e evoluirá a partir de maior investigação e produção nessas áreas.
Um talento que Setúbal já tem e com potencial para desenvolver muito mais.
Refere-se à ligação ao Instituto Politécnico de Setúbal?
A todas as instituições académicas locais, [neste caso o Politécnico de Setúbal e o pólo da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa fixado no Monte da Caparica].
Ao nível da investigação científica e produção tecnológica estes são excelentes pontos de partida. Mas, contamos estabelecer ligação a outras instituições académicas, nacionais e internacionais.
Seria extraordinário ter em Setúbal pólos representativos de grandes universidades europeias. A troca de conhecimento seria incrível e Portugal deteria um grande poder de desenvolvimento.
Cartaxo Quando a “Cidade do Conhecimento” ia resolver parte da Ota
Há mais de uma década Sam Pitroda escolheu o Cartaxo para construir uma “Cidade do Conhecimento”. A Câmara Municipal, à época presidida pelo socialista Paulo Caldas, indicou um terreno com 190 hectares, junto ao nós de acesso à A1.
Os terrenos estavam apontados para a construção de acessos ao aeroporto da Ota, mas depois do projecto ser descartado em 2008, perderam interesse estratégico. E pertencem a um fundo imobiliário gerido pelo Banco Efisa, em tempos uma das empresas integradas no Banco Português de Negócios (BPN).
Há semelhança do negócio do Cartaxo, em Setúbal os terrenos onde a “Cidade do Conhecimento” está a ser projectada também são antigos activos do BPN.
Dezasseis anos Depois da “Nova Setúbal”, Vale da Rosa volta a ter investimento
O Vale da Rosa tem agora uma nova oportunidade de requalificação com o conceito da “Cidade do Conhecimento”. O projecto “enquadra-se perfeitamente no Plano Estratégico de Desenvolvimento Setúbal 2026 (PEDS) e na razão do novo Plano Director Municipal (PDM), actualmente em fase de discussão pública”, afirma a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira.
De acordo com a autarca, no PEDS ficou clara a necessidade de um “desenvolvimento, inteligente, sustentável e inclusivo de Setúbal”, com base em investimento externo, “que marque a diferença quer a nível regional como nacional”.
Os terrenos escolhidos para construir a “Cidade do Conhecimento” vão ser adquiridos ao Fundo Imobiliário do Millenium BCP, pelos investidores que venham a estar interessados em integrar o projecto.
Terrenos que perderam interesse estratégico depois do fracasso da “Nova Setúbal”. Esse projecto incluía a construção de uma urbanização, zona comercial e estádio municipal, em terrenos que pertenceram à Pluripar, fundo imobiliário que integrava as empresas do BPN.