Paróquia de Nossa Senhora da Conceição e Socorros Mútuos já asseguraram apoio alimentar. Alojamento também estará prestes a ser resolvido
Há mais de um ano que Jaime João Nunes Couto passa de “pensão em pensão”, sem residência fixa, desde que abandonou a casa onde residia com a esposa, doente oncológica, e o filho, com deficiência mental. “Na época saímos de casa para fugir à violência do meu outro filho, toxicodependente”, recorda Jaime. Agora a família está prestes a ficar sem abrigo, mas vários setubalenses uniram-se em solidariedade para conseguir respostas de emergência.
“Em primeiro lugar, como já não tinha dinheiro para pagar o alojamento na residencial onde estamos a ficar desde a semana passada, estas pessoas, anónimas, angariaram dinheiro para me ajudar com as diárias”, conta Jaime. E, pelo menos, até esta quinta-feira a família tem abrigo.
Entretanto o homem de 61 anos a referiu a O SETUBALNSE que uma assistente social também já entrou em contacto, “para ficar com os dados da família e tentar encontrar um alojamento de emergência”.
Depois do apelo de ajuda passar pelas redes sociais, Setúbal uniu-se e a solidariedade estende-se agora desde a freguesia de São Sebastião ao centro da cidade.
Constantino Alves, padre responsável pela Paróquia de Nossa Senhora da Conceição colocou de imediato ajuda alimentar à disposição desta família.
Em declarações a O SETUBALENSE, Constantino Alves alerta que as situações de ajuda alimentar “têm aumentado progressivamente, devido à pandemia”. A maior parte dos casos são pedidos de imigrantes, “recentemente chegados a Setúbal e que ficaram sem os rendimentos do trabalho precário que tinham”. Mas também há famílias setubalenses, “que antes tinham emprego, com contrato”, refere Constantino Alves.
Para além destas três tipologias de casos, a esta paróquia chegam ainda pedidos de ajuda de “mães que estão sozinhas com filhos a cargo, pessoas em situação fragilizada devido a dependências e idosos com pensões baixas”.
Também a Associação de Socorros Mútuos Setubalense (ASMS) se disponibilizou de imediato para ajudar Jaime. Fernando Paulino, presidente da direcção desta Instituição Particular de Solidariedade Social confirmou ao jornal que “chegou um pedido de ajuda alimentar ao qual a ASMS respondeu com disponibilidade imediata e foram também entregues algumas roupas”. Afinal, “esta também é a nossa missão e podem sempre contar connosco”, comentou Fernando Paulino.
Corrida contra o tempo
Esta segunda-feira Jaime viu-se confrontado com um ultimato. “Tinha de deixar o hotel onde ainda conseguiu pagar algumas diárias até encontrar uma solução para si e para a família”.
Após contacto com o gerente da unidade hoteleira, Vítor Henriques revelou a O SETUBALENSE que “conhece a situação vivida por esta família já há algum tempo” mas, “infelizmente” não pode alugar o quarto “por muito mais tempo”. E não é apenas pelos recursos financeiros que começam a faltar à família, que só conseguiu pagar as últimas diárias com o apoio de vários setubalenses que se uniram para angariar um valor que permitisse a Jaime, Cesarina e o filho continuar na residencial até hoje.
Vítor Henriques comenta que o filho de Jaime e Cesarina “tem uma doença mental e não se encontra bem, ao que parece a medicação nem sempre resulta e tem estado em surto constante com agressões aos pais. Uma situação complicada de manter num hotel e que precisa de ajuda urgente”.
Pandemia trouxe mais fome a Setúbal
Em tempo de pandemia, o padre Constantino Alves contabiliza 85 refeições diárias servidas pela paróquia de Nossa Senhora da Conceição, “antes rondavam as 55”. E para além desta ajuda diária “há ainda os cabazes alimentares entregues entre 240 a 250 pessoas”.
Um encargo pesado para uma paróquia que assume “40% desta despesa”, sendo o restante assegurado pela Segurança Social.
O caso de Jaime é um dos que têm surgido “progressivamente”. Um exemplo de fome que “até há pouco tempo não se impunha”.
Reformado da função pública, Jaime Couto tem uma pensão que ronda os 500,00 euros e também trabalha como assador num restaurante de Setúbal. Foi com esses rendimentos que durante mais de um ano, segundo alega, pagou as diárias das pensões onde residiu. “Mas a com a chegada desta doença, [a Covid-19], o restaurante fechou e durante um tempo não foi possível contar com esse extra”. Mesmo agora, há muitos dias que Jaime não pode ir trabalhar porque a esposa não pode ficar sozinha com o filho deficiente.