Performance conta com “elenco internacional” e descreve situação semelhante à que vivemos actualmente
De voltas trocadas, mas com vontade de criar, o Teatro Estúdio Fontenova, numa co-produção com a Casa da Cultura de Setúbal, decidiu estrear “Doença Branca”. Inspirada no texto do dramaturgo checo Karel Čapek, escrito em 1937, a performance, transmitida online, retracta uma situação idêntica à que estamos a viver, na qual uma pandemia assolou o mundo.
“A ideia surgiu ao revisitar o dramaturgo checo Karel Čapek, do qual fizemos em Outubro o espectáculo “Robots Universais Rossum”, e da vontade de unir um elenco internacional, cruzando o diálogo intercultural e quebrando as fronteiras da linguagem”, começa por dizer Patrícia Pereira Paixão, uma das responsáveis pela tradução, dramaturgia, interpretação e co-criação de “Doença Branca”, a O SETUBALENSE. “(In)felizmente, este contexto de pandemia foi a incubadora ideal para a realização: o tema, a vontade de criar e experimentar a tecnologia de forma diferente”, adianta.
“A resiliência existe na arte”
Algumas vozes levantaram-se quando as companhias se viram suspensas e começaram a colocar espectáculos online, considerando que não era teatro pois precisa de palco e público. “Não discordamos, mas a vontade de criar não morreu”, refere. “Por muitos dos colegas se encontrarem em situações precárias, decidimos convidar pessoas para quem pudéssemos contribuir a nível de estabilidade. O público pode contribuir e o valor irá para o elenco não fixo do Teatro Estúdio Fontenova”.
A companhia garante que o facto de a transmissão online poder correr mal não os demove: “não é o teatro de uma sala de espectáculo nem é cinema porque não tem a edição de imagem e recursos tecnológicos, mas podem esperar entrega. É uma forma de mostrar que a resiliência existe também na arte e que a criação pode acontecer com algum humor e crítica social”.
Retrato (quase) fiel dos tempos actuais
Curiosamente, a pandemia descrita por Čapek tinha origem na China e infectava sobretudo pessoas acima dos 45 anos. Nesta encenação, definida como “uma expressão, uma manifestação”, o TEF reuniu intérpretes de diferentes localizações que já tinham colaborado com o Teatro Estúdio Fontenova ou estado presentes no Festival Internacional de Teatro de Setúbal. “Assim como a pandemia é global, também esta encenação o será”, explica. O trabalho começou há cerca de um mês e meio e “o resultado foi o de uma co-criação, onde cada um trouxe algo à performance”.
Com exibições no sábado e no domingo, pelas 19h00, transmitidas no Facebook, seguidas de uma conversa com o elenco via Zoom, a performance conta com tradução de Eduardo Dias e Patrícia Pereira Paixão, dramaturgia de Anna Luňáková, Eduardo Dias e Patrícia Pereira Paixão, interpretação e co-criação de Anna Luňáková, Patrícia Pereira Paixão, Eduardo Dias, Carlos Pereira e Fábio Nóbrega Vaz, Ines Adan e Lupe Leal, operação técnica de Leonardo Silva e imagem e design de comunicação de Flávia Rodrigues Piątkiewicz.